domingo, 30 de setembro de 2007

Dúvida do Mês e Piada Fraquinha

1. Não dá mesmo para naturalizar o Polga?

2. Em estágio, enquanto almoçam, conversa entre Paulo Bento e Pedro Barbosa.
Bento: A comida está um bocado ensossa!
Barbosa: Queres o saleiro?
Bento: Não preciso. Tenho o Liedson...

Curtas da Taça da Liga e da Jornada 6 da Superliga

Curtas da Taça da Liga, por Gonçalo:

1. Duas coisas que o Fátima tem melhor que o Sporting: o relvado e o ponta-de-lança.

2. Jesualdo diz que é preciso ter cuidado com o Fátima, recorda o desaire ante o Atlético e depois apresenta uma equipa integralmente diferente da equipa principal. Ou não queria mesmo ganhar, ou tem memória de peixe-balão.

Curtas da Jornada 6 da Superliga, por Nuno:

3. Sem exagerar rigorosamente nada, Romagnoli faz mais cuecas por jogo do que Liedson acerta passes em 90 minutos.

4. Camacho falava a sério quando disse que queria um dos três primeiros lugares. Mal colocado na liga, a jogar em casa, não arrisca um milímetro e troca jogador por jogador. Para quem ambiciona um dos três primeiros lugares, sem dúvida que é bom empatar em casa com uma equipa que ambiciona o primeiro.

5. Jaime Pacheco, no final do derby da Invicta, disse que já viu antigos campeões europeus jogar no Dragão mais à defesa que o Boavista. Mas disse mais: disse que o seu plano foi - e passo a citar - "jogámos no sistema habitual, o 4x3x3, e tentámos que quando o F.C. Porto saísse para o ataque o Edgar marcasse o Paulo Assunção, tentando com isso ganhar superioridade no meio-campo, porque o Fleurival marcava Raul Meireles, o Diakité marcava o Lucho e o Jorge Ribeiro ficava livre." Justificou depois a má primeira parte dizendo que o problema foi que - e volto a citar - "demos muito espaço, fizemos marcações a quilómetros, não a centímetros." Coisas que Jaime Pacheco não sabe: 1) Não sabe que provocar José Mourinho, por si só, é estúpido. 2) Não sabe que provocar José Mourinho, quando se treina o Boavista, é ainda mais estúpido. 3) Não sabe que provocar José Mourinho na semana em que este ganhou mais dinheiro num dia do que Jaime Pacheco em 70 vidas, é um pouco mais estúpido ainda. 4) Não sabe que provocar José Mourinho, alegando que não jogou à defesa, mas declarando que o seu plano era fazer marcações individuais a todos os jogadores do adversário, é das coisas mais estúpidas que se podem dizer. 5) Não sabe que, ao justificar a derrota confessando erros nos processos defensivos, é sintoma de que só pensou em defender. 6) Não sabe o que é um 4x3x3. 7) Não sabe que, não tendo condições para se armar em bom, deveria ser humilde.

6. Neste artigo, lê-se a seguinte conclusão: Com Pedro Henriques, está aberto caminho para um «derby» sem casos. Tiro em cheio: porta-aviões ao fundo. À margem da má arbitragem deste Sábado, discordo dos argumentos que são utilizados a favor do tipo de arbitragem de Pedro Henriques. Estou à vontade para fazê-lo, sem que pareça que o faço no momento conveniente, ou seja, depois do descalabro de ontem, porque sempre fui contra o estilo de apitar inglês, como o escrevi aqui, e tinha inclusivamente um texto sobre o tema preparado antes do jogo de ontem, precisamente em resposta ao dito artigo, e que só por manifesta falta de tempo não pude publicar. Adiante. Diz-se que "defende o espectáculo em detrimento do jogo mastigado por constantes interrupções". Mas quem é ele para decidir se o jogo tem constantes interrupções? Se há faltas, ele está lá para as marcar. Não tem autoridade para infringir as regras em favor de um jogo menos "mastigado por constantes interrupções". E defende o espectáculo como? Permitindo que a força tenha mais poder que a técnica? Que espectáculo é que ele defende? Futebol não é, de certeza. E defender o espectáculo não deveria ser sinónimo de defender os artistas? E é permitindo que os brutos, os que não têm habilidade nem inteligência, se equiparem aos talentosos que ele defende os artistas? Ao contrário, portanto, do título do artigo, Pedro Henriques era uma escolha contornável.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

O meu ódio de estimação...

10 razões que me levam a odiar o Liedson:



1ª - Corta mais jogadas de ataque da sua equipa que a equipa adversária.

2ª - Tem quase tantos golos em 4 épocas e meia como foras-de-jogo num só jogo.

3ª- É BURRO!

4ª - Consegue "cavar" tantos amarelos para a equipa adversária como para a sua própria equipa.

5ª - Joga no meu clube.

6ª - É BURRO!

7ª - Foi o primeiro jogador a iludir um país inteiro. Sendo esforçado conseguiu convencer toda a gente que trabalhava muito. ( este ponto não sei se é da inteira responsabilidade dele...)

8º - Perde mais tempo a chatear os colegas de equipa quando estes não lhe endossam o esférico do que a festejar golos.

9º- Ainda não teve uma lesão desde que chegou ao Sporting
.
10º - Levezinho? Que alcunha mais amaricada de se ter...

Opções...

Ver um jogo de futebol ao vivo é fantástico. Não só pelo espectáculo por si só, mas também por outros motivos. Um deles é a oportunidade de ouvir belas pérolas ao vivo.

Num desses momentos ouvi um adepto mais exaltado gritar a plenos pulmões para o Polga, depois de este ajuizar mal um lance – coisa rara -: “ Não penses! Joga logo a bola!”. O que nos remete para a seguinte dúvida: O que é que faz deste campeão do mundo um central de méritos reconhecidos? Será a sua dureza? A sua impetuosidade? Não! A sua capacidade de analisar as movimentações adversárias, aliada ao seu jogo posicional, permite-lhe vencer maior parte dos duelos. Mais, o facto de ser inteligente, ou seja, o facto de pensar, e bem, permite-lhe ser um elemento importante na definição dos processos ofensivos da sua equipa, falo obviamente numa fase inicial mas que não é tão irrelevante quanto isso. Polga percebe de uma forma excepcional a verdadeira função do processo defensivo. Recuperar a posse da bola, não cortar a bola de qualquer forma. Recuperar a posse de bola, não desfazer-se dela, terá de ser sempre o principal objectivo deste processo.

Num raro momento de silêncio surge a plenos pulmões outra afirmação deliciosa, neste caso tendo como alvo o Miguel Veloso depois de este perder o esférico ao tentar driblar dois adversários: “ Não inventes!”. Não inventes? Então mas será que percebem a razão pela qual este miúdo se destaca? Pedir ao Miguel Veloso para não ser criativo nos seus processos é tão estúpido como convidar a Soraia Chaves para gravar um filme e não lhe exigir que faça nus.

E a partir desta parvoíce podemos perceber um erro comum de muita gente, pior ainda se no meio desta multidão incluirmos muitas pessoas com responsabilidades na definição do curso futebolístico de várias equipas.

Falo dos erros cometidos por directores e técnicos que na prospecção de talentos e reforços para as respectivas equipas apenas consideram índices físicos, ignorando os aspectos intelectuais. Deslumbrando-se preferencialmente com exibições mais exuberantes, preferindo a forma à essência, cometem-se erros atrás de erros na aquisição de jogadores. Jogadores que se destacam devido às suas características físico/atléticas (Luisão, Petit; Paredes, Liedson; João Paulo, P. Emanuel) são sempre um grande risco. Sempre demasiado dependentes de factores externos, para além do seu momento de forma, quando este não lhe é favorável o seu desempenho, na melhor das hipóteses é inócuo. Ao invés jogadores que se sobressaem pelas características intelectuais (Polga, Miguel Veloso, Custódio, Romagnoli; Nuno Gomes, Nuno Assis; Postiga, Fucile, Lucho) destacam-se não só pela sustentabilidade das suas exibições, como pela facilidade com que se adaptam a novos modelos, pois conseguem compreender as necessidades que cada modelo de jogo e sua filosofia exigem. Contudo são apenas homens e neste caso, enquanto jogadores, dependem sempre do coeficiente de inteligência dos treinadores que os orientam. Por aqui, por exemplo, se pode explicar porque razão o Assis não se impõe definitivamente no Benfica.

É verdade que este tipo de jogadores nem sempre obterá o retorno das suas virtudes da parte do público, tão pouco dos respectivos técnicos. Vejam a quantidade de jogadores que privilegiando a força bruta e descontrolada são beneficiados perante os que assentam o seu futebol num numero considerável de neurónios, poucos são os que darão preferência ao Custódio, se puderem escolher o Petit, ou então quem é que optará pelo Nuno Gomes com o Liedson no mesmo plantel?

Porém este facto ainda é mais nocivo no futebol de formação. Aqui muitos clubes ignorando a sua principal função, a formação de jogadores, optam por obter resultados fáceis e imediatos. Por outras palavras, optam por jogadores que se destacam pela força, velocidade, e qualidade técnica, em vez de promoverem aqueles que tem na sua capacidade de decisão e respectiva leitura dos lances as suas principais características. Não estou a dizer que devemos ignorar os outros factores, nada disso, apenas defendo que jogadores que sejam seleccionados pelos factores físicos, serão sempre mais difíceis de imiscuir no futebol sénior, onde o físico perde um estatuto determinante para se conseguir justificar a sua utilidade. Ser forte, rápido, e bom no um para um, é sempre relativo ao nível de exigência onde se encontram, agora uma boa opção é sempre uma boa opção...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Papa-Açorda

Não sei de onde veio, mas foi sugerido por um repórter, há uns dias, uma possível saída de Liedson para o estrangeiro. Queria saber o repórter o que achava Liedson dessa hipótese, caso surgisse. A resposta do "levezinho" foi pronta. Gostaria muito, como qualquer jogador, de representar um grande clube europeu, mas para já estava de corpo e alma no Sporting. Fiquei a pensar nisto e cruzei esta informação com a de há uns anos, quando se dizia que Liedson sairia para Itália. Ficou-me na cabeça a possibilidade de Liedson ir jogar para a Juventus. Sorri ante a possibilidade e imaginei as maiores contradições possíveis. Se o futebol italiano fosse comida, era uma pizza, com as diferentes camadas bem distintas, a massa, o tomate e o queijo dispostos com exactidão, desenhada com a arte de um grande chefe. Podia também ser uma lasanha, com uma camada de carne e outra de massa, uma de carne e outra de massa. Tudo organizadinho. O futebol de Liedson, quando muito, é uma açorda. E, desculpem o cepticismo, não estou a ver italianos a comer açorda. Naquele rigor militar, naquela febre posicional em que são obrigados a viver, a estroinice táctica de Liedson impacientaria-os logo no primeiro jogo. Aliás, que tipo de diálogo poderia ter um Del Piero para com Liedson? "Pá, ó saltitão, pára lá quieto! Para que é que vens ter comigo quando estamos três para um e tens espaço para te desmarcares?" Ou então: "Ó saguim, para fazer coisas giras com a bola estou cá eu e o Nedved e para defender temos... como é que se chamam aqueles gajos?... ah, os defesas, é isso... Por isso, vai lá para a tua posição, que esta merda joga-se com 11 jogadores e que eu saiba o Buffon ainda não se aleijou." Ao que Liedson responderia: "Oi? Cê não pode falar em brasileiro? Não estou entendendo! Está muita gente no estádio gritando e só estou ouvindo isso: "Va fancullo! Va fancullo!"

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Finalmente, algo acertado...

Da mesma maneira que critiquei o senhor Luis Sobral pelas incontáveis asneiras que disse, saúdo agora este artigo da autoria da mesma pessoa. Sobral condena a autoridade excessiva dos árbtiros portugueses e não compreende admoestações por protestos. Abraço esta incompreensão. Protestar é uma manifestação emocional. Só isso. Os jogadores deveriam ter toda a liberdade para o fazer, como têm liberdade para manifestar alegria quando marcam um golo. Dir-me-ão que os jogadores devem respeitar quem decide. Sim, devem. Mas é o protesto uma demonstração de desrespeito? Desrespeita quem protesta a decisão do árbitro ou a pessoa em si? Árbitros que punem protestos não estão a punir o desrespeito. Punem a liberdade de expressão e protegem a sua autoridade. O que não sabem é que a autoridade não se protege com punições, mas com carácter. Os árbitros ingleses raramente punem protestos. Muitas vezes, até entram nos protestos, debatendo efusivamente com o jogador o lance em questão. Esses árbitros têm carácter. Não se fazem valer da autoridade que lhes é concedida para se mostrarem superiores. À excepção de insultos directos, os árbitros nem sequer deveriam ter direito de admoestar os jogadores. Deveriam estar expressamente recomendados a não o fazer, a bem de um futebol mais democrático. Talvez, assim, jogadores com a pureza de Pedro Barbosa ou Rui Jorge não fossem dos jogadores mais expulsos de sempre do campeonato português. Mas é claro que haverá sempre Coroados a dizer que os Cannigias disseram coisas contra a sua pessoa, ainda que as imagens provem que os atletas não disseram nada...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Quem semeia ventos...

Admito que não seja um mal exclusivo do futebol nacional, mas como é a única realidade que conheço é sobre esta que vai recair a minha crítica. E o meu pretexto para tal baseia-se na recente "chicotada" que se deu no carismático clube de Alcântara, o Atlético. A vítima foi Jorge Paixão. Para muitos será um nome desconhecido, até porque para a história não terá ainda contribuído com nada de extraordinário. Mas quem conhece a fundo o futebol portguês já o conhece pelo trabalho desenvolvido em várias equipas com excelentes desempenhos na 3 Nacional, e 2b. Todavia, na semana passada depois de ser vaiado pelos adeptos do clube que representava - apenas alcançou dois pontos em três jornadas - optou por rescindir, justificando que as mentalidades dos adeptos não se coadunam com a sua filosofia de jogo.

E este acontecimento é o meu ponto de partida para explicar o crescente divórcio entre o futebol e adeptos.
Mais do que vítima do mau futebol que se pratica, o adepto, grande parte deles, é, a par dos dirigentes, o réu. No final do jogo apenas interessa a vitória, mesmo que nem percebam muito bem como esse objectivo foi atingido. Por isso, se o futebol é cada vez menos atractivo, e estimulante, isso é uma consequência da estupidez, e impaciência, dos adeptos. A sua perspicácia não lhes permite vislumbrar as consequências das suas exigências. Fossem mais exigentes com o trabalho desenvolvido, ou seja, a essência, e os resultados, na pior das hipóteses a médio prazo, surgiriam sob uma forma muito mais aprazível. Não se trata de subtrair importância aos resultados, é exactamente o oposto. Por estes assumirem um papel tão importante neste desporto devemos optar sempre pela forma mais segura e sustentada de os conseguir, isto é, jogando bem.
Jogar bem é muito mais difícil do que jogar mal. O trabalho levado a cabo para atingir esse fim é sem dúvida mais complexo. Portanto, sendo o objectivo mais ambicioso e ousado, por vezes a curto prazo os resultados não serão tão felizes como numa equipa que tendo objectivos mais "pobres" facilmente se consegue apresentar na sua plenitude. Contudo, essas mesma equipas acabam por encontrar na estagnação, inerente ao seu modelo, a sua maior derrota. Ou seja, quando os resultados, e a sorte, não acompanham as equipas que assentam o seu futebol neste modelo é o fim da linha. Sem qualquer possibilidade de evoluir, encontram um fim triste. O paradigma disto é nossa conhecida Grécia. Enquanto tiveram ( muita) sorte do lado dela conseguiram um título de campeão europeu, mas passados dois anos, e com um grupo extremamente acessível, não se conseguiram qualificar para o Mundial.
O mesmo se pode encontrar todos os anos na nossa liga. Equipas que depois de um ano em que conseguem bons resultados, no ano seguinte, e sem uma explicação aparente, tem participações desoladoras. E assim vai continuar a acontecer, enquanto não se perceber que para desenvolver um trabalho de qualidade e que garanta estabilidade, e os respectivos resultados, é necessário sapiência e uma nova filosofia dos que estão relacionados com este desporto.

Treinadores como Carvalhal, Jesus, Cajuda, e pelo que tem demonstrado Lazaroni, ( já nem vou falar do Paulo Bento porque parece demasiado óbvia a qualidade do mesmo) podem acrescentar qualidade ao nosso futebol, desde que lhes sejam proporcionadas as condições para tal efeito. Se bem que na pior das hipóteses poderemos sempre recorrer ao Carlos Cardoso...

sábado, 8 de setembro de 2007

Responsabilidade...

Eis o que parece não ter o Editor-chefe do jornal desportivo Record. Pelo menos a avaliar pela sua página no mesmo diário desportivo, intitulada " OFF-SIDE". E não digo isto porque me apetece. Digo-o porque na edição de sexta-feira, dia 7 de Setembro, deste mesmo jornal, Luís Pedro Sousa mo demonstra de forma inequívoca.

No primeiro ponto visa Paulo Bento, e o "erro" que é o seu losango. Defende que o Sporting tem motivos de preocupação pela exibição frente ao Beleneses. Eu até aceitaria que ele partilhasse desse sofisma, mas esperava que ele o defendesse convenientemente. Ao invés, resolveu aproveitar a boleia do Rui Santos e foi apenas pateta. A forma ingénua - sim, vou optar por ser subtil - como interpreta o futebol é deliciosa. Comete um erro comum, e que em circunstâncias normais até seria admissível, mas, tratando-se de alguém com tanta responsabilidade num veículo informativo com a importância que o jornal em questão detém no panorama nacional penso que é lamentável.
Falo do erro de assumir o futebol como xadrez, como algo sem dinâmica nas suas peças. E até mesmo nestas seria errado preconizar esta perspectiva. Quando de uma forma displicente ele "resolve" os problemas do Sporting com a inclusão de extremos, e responsabiliza os empates consentidos a época passada, pela falta dos mesmos só podemos rir. Na época transacta a táctica foi sempre esta, a única coisa que foi alterando foram os seus intérpretes. E aqui sim se explica alguns resultados menos positivos, para além dos factores mais " banais", como o fraco indíce finalizador, etc. A táctica foi a mesma, do inicio da época, até ao fim. Ou seja desde o periodo mais "infeliz", até ao periodo em que o clube de Alvalade se revelou insuperável.

Partir do princípio que uma táctica que não tem extremos está privada de aproveitar as faixas laterais é irresponsável. Creio que na mente das pessoas que defendem esta ideia basta colocar os jogadores na linha para, imediatamente, e por magia, o jogo se desobstruir e começar a fluir pelas linhas, qual rio que desagua no mar. Por isso quando vêem um sistema que não apresente extremos ou médios-alas o seu poder de sintese leva-os a crer que a equipa em questão despreza a opção de jogar pelas alas. Nada mais errado. A mobilidade e os processos assimilados pela equipa, estes sim, é que definem e caracterizam o futebol desenvolvido pela mesma. Assumir que só porque no desenho não está ninguém numa determindada zona do campo esses terrenos vão ser ignorados é estúpido. As oscilações inerentes ao jogo, por si só, provam isso mesmo. Seja o lateral, o interior, o "numero dez", ou o avançado, a um deles, ou mais, caberá sempre a responsabilidade de explanar o jogo da sua equipa por essa zona do terreno, consoante o definido.

Mais à frente ele diz que o Sporting está a perder o fulgor do início de época, e aqui eu tenho de pedir a alguém que o conheça pessoalmente para lhe avisar que o Porto foi campeão o ano passado, que o Sporting venceu a taça de Portugal, que este ano venceu a supertaça, que entretanto ja decorreram três eliminatórias da taça da liga, etc... O Sporting começa a perder fulgor? Esta época? Qual fulgor?

Segue-se Vieirinha e dá a entender que este, para já, dá mais garantias que Tarik e o Mariano. Não renego as qualidades técnicas deste miudo, todavia, os outros dois também as possuem, e pelo menos são mais experientes. Não percebo como é que este pode revolucionar o jogo de uma maneira que os outros não o possam fazer. Mais, nem considero Vieirinha como sendo uma grande promessa. Ele, assim como Bruno Gama, apesar de lhe ser concedida uma maior montra por parte da comunicação social do que ao Hélder Barbosa - um pouco por causa da lesão, bem sei - está a anos luz deste. Não é tão forte no um para um como o jogador da Académica, nem possui a lucidez deste na hora de definir as suas opções.

Este é o tipo de pessoas que não perecebe o porquê do Carlos Martins, o ano passado, e o Vukcevic este ano, neste sitema - 442 losango - não actuar como numero dez. Um jogador com as caractrísticas deles, ao contrário do que muita gente pensa, neste sistema é aproveitado de uma forma mais eficaz como interior. Porque ao vértice mais adiantado, mais do que "pautar", transportar o jogo da sua equipa, como é pedido ao trinco numa primeira fase, e aos interiores numa fase posterior, pede-se que provoque os desiquílbrios através da sua movimentação.
Contem as vezes em que Romagnoli vem "buscar" jogo. Poucas, muito poucas. Não quer isto dizer que o médio argentino se esconda, mas se ele recuasse à procura da bola, para além de concentrar demasiados jogadores nessa zona (meio-campo defensivo) congestionando as linhas de passe, acabaria por privar a equipa dos espaços e opções que a sua movimentação, geralmente entre o lateral e o central da equipa adversária, proporciona. Essa movimentação não só é necessaria para ele encontrar espaço para poder desenvolver o seu futebol, como para criar linhas de passe para os seus colegas, sendo este factor tão importante como o primeiro.

E este facto leva-nos de encontro a outro erro comum. A responsabilzação imputada ao interiores quando estes muitas vezes não estão em jogo. Ou porque a equipa não jogou bem porque se esconderam, ou porque a equipa abusou em demasia do passe longo, sendo esta então ridícula, se tivermos em conta que muitas vezes os responsáveis pelos lançamentos são os defesas. Incapazes de se aperceberem da sua movimentação em prol do colectivo, o espectador comum, e infelizmente o jornalista desportivo também, criticam, muitas vezes de forma errada, estes jogadores quando as circunstâncias não lhes permitem ter tanta visibilidade.
No caso do Sporting o paradigma disso mesmo sucedeu no jogo da supertaça. Do russo Izmailov escreveu-se e disse-se que não fora o golo e o russo teria passado ao lado do jogo, ignorando a sua movimentação tanto no plano ofensivo, como defensivo, não percebendo assim que o mérito do golo não se esgota no fantástico pontapé. Não fosse a sua inteligência táctica lhe permitir o bom posicionamento, de certo que o golo, pelo menos aquele, não teria surgido. E não só. Neste início de época o Sporting passa muito por aproveitar a movimentação do Romagnoli, dai a ser muito importante a movimentação sem bola concertada entre os médios interiores e o "dez". São muitas vezes os interiores os responsáveis pelo deslocamento do lateral adversário para assim promover a entrada do médio argentino nas costas dos mesmo, criando ( ou tentando) assim uma situação de desiquilíbrio junto da área adversária. Este facto leva a que o jogo não passe pelos interiores nestas situações, sendo os laterais que lançam o Romagnoli.

Eu admito que todos erramos, e que o senhor Luís Pedro Sousa também tem direito a faze-lo, apenas esperava que defendesse os seus erros de uma forma mais lúcida.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Han?????

Encontro, para meu grande espanto, este artigo, no qual a Comissão de Arbitragem da Liga dá razão a Pedro Proença no muito badalado caso do atraso de Polga para Stojkovic. Entre outras coisas, retiro isto:

""Ao contrário do que foi veiculado em diversos meios de informação, se um defensor efectua um pontapé que leve a bola no sentido da linha de baliza, seja esse pontapé um corte ou um passe, pode ser punido com pontapé-livre indirecto, no caso de o guarda-redes tocar a bola com as mãos", pode ler-se no comunicado assinado por Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem da Liga."

Não estou indignado. Estou perplexo. Decidir no momento pode ser complicado e, como tal, admito o erro de interpretação do árbitro. Aceitar esse erro só pode querer dizer duas coisas: ou não se sabe interpretar um lance, ou quis-se branquear a situação. Não há mais possibilidades. Não quero aceitar a segunda hipótese, até porque não tenho como prová-la. Resta-me a primeira. E digo-o, sem rodeios: quem quer que considere aquilo um passe precisa rapidamente de um par de neurónios novos. No caso do comunicado da Comissão de Arbitragem, parece que tentaram ter razão adulterando a lei. Ou seja, agora, já não é preciso que a bola seja endossada deliberadamente: basta que o pontapé "leve a bola no sentido da linha de baliza, seja esse pontapé um corte ou um passe". O que a Comissão de Arbitragem fez é inédito: ignorou a lei oficial da FIFA e fez uma nova lei, de modo a desculpar um erro evidente. Coloco aqui a lei oficial, para que se possa comparar. O documento é este e, sobre isto, diz o seguinte na página 38:

"An indirect freekick is awarded to the opposing team if a goalkeeper, inside is own penalty area, commits any of the following four offences:"

e a terceira é:

"touches the ball with his hands after it has been deliberately kicked to him by a team-mate".

A FIFA diz, portanto, que só é punível com livre indirecto a bola que for deliberadamente pontapeada para o guarda-redes. Não podia ser mais claro. A Comissão de Arbitragem decidiu inventar uma alínea nova e dizer que, se essa bola, ainda que não tenha sido deliberadamente pontapeada, levar a direcção da linha de baliza e for agarrada pelo guarda-redes, é punível. O que se passou aqui foi, essencialmente, uma mudança de regras em favor próprio. A Comissão de Arbitragem queria desculpar Pedro Proença e mudou as regras oficiais de modo a que isso pudesse acontecer "legalmente". Eu hoje, por acaso, acordei com uma vontade enorme contradizer Newton. Diz o palerma do Isaac, na sua Lei da Gravitação Universal, que "dois objectos quaisquer se atraem gravitacionalmente por meio de uma força que depende das massas desses objectos e da distância que há entre eles." Não concordo. A partir de agora, apetece-me que a força dependa da cor dos objectos e não dessa treta da massa e da distância. Como tal, se nas Olímpiadas de Pequim um tipo, no salto em altura, fizer 210 metros, não se espantem. E não venham dizer que, no lançamento do dardo, um gajo que atinja Nova Iorque só pode estar dopado, porque isso, a partir de agora, é perfeitamente possível...

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Réu inocente

Acreditem em mim: isto não é perseguição. O facto de o jogo em que ocorreu o lance de que vou falar me ter chegado comentado pelo Luis Sobral é apenas coincidência.

Ontem, o Benfica começou a construir a gorda vitória com um golo de Cardozo, depois de o pontapé de baliza batido por Diego Benaglio ter embatido no peito do paraguaio, o que o deixou isolado. Luis Sobral, o comentador de serviço, não hesitou: a culpa é do guarda-redes, que bateu mal o pontapé de baliza. Não tenho a certeza, mas creio que Luis Sobral jogou à bola, o que ainda me deixa mais perplexo. Que o comum mortal não saiba que o erro não é do guarda-redes, tudo bem. Mas alguém que praticou futebol tem de sabê-lo obrigatoriamente. Acredito que ninguém questionou a observação de Luis Sobral e que concordam que a responsabilidade do lance é de Diego Benaglio. Como tal, isto não é um ataque à pessoa que o disse, mas a um conjunto de pessoas que pensam desta maneira. Quem joga futebol deve conhecer algumas regras básicas: o homem que faz o lançamento lateral não deve levantar os calcanhares quando lança; no pontapé de baliza não há foras-de-jogo; etc. E há uma regrazinha simples que se ensina aos centrais: quando o nosso guarda-redes se apronta para bater o pontapé de baliza, os centrais devem estar imediatamente à frente dos avançados adversários, de modo a prevenir um eventual mau pontapé do guarda-redes. Perante isto, é-me fácil dizer que, embora o guarda-redes suíço não tenha batido bem o pontapé de baliza, a culpa do golo é principalmente de Ávalos, que se esqueceu que isso poderia acontecer e deixou Cardozo sozinho. Ainda que isto não se ensinasse, facilmente se percebe que um erro técnico, como um pontapé mal batido, um passe falhado, um tempo de salto mal calculado, nunca podem ser mais penalizados que as distracções. Tecnicamente, todos podem falhar. A nível de concentração é que não. É verdade que Benaglio falhou a nível técnico, como Quim, na época passada frente ao Braga, falhou ao colocar a bola ao dispor de Zé Carlos. Mas como ao guarda-redes do Benfica, ao do Nacional é permitido falhar do ponto de vista técnico. O que não é permitido é que o Petit e o Luisão estejam a dormir, como não é permitido que o Ávalos esteja a pensar em empadas e bacalhau à Gomes de Sá.

Corolário de tudo isto: Diego Benaglio foi um réu injusto da derrota da sua equipa ante o Benfica. Além de não ter culpa no lance do primeiro golo, como o quiseram fazer crer, ainda teve um punhado de boas defesas e impediu que o Nacional fosse humilhado.

Gente casmurra e mais qualquer coisa...

Não gosto de gente casmurra. Também não gosto de gente casmurra e estúpida. E ainda gosto menos de gente casmurra, estúpida e chata. Por falar em gente de quem não gosto, uma semana depois da infeliz decisão de Pedro Proença no Dragão, João Querido Manha continua a dizer que Anderson Polga atrasou deliberadamente a bola para Stojkovic. Jorge Coroado ainda lhe tentou ver que um desarme é tecnicamente diferente de um passe. Por acaso não concordo: acho, como o querido João Querido Manha, que um passe é exactamente a mesma coisa que um desarme. Argumentou Coroado que um jogador que joga a bola em esforço, tocando mesmo com o joelho no chão para o fazer, não pode nunca estar a efectuar um passe deliberado. Apesar do belo argumento do ex-árbitro, Querido Manha manteve a sua posição. "É passe, é passe, é passe." E disse mais. Disse que é possível fazerem-se passes sem se estar na posse da bola, de maneira a refutar mais um excelente argumento de Jorge Coroado. Também estou de acordo em relação a isto. Aliás, considero que só se faz um passe se não se estiver na posse da bola. Nem percebo como é que, estando na posse da bola, se pode fazer um passe. Isso é totalmente absurdo. Creio, depois disto, que todos à excepção de João Querido Manha vivem num mundo à parte. À noite, quando chegar a casa, aposto que João Querido Manha dirá à mulher, com razão, que os peixes respiram fora de água. Amanhã, quando chegar ao trabalho, contará, uma vez mais na posse de toda a razão, que viu um homem com duas cabeças.

Com pessoas casmurras, costumo agir de maneira especial. Com pessoas casmurras e que se recusam a ver o óbvio, costumo agir de maneira ainda mais especial. Ao senhor João Querido Manha queria, portanto, dizer que é uma pessoa perspicaz e que não deve ligar ao que os outros dizem. Se acha que é passe, é porque é passe. Quem sabe, sabe. E nem que toda a gente já tenha percebido que não foi passe, não desista da sua opinião. Aliás, se amanhã se lembrar que afinal se chama Napoleão Bonaparte e se a sua mulher o tratar por João, dê-lhe logo uma lambada, que é para ela aprender. Só uma perguntinha: 1 mais 1 são 3, não são?

domingo, 2 de setembro de 2007

O que eu prefiro

O que eu prefiro numa equipa:

1) Prefiro laterais lentos e fisicamente mais débeis, mas com inteligência para perceberem que o jogo interior da equipa pode passar muito pelas suas decisões. Rui Jorge não era rápido, não era habilidoso, não era alto, não era forte, mas era inteligente. E era tudo o que bastava. Um lateral que fisicamente e tecnicamente seja prodigioso, mas que insista em pôr bolas na linha e não no meio não me convence.

2) Prefiro centrais com classe, que conseguem ser bons sendo discretos. A agressividade é, muitas vezes, ilusória. Num central, a velocidade é importantíssima, pois ajuda a compensar eventuais erros posicionais. Pepe, mais do que ninguém, tem na velocidade a sua grande arma. Sem ela, não seria só banal: seria patético. Reconheço que Pepe é bom, mas só porque a sua velocidade compensa o seu mau jogo posicional e a sua fraca leitura de jogo. Interpreta mal os lances, mas recupera muito rápido. É daqueles centrais que não vai ter um final de carreira brilhante, como Maldini, Blanc, Sammer, Matthaus ou Hierro. Porquê? Porque assim que perder a velocidade (a não ser que ganhe miraculosamente a inteligência que não tem) não conseguirá parar avançados mais velozes e inteligentes. Prefiro, aos centrais agressivos, aqueles que conseguem um aproveitamento idêntico sem terem que derrubar o adversário, sem arriscarem uma falta perigosa. Prefiro aqueles que roubam a bola com elegância, como se o adversário fosse de porcelana. Prefiro esses por várias razões. Primeiro, porque não têm a necessidade de provar a ninguém que são mais fortes, que são impetuosos e que ostentam a virilidade de um gladiador: prefiro a perícia à força bruta. Segundo, prefiro-os porque é muito mais notável roubar discreta e elegantemente como um Arséne Lupin do que sacar a mala de uma velha com um puxão e fugir a correr. Terceiro, prefiro-os porque esses são os mesmos que, uma vez com a bola, não a desperdiçam com pontapés sem nexo. Prefiro pois um central com classe, com um bom sentido posicional, rápido (sobretudo a pensar) e ágil. Não me importa a agressividade, a altura, a robustez física. É por isso que não concordo com a chamada de Pepe à selecção, porque prefiro o Zé Castro. É por isso que não concordo com a chamada constante do Luisão à selecção brasileira, porque prefiro o Polga.

3) Prefiro médios-defensivos intelectuais a médios-defensivos batalhadores. Não há ninguém (ou há poucos) que não reconheça que o maior de todos os tempos foi Redondo e ainda assim gostam de jogadores que são o oposto dele. Nesta posição, gosto de jogadores mentalmente muito fortes, que gostem de sentir a bola nos pés, que tenham gozo em pautar os ritmos da equipa. Se uma equipa fosse uma orquestra, o maestro era o médio-defensivo e não o ofensivo. Prefiro, para esta posição, jogadores tecnicamente evoluídos, com uma leitura de jogo ímpar e com uma qualidade de passe fenomenal. Desde Paulo Sousa que a selecção está orfã. Agora começa a surgir Miguel Veloso. Não me agradam os médios-defensivos de combate. E não me agradam porque, sendo fisicamente disponíveis, acabam invariavelmente por se excederem, saindo da sua posição. Defensivamente, pecam portanto por excesso. Ofensivamente, não são capazes quer de coordenar os movimentos atacantes da equipa, fornecendo os apoios necessários, quer de fazer chegar a bola em condições aos colegas. Prefiro pois o Pirlo ao Gattuso, como prefiro o Miguel Veloso ao Petit.

4) Prefiro médios-ofensivos nos quais abunde a criatividade. Aqui reside, talvez, a grande contradição com maior parte dos grandes treinadores actuais. Para estes, a criatividade é coisa para os homens da frente. Não concordo. Acho o Lampard muito bom, mas a falta de criatividade chega a ser constrangedora. Às vezes pergunto-me: como é que alguém tão bom a nível táctico, tão inteligente com a bola nos pés, não tem capacidade para imaginar algo para além do óbvio? Lampard faz tudo bem. Só não consegue ser imprevisível, fazer um passe inesperado, descobrir uma linha de passe louca. Prefiro médios-ofensivos criativos a médios-ofensivos previsíveis. Não que não quisesse Lampard na minha equipa. Mas não quereria dois. Tacticamente, prefiro que sejam evoluídos a nível posicional, que corram mais quando a equipa tem a bola, procurando aparecer em zonas libertas de marcação, do que quando a equipa não a tem. Prefiro médios-ofensivos que trabalham mais para fornecer linhas de passe aos colegas do que médios-ofensivos que só correm em tarefas defensivas. O esforço de um médio-ofensivo é sobretudo quando a equipa tem a bola, embora se pense que, hoje em dia, um bom médio-ofensivo tenha de correr muito a defender. Para defender, basta posicionar-se bem. E a inteligência fará com que isso aconteça sem uma sobrecarga de esforço. O principal desgaste de um médio-ofensivo deve ser a nível ofensivo, sobretudo nas movimentações constantes.

5) Prefiro extremos irreverentes a extremos tacticamente perfeitos. Num 433, por exemplo, o trabalho defensivo de um extremo não tem de ser exigente. Deve ser concedida uma grande liberdade aos extremos, quer com bola, quer sem bola. Prefiro, para esta posição, jogadores fortíssimos no um para um. E não precisam de ser extraordinariamente rápidos. Há um preconceito generalizado de se considerar que um extremo deve ser rápido. Ajuda, claro. Mas o extremo pode ser apenas muito rápido nas mudanças de velocidade, nos arranques, nas travagens, nas mudanças de direcção. Prefiro um extremo irrequieto, que arranca, pára, vem para dentro, vai para fora, a um extremo que corre muito mas só para a frente. O meu extremo de eleição deve ser alguém vaidoso, que gosta de humilhar o adversário que tem pela frente. Deve ser egoísta até, às vezes. Se conseguir ser isso tudo, se tiver capacidade para ser isso tudo, perceberá depois como pôr esses atributos ao serviço da equipa. Só compreendo o futebol com extremos se os extremos forem capazes de suplantar o adversário directo várias vezes por jogo. Se o não forem, mesmo que sejam jogadores que entregam bem a bola, que respeitam os apoios, estão sempre demasiado agarrados à linha e demasiado fora do jogo. Se os extremos não forem extraordinários, se não forem capazes de, individualmente, causar problemas, prefiro sempre um sistema sem extremos, mas muito mais flexível a nível ofensivo.

6) Prefiro um ponta-de-lança que jogue bem para a equipa a um que faça muitos golos. Fazer golos é coisa que a equipa em si deve ser capaz de fazer. É a equipa que deve criar condições para que surjam os golos. E o último toque não tem de ser necessariamente dado pelo homem mais avançado. Não compete a um avançado ser o goleador da equipa. A um avançado compete ajudar à correcta circulação da bola, à correcta movimentação colectiva, etc. Prefiro um avançado que se movimenta bem fora da área a um que só se movimenta bem dentro da área: 90% ou mais do jogo desenrola-se fora da área. Prefiro, para esta posição, um jogador habilidoso, capaz de corresponder a tabelas, do que um jogador grande, com um porte atlético respeitável, que ganha muitas bolas de cabeça, mas que, servido pelo chão, demora dois dias a dominar a bola. Prefiro avançados inteligentes a avançados rápidos: com os primeiros, é possível variar a forma de jogar da equipa, com os segundos, a equipa está necessariamente escrava dos passes para as costas dos defesas. Prefiro, por tudo isto, o Nuno Gomes ao Liedson. Aliás, nem sequer percebo como é que alguém que não gosta do Pauleta gosta do Liedson. São a mesma coisa, praticamente. O Liedson é tecnicamente mais evoluído, é certo. E corre mais, também é certo. Mas pode-se contar mais ou menos com o mesmo...

7) Prefiro um futebol apoiado, com transições lentas, de passe curto e certo, a um futebol directo, de transições rápidas. O segundo tipo de futebol torna a equipa serva da inspiração dos homens da frente. Ou então da sorte. Prefiro um futebol que procure a sorte e nenhum outro o faz melhor que o futebol apoiado. Um futebol demasiado objectivo é também demasiado previsível. Aos defesas adversários, basta que sejam correctos, que não errem, para anular essa objectividade. Compete a uma equipa mentalmente evoluída arranjar constantemente novas soluções para penetrar nas defesas adversárias: um futebol mais directo não o permitirá, por certo. Além disso, um futebol de transições mais lentas permite que a equipa esteja quase sempre compacta. Não cria buracos defensivos, nem desgasta constantemente os homens que são servidos. Dirão que um futebol assim será sempre lento e, por isso, previsível. Incorrecto! As transições podem ser lentas, mas a dinâmica ofensiva não o deve ser. Se as movimentações ofensivas forem constantes e a troca de bola rápida, ainda que as transições se façam através de passes curtos, as defesas contrárias nunca estarão suficientemente organizadas. É claro que, se não houver muita dinâmica, um futebol deste tipo não será proveitoso, pois nem aproveita a subida das linhas adversárias utilizando transições rápidas, nem consegue penetrar em defesas organizadas.

8) Prefiro um pressing alto a um pressing médio ou baixo. É importante saber executar um pressing baixo, sobretudo porque um pressing alto durante 90 minutos será sempre muito desgastante, mas prefiro que a equipa tenha uma filosofia ofensiva e que queira sempre a bola. A melhor maneira de defender é ter a bola. A maneira mais segura de recuperar a bola é o mais longe possível da nossa área. Nada melhor que pressionar o mais alto possível. Obriga o adversário a jogar de forma mais directa, da mesma maneira que recuperar uma bola numa zona mais subida é sempre mais perigoso para o adversário. Prefiro uma equipa capaz de pressionar o mais alto possível, como a de Co Adrianse no Porto, pois assim passará mais tempo com a posse de bola. Alturas haverá em que será necessário modificar a atitude defensiva: se o resultado estiver feito, se se avizinhar um prolongamento, minutos antes do intervalo, etc. Aí, a equipa deverá suster o ímpeto e pressionar mais em baixo, correr menos riscos e desgastar menos os jogadores. Mas de uma forma geral, deve ser capaz de pressionar alto.