quarta-feira, 23 de maio de 2007

Equipa do Ano

Agora que acabou o campeonato, quero eleger aqui os melhores da Liga Portuguesa.

Guarda-Redes: Hélton.
Defesa Direito: Bosingwa.
Defesa Esquerdo: Tello.
Defesas Centrais: Polga e Ricardo Rocha.
Médio Defensivo: Miguel Veloso.
Médios Ofensivos: Moutinho e Romagnoli.
Extremos: Quaresma e Simão.
Avançado: Miccoli.

Menções Honrosas/Revelações:

Guarda-Redes: Quim
Defesa Direito: Nélson.
Defesa Esquerdo: Antunes.
Centrais: Rodriguez e Pepe.
Médio Defensivo: Katsouranis.
Médios Ofensivos: Rui Costa e Lucho González.
Extremos: Lisandro e Nani.
Avançado: Linz.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Sentir Dez...

No futebol, como tudo na vida, todos são importantes. Por todos tenho: jogadores, staff técnico, dirigentes, adeptos, árbitos, etc. Mas todos concordamos, que uma grande fatia, se não mesmo a maior, do fascínio do futebol, "assenta" nos jogadores. E o mesmo princípio repete-se. Todos, desde o guarda-redes, até ao ponta de lança, são importantes para o desempenho da respectiva equipa. Nada de novo.

Mas o assunto que me "empurra" para estas palavras, é muito menos harmonioso.
Falo da prerrogativa de ser DEZ. Este privilégio nada tem a ver com o dorsal que qualquer jogador pode ostentar - já chegamos ao cúmulo de um guarda-redes o usar -, mas sim com um sentir "diferente" o futebol, aliado a uma perspectiva muito sua. Muito nossa.
Se se pudesse escolher, muitos optariam por ser dez. Os que me dizem que não é assim, decerto que o fazem por frustração. Mas o que é afinal ser Dez?

Ser Dez, não se reduz apenas à posição que se ocupa. Jogadores há que ocupam essa posição durante toda sua carreira, sem nunca o serem.
Uma relação especial com o futebol, e com a bola. Uma maneira diferente. Romântica. Apaixonada. Não é o que faz dentro de campo, mas sim como o faz.
Cuida da bola como se de uma amante se tratasse. Sedu-la, acaricia-a, ama-a. Mesmo quando aparenta tratá-la com violência, não nos esqueçamos que uma palmada fica sempre bem...
É ser orgulhoso, vaidoso, de alguma forma até malicioso. Não procura a forma mais fácil de jogar, mas sim a que mais prazer lhe proporciona. Porque ser dez, acima de tudo é um prazer. O prazer de ser diferente, nem melhor, nem pior, apenas... diferente.
No seu crescimento, na sua maturação, até pode aceitar ser desviado do seu papel de príncipe na equipa, tal como pode parecer submisso ao conceito generalista das boas maneiras. Qual borboleta que nasce de uma larva, este ser de excepção, quando se emancipa demonstra o seu real carácter. Umas vezes dará a impressão de ser arrogante. Outras de ser um perfeito egoísta. Mas o facto é que o genuíno Dez na sua definição, é-o. Não se deve subjugar o seu fado às necessidades da equipa. Antes pelo contrário. As equipas, as que tem o privilégio de contar com um jogador assim, devem, da melhor forma possível, retirar o máximo proveito do mesmo.

"Sentir Dez" não se trata de golos, não se trata de espírito de sacrifício. É uma arte, e como tal, mascara-se de fútil. Quando se acusa esta selecção de jogadores de adornar os lances, fazendo deste facto uma opção consciente, comete-se uma tremenda injustiça. Eles não a têm. O futebol "romântico" está-lhe embutido nos genes. No conceito de bom futebol comete-se o erro de generalizar. Diz-se muitas vezes que a beleza do futebol consiste em jogar simples, que isso sim é que é complicado. Que isso sim, é que torna o futebol bonito, fluido, estimulante. A estes respondo: não me estou a referir a um trinco. A beleza de movimentos de um Dez está no facto de dissimular o complicado de simples; a facilidade com que executa os mais complicados movimentos, quer na concepção, quer na execução.
O futebol moderno não se compadece com este tipo de jogadores. Outra excelente tirada. Claro que não, até porque pressupõe-se que com a evolução tudo se torne mais banal, e menos inteligível. Perdendo a beleza espaço nesse estado. Claro. Peguemos no caso da raça humana. Todos nós sabemos que o Homo heidelbergensis, do periodo do Pleistoceno, era mais bonito, e mais complexo que seu sucessor, o homo sapiens. Este quando evoluiu tornou os seus processos muito mais simples. Exacto.
Não consigo compreender como se pode catalogar este tipo de jogadores, que se distinguem pela sua inteligência, e elegância de movimentos, de alguma forma "obsoletos". A verdade é que cada vez existem menos. Sim, mas Jardim também foi novamente eleito. E onde é que isso prova que ele é uma pessoa idónea? Não prova, da mesma forma que o facto do desaparecimento deste tipo de jogadores, poderá significar que talvez o futebol esteja a tomar o rumo errado, talvez...



É tão genuíno como o riso de uma criança, tão profundo como a lágrima que acompanha a derradeira despedida de alguém que se ama.

O futebol, por muito que o neguem, não é resultados. Muitos nem sabem o que é, e por isso associam as vitórias à sua paixão por este desporto. Que não é apenas mais um.

O futebol na sua essência, na sua plenitude, é demasiado magnânimo para por todos ser convenientemente interpretado e dignificado, na plenitude das suas feições. E "sentir Dez" é isso mesmo. Acima de tudo defender o futebol, enquanto algo que se transcende para além de um mero desporto. Sem qualquer tipo de subserviência para com os resultados, ideolgias técnicas, nada. Apenas lhe interessa a arte subjacente no mesmo. Por isso resistem, e teimam em fazer sonhar, encantar, e despertar paixão...

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Árbitros (1)

Gosto de contestar as regras, sobretudo quando não fazem sentido nenhum. Ontem, vi um grande espectáculo ser estragado porque um certo árbitro não teve miolos para perceber que, às vezes, se devem fechar os olhos ao que ditam as regras. Que não queiram mudá-las, tudo bem. Mas um árbitro não deve ser um papel químico. Deve conhecer as regras, mas não para aplicá-las tacitamente. Tem que saber interpretá-las. Por exemplo, uma das coisas mais ridículas no futebol, que não tem nada a ver com o que se passou ontem, é a exigência tola dos árbitros em relação aos equipamentos. "Ó jogador, a camisola para dentro dos calções!" - dizem. Nem sequer se dão ao trabalho de pensar. A camisola não deve estar dentro dos calções por uma questão de etiqueta. Deve estar dentro dos calções para se distinguir dos calções, para permitir uma diferença de cor e facilitar o trabalho do árbitro em lances confusos. Logo, num equipamento em que os calções são iguais à camisola, essa exigência não faz sentido. É até despótica. E o mesmo se passa quando a camisola tapa apenas uma parte insignificante dos calções. Um árbitro que se preocupa com isto não me merece respeito. Significa que está demasiado preocupado com pormenores irrelevantes e que não tem inteligência para perceber a irrelevância dessa preocupação. E um árbitro que não é inteligente não interpreta leis, segue-as à risca. E dá no que deu ontem...

Aos 17 minutos, Klose finta um adversário e simula uma falta. Fora da área. Simulação inequívoca, nada a dizer. Manda a lei que o jogador veja o amarelo nessas situações. Perguntemo-nos: faz sentido? A resposta, para quem tem mais que um neurónio, é evidente. Não, não faz. Klose, assim que caiu, levantou-se apressadamente e, de cabeça baixa, recuperou a posição. Não refilou, não pediu nada por aquele acto. Sabia o que fizera e teve a honestidade de não exigir algo que sabia que não acontecera. Respeito isso. E o árbitro também deveria ter respeitado. Se o jogador não protestou, é porque não tentou iludir ninguém. Muitas vezes, uma simulação não passa de um acto instintivo. Muitas vezes, um jogador apercebe-se da proximidade de um adversário e, imaginando um contacto, reage antecipando a queda. Uma acção involuntária destas é facilmente explicada. Serve para se proteger, para preparar uma colisão, para não se aleijar na queda. E não é necessariamente deliberada. Pode ser um acto inconsciente. O que interessa aqui é que, conscientemente ou não, Klose simulou uma falta, mas não pediu nada por ela. Como tal, não deveria ter visto o amarelo, que foi o segundo. O árbitro seguiu a lei, não a interpretou. Não interpretar leis é coisa de ditadores e de estúpidos. Um árbitro como o de ontem, e como a generalidade dos árbitros, reúne as duas qualidades. Aos 17 minutos, o Werder Bremen ficou reduzido a 10 unidades, numa altura em que já ganhava por 1-0, que massacrava. E massacrou, ainda assim, o resto da primeira parte. O Espanhol não chegou uma única vez à baliza dos alemães. Não fosse aquela expulsão, o Werder Bremen chegaria ao intervalo, com relativa certeza, com a eliminatória empatada. Mas um árbitro, um simples e reles árbitro, que deveria ter a incumbência de proteger o espectáculo, deitou por terra as ambições germânicas e estragou o jogo. Mais tarde, mostraria um cartão amarelo a Hugo Almeida por protestos do português, mas não admoestaria entradas a matar de parte a parte. Gostaria de saber o que é que ganham os árbitros ao punirem protestos. Duvido que aquele árbitro ontem tenha percebido uma palavra do que disse o Hugo Almeida. Contudo, o português vociferou e gesticulou energicamente. Foi punido por ter energia e falar alto. Se calhar também cheirava mal da boca. É idiota. É outra das leis que não faz sentido. Uma das coisas, talvez a única, que admiro nos árbitros ingleses é o facto de deixarem toda a gente protestar como bem lhes apetece. Vemos, muitas vezes, os jogadores a gritarem com os árbitros. E que tem isso de mal? Estão a desrespeitar alguém? Não. Expressar sentimentos, insatisfação, desapreço, faz parte do jogo. Esses momentos de descontrolo fazem parte do jogo. São parte integrante da emoção do mesmo. Punir protestos é ridículo! É exactamente o mesmo que punir um jogador por festejar um golo gritando de alegria. É punir alguém por manifestar um estado de espírito. Não aceito isso. Mas, lá está, a lei diz que se deve punir. Acrescento eu - a lei está errada...

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Outro "Mito"...

Falo do mito que se criou em redor do trinco, médio defensivo, número seis, etc...
Deve ser um jogador em que destacam as seguintes características: garra, pulmão, agressividade, e disponibilidade para correr quilómetros. Petit, por exemplo, será o paradigma desta definição. Concordo, que numa equipa pequena, quer a nível social, como ideológico, realmente este tipo de definição seja correcto. Numa equipa de dimensão ofensiva esta definição torna-se falaciosa.

Pirlo, Redondo, Sousa, Guardiola... Nos últimos anos, alguém me consegue apresentar um médio defensivo com mais qualidade que eles? Algum melhor? Albertini, também era bom. Mas não tinha o nível destes. Mas nenhum deles se destacavam nos aspectos acima referidos. Qualidade de passe, visão de jogo, inteligência... Mas não eram, nem de perto, nem de longe, "raçudos", tão pouco se destacavam ( e destacam) pelas maratonas realizadas dentro de campo. E pego nestes jogadores porque se enquadram, totalmente, no que pretendo de um médio defensivo. No futebol que preconizo, o médio defensivo, por paradoxal que pareça, é, acima de tudo, a âncora do futebol atacante da sua equipa. A partir da sua localização, devemos partir para as transições ofensivas, de uma forma apoiada. Deve partir dele o primeiro traço, ainda que de uma forma suave, para um quadro que se deseja belo. Não espero que faça maravilhas com a bola, antes que seja rápido no seu endosso, e perspicaz na avaliação das opções de passe, considerando os riscos que a equipa, no momento, deve ou não correr.
Um grande médio defensivo, de uma grande equipa, correr muito é mau sinal. Este facto pode funcionar até como um delator de um erro, quer no modelo do jogo, quer de uma má associação entre os vários sectores. Por exemplo, um desiquilíbrio causado por um lateral, que ao subir desguarnece o sector defensivo, obriga este elemento a compensar essa acção, na maior parte das vezes. O ser este elemento responsável por este equilíbrio, não está em causa. Uns poderão concordar, outros nem por isso. Mas mais importante que este pormenor, é o facto de que esta situação, tornando-se repetitiva, demonstra que alguma coisa vai mal nas transiçoes atacantes da equipa. Seja o lateral que não respeita a cadência certa para se integrar no ataque, ou porque a equipa não está a aproveitar a sua presença da melhor forma... Enfim, podem ser vários motivos... Mas este facto vai levar a que o trinco se desgate. Da mesma forma que o nosso cérebro, ao detectar uma descida do nível de açúcar no sangue, cria uma estratégia que passa por nos conduzir a um estado de fome, levando-nos a comer, se nos concentrármos apenas no médio defensivo de uma equipa, conseguimos nos aperceber, atravéz da sua movimentação, do que vai mal, ou bem, nessa mesma equipa...

É importante perceber que a missão de um trinco, é muito mais que o ocupar de espaços, e interceptar linhas de passe. A sua movimentação é fundamental para o posicionamento, e atitude da equipa. Mais do que um guerreiro, tem de ser um estratega. Ou então não. Perguntem antes ao Jaime Pacheco...

Diego

Ainda que os separem quase quatro séculos, comunga com o grande pintor o nome próprio e a perfeição de movimentos. Velázquez ficou para a história como um dos pintores mais geniais; o traço, um dos mais perfeitos. Há alguns anos, outro Diego deixou o seu nome gravado nos anais da História. Disseram que foi um dos melhores de sempre, no futebol. Arriscaria a dizer que não houve, não há, nem haverá quem se lhe tenha comparado como futebolista. O terceiro Diego, um que surge agora, no virar do século, e de quem me apraz falar sem moderações, possui o mesmo divino dom para encantar. Joga com paixão, com arte, como se valsasse. Tudo é tão simples, nele. Os movimentos são de uma estrepitosa correcção. Tem com a bola uma relação facílima: ao contrário de muitos, ela é para ele a melhor amiga. Trata-a bem e ela trata-o bem. E de pensar que houve quem o não quisesse...

Diego faz maravilhas. Faz jogar uma equipa inteira e pode desequilibrar individualmente com a facilidade de quem caminha. Há poucos, muito poucos assim. Aliás, hoje em dia a tendência é deixar de existirem jogadores apaixonantes como ele. Talvez por isso, passou pelo futebol português sem que lhe percebessem a excepcionalidade. Correr como correram com ele não é só estupidez; é ingratidão para com o futebol. Ignorar um talento como o dele é de quem percebe pouco, muito pouco, de futebol. Co Adriaanse esqueceu-o no banco, mesmo numa equipa virada para o ataque. Preferiu a correcção de Lucho Gonzaléz e a estabilidade de outros. Foi campeão e, por isso, ninguém o criticou. Ainda que Diego, sempre que tenha jogado, tenha sido dos melhores em campo. O Porto, com ele, era sempre mais equipa; era sempre imprevisível. Antes, marcou golos ao alcance de poucos, como aquele contra o Chelsea, que permitiu aos Dragões permanecer na Liga dos Campeões. Executou passes de 50 metros com precisão de relojoeiro; deixou babados os adeptos de futebol enquanto arte. Lembro com saudades certas exibições inolvidáveis, como uma contra o Belenenses, na qual, depois de jogar mais que toda a equipa adversária junta, isolou Benny McCarthy com um passe de letra. Bailou enquanto jogou e, ainda assim, não convenceu. Sem glória, perdeu o carinho dos adeptos. Pouco apreciado, decidiu partir. E ninguém, por aquela altura, sentiu falta dele. Ninguém, excepto eu. E excepto quem gosta mesmo de futebol.

Os portistas depressa o esqueceram. Diziam que tinham agora outro brasileiro bem melhor. Falavam de Anderson. Tolos. Não sabem o que dizem. Compará-los é ridículo. Diego é, provavelmente o melhor jogador da sua geração, talvez a par de Robinho. Juntos, em precoces idades, ganharam no Santos o campeonato. Ainda não esqueci, também, como Diego conquistou para o Brasil uma Copa América. A perder com a Argentina por 2-1, a "Canarinha" decidiu começar a bombear bolas para a área, na esperança de que Adriano ou Luis Fabiano resolvessem. Sem sucesso algum. Até que entrou Diego. O miúdo, caloiro naquelas andanças, não pediu ordens para mudar tudo. Pegou na bola e não a pontapeou sem nexo como os outros. Os argentinos estranharam. Sairam-lhe ao encalço. Driblou dois, progrediu e, já perto da entrada da área, fez um cruzamento observando a posição dos colegas e colocou a bola, finalmente jogável, nos pés de Adriano. Este, depois, resolveu. E o Brasil acabaria mesmo por vencer a Copa. Anderson até pode chegar ao nível de Diego, um dia. Mas, para já, ainda não provou nada. É igualmente dos mais talentosos da sua geração. Mas - arrisco eu - não tem a classe e a inteligência do primeiro. É mais explosivo, atleticamente superior, rapidíssimo. Mas não possui ideias suficientemente esclarecidas para se tornar um grande jogador. Talvez dê um bom extremo, ou um avançado móvel. Nunca um médio ofensivo. Ao fim de um ano de ausência e também porque agora é imprescindível no Werder Bremen e anda a espalhar talento pela Europa, os portistas começam a sentir saudades. Agora é fácil de reconhecer que ele faz falta - digo eu. E é tarde para se arrependerem...

O futebol português é extraordinariamente contraditório. Por um lado, é reconhecido em todo o mundo como um futebol com apetência para criar jogadores habilidosos. Por outro, nenhum outro futebol desperdiça tantos talentos. Talvez seja da abundância. Não sei. A verdade é que passam por Portugal jogadores fascinantes em quem ninguém pega. E não consigo perceber porquê. Será da estupidez dos dirigentes, da ignorância dos treinadores? Francamente, não se percebe. Quando se tratam de sul-americanos, costumam dar a desculpa esfarrapada de que não se conseguem adaptar ao futebol europeu. Que patetice! Consigo dizer tantos e tantos nomes de jogadores que não vingaram em Portugal e que foram dar espectáculo lá para fora ou que tinham condições para o fazer... Apetece-me lembrar, além de Diego, de Mostovoi, de Roger, de Romagnoli (embora este final de época possa salvar aquilo que a meio da época parecia inevitável) e ainda de dois jogadores que, pelo que fizeram o ano passado no Guimarães, não entendo como não convenceram nenhum dos três grandes: Benachour e Saganowsky.

Enfim, não deixaram Diego brilhar aqui, foi para norte e brilhou lá. Entretanto, já é dos habitualmente convocados para a selecção. Não houvesse Kaká e talvez fosse mesmo titular do Brasil. Não tardará a sê-lo. É demasiado perfeito para não jogar ao mais alto nível. Hoje, dia em que se joga a segunda mão das meias-finais da UEFA, Diego tem a missão quase impossível de fazer com que o Bremen vire uma eliminatória cuja primeira mão deixou os alemães quase eliminados, após uma humilhante derrota por 3-0 ante o Espanyol. Se há equipa capaz de o fazer, é uma que tenha jogadores extraordinários. E Diego é extraordinário. Portanto, talvez seja possível... E ainda que não esteja onde merece este ano, na final, Diego estará onde merece daqui a alguns anos. Estou profundamente convencido disso. E nem a estultícia de quem anda no futebol poderá impedir que ele assim o consiga.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Certezas (2)

A cara de miúdo não engana: é ainda júnior. É, porém, como outros das escolas do Sporting, precocemente talentoso. Muito adulto a jogar, faz lembrar João Moutinho na dedicação ao grupo. Abnegado, põe de lado o talento individual, a extraordinária capacidade de explosão, a velocidade, as correrias desenfreadas com bola, e opta por tentar aprender, ainda verde, a arte de jogar colectivamente. Por causa disso, passa, para já, despercebido. E os idiotas apupam-no, chamam-lhe nomes, duvidam da sua qualidade, põem em causa o seu valor. Fizeram o mesmo quando Hugo Viana se tentou transformar enquanto jogador, quando deixou de praticar o futebol demasiado objectivo que sempre praticara para se melhorar. Não percebem, como não perceberam na altura, o que é um jogador numa fase de aprendizagem, de adaptação. Não se pode avaliá-lo só por isso. Um jogador em transformação está longe de ser perfeito. Para se saber o que vale, seria preciso tê-lo visto jogar entre os seus, despreocupado. Aí, era rei. O ano passado, na equipa júnior do Sporting, era dos poucos juniores de primeiro ano que tinha lugar indiscutível na equipa. Tanto do lado direito do meio-campo, onde trocava as voltas aos laterais contrários, partia rins, fazia comer pó aos adversários, como no meio, onde pautava com classe o jogo da equipa, era eficaz. Já esta época, o primeiro teste entre os adultos. Na segunda liga, foi aprovado com distinção. Entre os grandes, calado, aparentemente tímido, fintava, arrancava, voltava a fintar, fazia passes de morte, cruzamentos perfeitos. E tudo com uma perfeição invejável. Uma das coisas mais impressionantes é a sua humildade. Leva porrada, não resmunga. Concentrado, prossegue o seu jogo. Sabe a qualidade que possui e não duvida dela. Não tardará a calar muita gente. No um para um, é fortíssimo e, embora não tendo a espectacularidade de outros, como Ronaldo ou Quaresma, tem a elegância de movimentos de Figo ou Dani. Tem uma mudança de velocidade estonteante e uma inteligência fora do comum. Ousei pensar, num momento de audácia, que Portugal tinha descoberto o seu Zidane. Não sei se o será. Nem sei se, no futuro, será nessa posição que se destacará. Sei, isso sim, que não demorará a fazê-lo. Ou como extremo, ou como médio de ataque, será uma referência do futebol português na próxima década. Disso não tenho quaisquer dúvidas. E o que mais me agrada é que o terei afirmado antes da grande maioria. Quando outros o reconhecerem, já eu terei firmado a minha certeza há muito, e não há prémio maior que essa satisfação. Esperem para ver e, por enquanto, deixem crescer o... Bruno Pereirinha...

Tácticas (1) - O Bife

Antes de começar, devo avisar o leitor que esta é uma rubrica séria. Estava pensada para falar sobre tácticas, sobre o 442, o 433, por exemplo, e a seu tempo esse será o intuito. Hoje, porém, tinha o sono trocado e decidi escrever um texto... vá lá... trocado... E quero falar dessa táctica maravilhosa que é... o Bife...

Quem é a grande mente por trás deste sistema? Aquele que ficou conhecido, enquanto jogador, pelo pontapé-canhão e que, enquanto treinador, ambicionará, por certo, o epíteto de cérebro-canhão: a cada sinapse, uma bomba de ideias... e cheiro a queimado... Falo obviamente de Ronald Koeman. O timoneiro holandês, que noutra vida terá afundado cada navio que comandava, chegou a época passada à Luz e fez um trabalho - chamemos-lhe assim - esquisito. Deixou a equipa em terceiro, nada que outros treinadores não tivessem feito, e levou-a até aos quartos de final da Champions, feito pelo qual se pensava na sua renovação. Antes que mudassem de ideias, preferiu abandonar o navio e voltar a casa, não fosse a segunda época correr ainda pior. Disseram - e ainda dizem - que é de aplaudir o que obteve. Não consigo entender porquê. Devo lembrar que um homem não é aquilo que alcança, mas a forma como o faz. É muito mais fácil ser culto de terno e gravata, ou ser justo e bom se tiver o que comer. Não me apetece enumerar todos os treinadores que ganharam coisas em clubes que tinham possibilidades de o fazer, mas que nem por isso têm qualquer mérito. Quer dizer, até me apetece. António Oliveira, Artur Jorge, Alex Ferguson, Del Bosque, etc. Fiquemos por aqui. Bom, não falemos do campeonato. Na Liga dos Campeões, Koeman chegou aos quartos de final. Como? Retrocedamos um pouco. A duas jornadas do fim da primeira fase, estava em último no grupo, com 4 pontos. O Lille e o Manchester tinham 5 pontos, o Villareal 6. Acontece então que o holandês se lembra de ir a França jogar - pasmem-se - à defesa. O último classificado, a duas jornadas do fim, com uma equipa francamente acessível, vai ao reduto destes à procura do 0-0. E conseguiu-o. Como é que ele fez isto? Com 2 centrais, 4 laterais e 3 trincos. Inaudito! Com que intenção fez Koeman isto? Simples. Deixar a decisão do grupo para a última jornada, altura em que o Benfica recebia o Manchester. O que o cérebro de Koeman não conseguiu atingir foi que, nessa mesma noite, caso o Manchester vencesse em casa o Villareal, algo francamente provável, a passagem na eliminatória já não dependia somente da sua equipa. Ou melhor, poderia depender, mas teria de ganhar o jogo por mais de 1 golo de diferença. Acontece, porém, que Manchester e Villareal empatam. Sai a sorte grande ao holandês. Agora bastaria vencer o Manchester pela margem mínima, coisa que qualquer clube no mundo deve ambicionar, sobretudo um que joga com 3 médios defensivos. E o que aconteceu? Ganhou mesmo. Como? Com 20 minutos bons e 70 de pontapé para a bancada, contra uns ingleses desinspiradíssimos. Nos oitavos, o poderoso Liverpool. Não poderia ter calhado melhor. Uma equipa inglesa, muito equilibrada defensivamente, mas sem ponta de criatividade, que pratica um futebol directo, ideal para os defesas do Benfica, altos e bons no jogo aéreo. Num lance de bola parada, um golo, e 1-0 na primeira eliminatória, num jogo paupérrimo de lado a lado. Com esta configuração, o Liverpool tinha de ir à procura de um golo, coisa em que não é, de todo, uma equipa capaz. Fê-lo. Enviou 2 bolas ao poste. Depois o Benfica fez um golo... e acabou a eliminatória. Ainda haveria de marcar mais um, deixando para a história um total de 3-0 ao Liverpool, coisa que os estultos gostam de lembrar, imaginando tratar-se de um feito louvável. Chegou aos quartos de final e, por esta altura, nem toda a sorte do mundo lhe poderia valer. Ainda conseguiu adiar as decisões para o segundo jogo, mas Ronaldinho e companhia não deixaram os créditos por mãos alheias. No final, campanha interessante, ao colocar o Benfica honrosamente entre os últimos oito.

Já esta época, Koeman herdou o melhor plantel holandês, a equipa mais equilibrada, fruto de um trabalho bem conseguido por Hiddink. Levou novamente a sua equipa aos quartos de final da Champions. Vejamos como o fez. Na fase de grupos, Liverpool, Galatasary e Bordéus. Resultado: segundo lugar. Nada de extraordinário. Nos oitavos, enfrenta o Arsenal, finalista vencido da edição anterior. Consegue um bom resultado em casa, vencendo por 1-0. Na segunda eliminatória, voltava a precisar apenas de um golo. O Arsenal massacrou, massacrou, massacrou. Enviou bolas ao poste, bolas ao poste, bolas ao poste... Até que conseguiu marcar um golo. Mas, já no final, de novo num lance de bola parada, a sorte sorriu uma vez mais a Koeman, e o PSV passou aos quartos. O que aconteceu aqui? Foi cilindrado pelo Liverpool. E no campeonato? Bom, no campeonato chegou a ter onze pontos de avanço. E como qualquer treinador de sucesso, desperdiça onze pontos para dar emoção à coisa e parte para a última jornada em terceiro, a depender dos outros, como gosta. Van Gaal consegue perder a liderança do campeonato e a mais que provável vitória do mesmo, perdendo o desafio. Já o Ajax, ganhou. Mas o PSV de Koeman também ganhou e os dois ficaram empatados pontualmente. Como decidir então quem era campeão? Recorrendo à prática comum e - arrogo dizê-lo - a mais justa, desempatando através do registo do confronto entre as duas equipas em questão? Não, nada disso. Se assim fosse, o Ajax, que tinha esmagado não há muito tempo o PSV com esclarecedores 5-1, seria campeão. Na Holanda, o primeiro factor de desempate é a diferença entre golos marcados e sofridos e, feitas as contas, o PSV tinha mais um golo que o Ajax. Koeman sagrou-se campeão por um golo. Feito notável, para quem tinha a melhor equipa, o clube mais estável, e onze pontos de avanço...

Em dois anos, Koeman conseguiu ganhar o respeito de quem acompanha o futebol. De quem acompanha mal, acrescento eu. Feitos e títulos não são certificados de habilitações. Koeman atingiu o que atingiu sempre a par da sorte, esse elemento tão previsível. Confesso que não vi o PSV jogar senão contra o Liverpool. Mas vi o que fez no Benfica e tudo indica que não mudou muito. Tacticamente, é um horror. Preferir 3 médios defensivos numa equipa grande é, na minha opinião, uma demonstração inequívoca de falta de categoria. Há quem me diga que são gostos. Talvez sejam, mas os gostos também se discutem, ao contrário do que se pensa. Poderia chamar muita coisa ao sistema táctico empregado por Koeman: leite, vaca, etc... Prefiro chamar-lhe bife... São gostos. Koeman também quis dispensar Nuno Assis, esqueceu-se de Karagounis e recusou a contratação de Van der Vaart. Preferiu o Beto para número 10. São gostos...