segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Inquisição...

Nos dias que correm, automatismos é palavra recorrente nas tertúlias futebolísticas. Mas nem todos compreendem do que se trata, tão pouco o que trata. São estes que permitem definir as idiossincrasias dos modelos de jogo, a base da interactividade entre os seus sectores e jogadores.

Dai a sua importância no desempenho das equipas de futebol, ou em qualquer outro desporto colectivo. Mas a falta de automatismos revela-se tão perniciosa no plano colectivo como no plano individual. No futebol, e é sobre este desporto que neste momento nos debruçamos, a falta destes nota-se sobretudo em jogadores que não se destaquem pelas suas acções isoladas. Ou seja, em jogadores que procuram acima de tudo corresponder às necessidades da equipa, e que se distinguem pela sua inteligência na interpretação das necessidades do futebol praticado pela sua equipa.

Os automatismos são fundamentais para emprestar ao jogo o traço pretendido pelos técnicos, sem eles o futebol não passaria de onze jogadores dispostos em função da sua posição. A dinâmica que estes mesmos jogadores poderiam emprestar, órfã destes automatismos, seria inconsequente do ponto de vista colectivo. Nada de novo. Assim como não soará a nada de novo, se eu, por exemplo, afirmar aqui que este é indubitavelmente um dos pontos fortes do Sporting de Paulo Bento. E que estes demoram tempo até serem alcançados. Pelas mais variadas razões, seja pelo tempo que os jogadores demoram a interiorizar as ideias pretendidas pelo técnico – que terá sempre de passar pela vivência das mais variadas situações inerentes a cada sistema -, seja pelas dificuldades, naturais, em conjugar as características, e vícios, de cada um. A forma com que cada jogador se expressa estará sempre dependente do que lhe é pedido através desses automatismos, a qualidade com que o fará ou não, isso sim depende exclusivamente do seu valor intrínseco. É importante que se crie um palco familiar para os actores desempenharem o seu papel, assim como um guião que lhes permita uma interactividade funcional entre os seus intérpretes.

E foi isto que no Restelo o técnico leonino ignorou, ao optar por um losango totalmente inédito. E o futuro dirá até onde vão as consequências deste erro. Não só perdeu o jogo, como muito provavelmente perdeu jogadores que, num futuro próximo, poderiam se tornar mais-valias. Numa primeira impressão a ideia de rotatividade poderia saltar. O que se aceitava, mas não de uma forma tão radical. Frente a uma equipa bem estruturada, com uma filosofia de jogo positiva, e com automatismos bem definidos, a anarquia assumiu proeminência no reino do leão. Como é que se pode esperar que quatro jogadores se combinem em função de um ideal de um momento para o outro? Não é possível.
Neste jogo os únicos que não se ressentiram deste erro de Bento foram aqueles que não dependem da dinâmica colectiva, porque normalmente não contribuiem para a mesma. Ou seja, não existindo qualquer tipo de definições, ou mecanismos, não se tornaram nocivos para a harmonia colectiva. Liedson, por exemplo, terá feito a melhor exibição esta época, até agora.

A falta de coerência resultou num percalço na caminhada leonina. Bento, um dos mais promissores técnicos a nível europeu errou, mas de certeza que saberá fazer a síntese necessária, e indispensável, para a sua evolução como treinador.

1 comentário:

João Gonçalo disse...

A questão das rotinas e dos automatsmos é extremamente importante. Se treinares um exercicio e o repetires duas vezes ele não vai ter qualquer resultado no jogador.
Fazes uma boa relação com o meio-campo do sporting na medida em que como é óbvio um meio-campo que nunca joga junto nao pode nunca ter um desempenho positivo.

Abraço