quinta-feira, 27 de março de 2008

Muito mais que uma tragédia

Dois jogos, duas selecções, AA e sub-21, que deixam a desejar, seja nos comportamentos, seja nos elementos que as compõem.

Primeiro os sub-21. Jogo feio, mal jogado. Por muito que o Rui Caçador defenda que são uma equipa de elite, as esperanças portuguesas não se mostraram dignas de tal epíteto. Mas antes de explicar por que é que o treinador dos sub-21 está a sonhar alto, chamar a atenção para três erros crassos, para uma equipa que se auto-entitula de "elite".

Primeiro: Uma equipa de elite com um guarda-redes daqueles? Segundo: um meio-campo formado por Machado, Manuel Fernandes e Pélé não nos pode oferecer nada de muito positivo. Terceiro: com Saleiro, optar pelo João Moreira? Para confundir os adversários? Só pode.

Admito que, nas selecções, devido ao pouco tempo que se dispõe para trabalhar certos aspectos tácticos, não é fácil aprimorar coisas como as rotinas, as movimentações, etc. Todavia, podemos debruçar-nos sobre as escolhas de Caçador. Porquê apostar em Pereirinha para lateral-direito e deixar um lateral de raiz como Pedro Correia fora da convocatória? Depois, a opção de deixar o melhor extremo de fora, Hélder Barbosa, melhor do que qualquer um dos que jogou de inicío, Gama e Vieirinha. Já nem vou falar de Coentrão e Ivan Santos. Depois, o "endeusamento" a que foi submetido Manuel da Costa não só prejudica o jogador como o próprio colectivo. Carriço já merecia uma chamada a sério a esta selecção. Por fim... aquele guarda-redes. Não conheço muito bem o Mário Felgueiras, mas, do pouco que vi, parece-me uma solução bem melhor.

Antes de terminar, uma nota para os comentadores, um dos quais até apreciado pelo Entre 10.
Começando pelo absurdo de considerar João Moreira como um avançado com melhor leitura do movimento dos colegas do que Saleiro, assim como defini-lo como um jogador com maior inteligência de movimentos, fora da área, é de rir. Pior é não compreender por que é que numa equipa, Leixões, este jogador não calça. A sério?!?! Mas também... Luis Freitas Lobo não se coibiu de definir Purovic como um jogador inteligente e elegante.

Depois, toda a euforia em redor de Pelé. Não digo que seja o pior jogador do mundo, que não o é, mas mal da nossa selecção se ele for o nosso jogador mais influente.

Na selecção principal, a história é um pouco diferente. Scolari optou por fazer experiências. Tudo bem, mas se ele pretendia testar Martins a dez, por que é que o encostou à direita mal Simão saiu? E aquele duplo-pivot... Já não é grande coisa; com Meira nele, ainda piora. Considero Meira bom jogador, mas não como médio-defensivo, muito menos num dulpo-pivot, em que se pretende(?) que o médios defensivos se soltem, à vez, em movimentos ofensivos. Pelo menos, foi o que sucedeu no jogo de quarta. Quando subia, Meira não conseguia acrescentar nada; antes contribui para a falência de várias tentativas do ataque lusitano.

A Grécia apresentou-se com um esquema bem definido: pressionando alto, com um bloco subido, impediu que a equipa portuguesa tivesse bola. Portugal raramente conseguiu circular a bola entre os seus elementos. As únicas aproximações de Portugal à área helénica surgiam através de acções individuais, ou então das movimentações de Nuno Gomes, excelente a segurar a bola, a tabelar, ou a criar linhas de passe. Quando Moutinho entrou, Portugal ganhou mais dinâmica na gestão da posse de bola, mas perdeu profundidade, pois Carlos Martins flectia para o meio, e Paulo Ferreira não se aventurou muito em missões ofensivas, muito por culpa de Amanatidis.

Gostei da Grécia. Já não via este conjunto desde a final do Europeu. E esta selecção está diferente. Para melhor. Apesar de não gostar da táctica apresentada, o futebol deles foi quase sempre apoiado, de forma precisa, inteligente na maneira como manietou os intérpretes portugueses.

Karagounis, como dez, ia-se movimentando a belo prazer entre linhas, proporcionando a subida no terreno a Basinas, quando baixava, ficando Katsouranis menos solto, sendo ele que equilibrava as subidas de Torosidis, do lado oposto. Patsazogiou mostrava-se menos atrevido nas suas incursões. Charisteas, partindo da ala, provocava dificuldades a Caneira, criando dessa forma, muitas vezes, situações de igualdade no centro da área portuguesa.

Mérito para a Grécia, que não recuou em demasia, pelo menos em grande parte do jogo, não abdicando da posse de bola. Quanto a Portugal, é verdade que a Grécia é uma equipa bem equilibrada, mas a verdade é que a forma como Portugal se apresentou facilitou a tarefa aos gregos. Como seria o jogo se Scolari, em vez de Meira e Veloso, apresentasse Veloso atrás de Moutinho e Martins? A Grécia teria mais dificuldades em pressionar alto, pois correria o perigo de criar linhas de passe no seu maio-campo, assim como esta disposição iria obrigar a um maior apoio por parte dos laterais, pois Veloso no meio não se poderia desmobilizar em demasia, para não desequilibrar a equipa, e assim a selecção portuguesa iria jogar mais próxima, de forma mais apoiada, e com um bloco progressivamente mais subido. Esta opção teria a desvantagem de criar espaços nas costas do defesas, mas com Pepe ( principalmente este!) e Ricardo Carvalho, a velocidade é problema?

segunda-feira, 24 de março de 2008

Carvalhal: mais do que a soma das individualidades

Como andam aí papagaios a dizer coisas que não são verdade, é tempo de falar delas, com a atenção que merecem. É opinião algo generalizada que Carlos Carvalhal, actual treinador do Vitória de Setúbal, é um treinador defensivo e que a sua equipa pratica um futebol assente na defesa, feio e de aproveitamento dos erros do adversário. Isto não é verdade.

Já foi tema de um texto neste espaço algo semelhante. Na altura, defendi que Mourinho era tudo menos um treinador defensivo, coisa que, obviamente, ainda mantenho. Com Carlos Carvalhal passa-se actualmente o mesmo. Quem não percebe muito de futebol, tende a achar que treinadores como estes dois são treinadores defensivos. Obviamente, estão equivocados. Os dois têm filosofias de jogo muito parecidas, o que não é novidade, pelo que quem ache que um é defensivo tem tendência a achar que o outro também o é. Estão enganados em relação aos dois.

O futebol do Setúbal é, provavelmente, o futebol mais correcto da Primeira Liga, talvez a par do futebol do Porto. Paulo Bento teve oportunidade de dizê-lo: o Setúbal é a equipa da liga que melhor faz as transições ofensivas. Concordo inteiramente com isto. Mas, assim sendo, como compatibilizar uma equipa supostamente defensiva com uma equipa que faz boas transições ofensivas? Uma destas coisas não pode ser verdade. A não ser que essas transições ofensivas, embora boas, sejam esporádicas, o que não correcto. Acontece, isso sim, que o Setúbal é uma equipa bastante completa. Defende muitíssimo bem, com uma organização estupenda, em bloco, com os jogadores muito juntos, utilizando uma pressão baixa, mas agressiva. Esta forma de defender privilegia a ocupação de espaços recuados, o encurtamento entre linhas e dá a iniciativa de jogo, até certo ponto do terreno, ao adversário. Em vez de começar a pressionar logo no meio-campo, o que concederia alguns espaços entre linhas, o Vitória encolhe-se estrategicamente e só ataca o portador da bola mais atrás. Isto faz com que haja pouco espaço e que o futebol do adversário, se não for dinâmico e envolvente, tenha pouco sucesso.

É verdade que há mais equipas que assentam o seu sistema defensivo num bloco baixo, mas poucas aquelas que conseguem executar o tipo de pressão que o Setúbal executa, a toda a largura do terreno e com uma concentração de jogadores extraordinária. Esse é o grande segredo da consistência defensiva dos sadinos. Agora, se o Setúbal fosse só isto, uma equipa que defende bem, talvez conseguisse alguns empates e, com sorte, ganhasse alguns jogos às custas da inspiração dos avançados. A verdade é que isto não é bem assim. Saíram alguns jogadores nucleares e a equipa, enquanto equipa, continuou a ser eficaz, o que prova que o sucesso ofensivo não estava directamente relacionado com a perícia dos elementos ofensivos. O Setúbal de Carvalhal, além de defender bem, ataca bem. Quando em posse de bola, a equipa não a esbanja desleixadamente. Se o adversário puder ser apanhado em contrapé, o ataque é lançado rapidamente, mas sempre com transições seguras, com passes rasteiros, ponderados, de pé para pé. Mesmo quando a equipa utiliza um futebol mais directo, a bola raramente é lançada para jogadores com poucas possibilidades de a conservarem. Os passes verticais são do melhor que há neste campeonato, normalmente à procura de Pitbull, que depois segura, espera pelo avanço dos companheiros e orienta o ataque. Quando o adversário está melhor posicionado, o Setúbal opta por sair a jogar calmamente, procurando sempre o meio-campo: a bola do lateral raramente percorre a linha; o passe é sempre à procura do médio. O futebol apoiado do Vitória, nas primeiras fases de construção, é de uma precisão espantosa. Depois, raramente a bola sai do médio para as alas; a transição típica é o passe rasteiro vertical, o que possibilita uma subida gradual da equipa. Além disso, sem bola, toda a equipa trabalha muitíssimo bem e há, normalmente, bastantes linhas de passe.

Em termos ofensivos, este é, basicamente, o segredo da equipa: futebol seguro, rápido quando pode sê-lo, mas sempre consciente da importância da posse de bola. A equipa sobe sempre em bloco, provocando poucas rupturas entre linhas, e a movimentação sem bola de todos os elementos é excelente. Além disso, é notável a capacidade que a equipa tem para dar apoios: o jogador que recebe a bola raramente o faz sem ter uma solução de passe imediatamente garantida. Aliás, o jogo em apoios do Setúbal não tem mesmo paralelo em Portugal. E é precisamente este jogo apoiado, este subir e descer em conjunto, como se os jogadores estivessem amarrados, que faz a força da equipa. Defendem bem e atacam bem porque raramente fazem os dois processos isoladamente; defendem e atacam em equipa, como poucos o fazem, com cada jogador a apoiar outro, com e sem bola.

Para quem diz que o Setúbal joga um futebol feio, conte-se os passes falhados, os pontapés sem nexo que a equipa dá. Para os que acham que a equipa só defende, conte-se a posse de bola que conseguem, em cada jogo. Carlos Carvalhal disse, depois de ter ganho ao Sporting após ter perdido Edinho e Matheus, que ficava provado que "uma equipa não é apenas o somatório das individualidades". Para muita gente, isto é uma tautologia e nem sequer se terão preocupado em entender correctamente o significado destas palavras. Mas a verdade é que o Vitória de Carvalhal ilustra isto melhor que qualquer outra equipa neste campeonato. Não estou a falar de vontade, de garra, de motivação, de coragem, de espírito de grupo. Estou a falar de táctica. Há equipas (90% delas) cuja valência se poderia obter somando a valência de cada jogador. Não é o caso deste Setúbal. Com um plantel modesto, a equipa já ganhou uma taça da Liga, está nas meias-finais da Taça de Portugal e reparte o quarto lugar do campeonato com o Sporting. Coincidência? Boa época que não mais se voltará a repetir? Claro que não. A excelente temporada do Vitória é fruto do futebol colectivo da equipa. Muito mais que um extremo de qualidade, quem joga a extremo é toda a equipa; mais do que uma dupla de centrais experiente, quem defende é toda a equipa. Cada processo de jogo é obtido dividindo o esforço por cada jogador. Não há uma bola que se dispute que a equipa não o faça em conjunto. Os jogadores estão sempre perto uns dos outros, sempre preparados para dobrar o companheiro ou para lhe dar uma linha de passe quando ele tiver a bola. Esta coesão, este sentido colectivo, muito mais significativo que a soma de todas as individualidades, é que é a verdadeira valência da equipa. Nenhum jogador está entregue a si próprio, quando tem a bola, ou quando não a tem. Nenhum jogador tem uma função em campo; tudo o que um simples jogador tem para fazer é feito em conjunto. Para bom entendedor, isto basta.

sábado, 22 de março de 2008

A Modest Proposal

A Modest Proposal é o título de um famoso artigo publicado em 1729 por Jonathan Swift. Perante os problemas sociais da Irlanda, sobretudo a pobreza das classes baixas e a fome, Swift sugeria que os filhos das famílias mais pobres, constituindo mais uma boca para alimentar e sendo, por isso mesmo, um fardo demasiado pesado, deveriam ser vendidos e servir de alimento para os mais ricos. Num tom sério, Swift afirma que esta medida salvaria da miséria os mais desprotegidos e da míngua toda a Irlanda.

Como Swift, tenho também uma "proposta modesta", proposta essa que, estou em crer, catapultaria o futebol português para níveis competitivos bastante consideráveis. Proponho, portanto, que, a partir de agora, os jogadores de futebol que não agridam nenhum adversário, no decorrer dos noventa minutos, sejam alvos de processos sumaríssimos. Acho que já chega de gente pacata nos relvados portugueses; fazem falta aqueles jogadores que são autênticas bestas dentro de campo. Um rapaz que, ao saltar com o adversário, não o atinja com a bota no pescoço é um cobarde. E de cobardes andamos nós fartos! O que o futebol português precisa é de verdadeiros energúmenos, de gente sem escrúpulos que agride descaradamente os adversários, por vezes nas barbas dos árbitros. Esses, sim, é que são jogadores a sério! O verdadeiro português é um brutamontes, um bárbaro. D. Afonso Henriques andou à espadeirada com os mouros todos e conquistou-nos um país para quê? Temos de seguir-lhe as pisadas e passar a bater com força! Só com porrada é que isto vai lá! Aquele que não der uma valente pisadela num companheiro de selecção não presta para nada; aquele que não intimidar, em todos os jogos, o adversário que lhe cabe marcar é um franganote. A minha proposta é simples: a partir de agora, perante uma bola dividida, o árbitro só deve mostrar cartões caso os jogadores não se toquem. Nesse caso, deverá atribuir cartão àquele que, na disputa da bola, não meter o pé acima da cintura do adversário. Aliás, acho mesmo que isto deveria ir mais longe; acho que o jogador cujo maxilar fica deslocado após uma cotovelada de um adversário deve ser imediatamente expulso pelo juiz da partida. No futebol, não há lugar para aleijados. Era o que faltava...

Creio que Swift, caso percebesse alguma coisa de futebol, concordaria comigo e penso, honestamente, que o futebol português teria muito a ganhar se se livrasse desses pseudo-jogadores que têm muito jeitinho, mas que, na hora de sacar da moca para bater nos outros, se encolhem. Proteger os artistas? Está bem, está. Protejamos antes os que vão às canelas em vez de irem à bola... Estou farto de tecnicistas, de intelectuais e de gente bem formada e civilizada. Viva os carniceiros! Viva os desajeitados! Viva as bestas! E, acima de tudo, viva a conivência e a cegueira selectiva dos árbitros e de quem tem poder para castigar os jogadores! A esses, peço-lhes, com toda a sinceridade e do fundo do coração: por favor, abram os olhos e não deixem passar impunes aqueles que, por escrúpulo ou nobreza de espírito, têm a desfaçatez de não atingir, com força suficiente para aleijar a sério, os adversários com quem disputam a bola!

terça-feira, 18 de março de 2008

Sporting - Nacional

Foi um Nacional em bom estilo, aquele que se apresentou na segunda-feira passada em Alvalade. Com excelentes princípios, fazendo uma óptima circulação de bola, correcta nos apoios, assentes num 433 bem definido (um pivot defensivo, com dois médios ofensivos), o Nacional, até sofrer o primeiro golo, já na segunda parte, em nada foi inferior ao Sporting.

Foi, principalmente, através das movimentações de Fellype Gabriel que o clube da Madeira conseguiu criar as melhores ocasiões de golo. Ao flectir para o meio, convidando assim à subida de Patacas, estas movimentações, associadas aos movimentos verticais quer de Juliano, quer de Edson, criaram alguns desequilíbrios. É pena que Coentrão não se tenha apresentado ao seu melhor nível. Neste período, não seria de todo surpreendente que o Nacional se adiantasse no marcador. Com alguma sorte, e Patrício, as redes do Sporting mantiveram-se invioláveis. Do lado sportinguista, as caras mudaram mas as dificuldades mantiveram-se. Adrien ofereceu poucas linhas de passe, comprometendo com isso as primeiras transições leoninas. O puto é bom e as suas características bastantes apreciadas neste espaço, mas de momento ainda lhe falta o discernimento necessário para não se colocar em situações complicadas. Para si e para o colectivo. Nos júniores é capaz de contornar essas más opções com argumentos técnico/físicos, mas nos seniores (ainda) não tem essa facilidade.

O futebol do Sporting continua desconexo e inconsistente. A ânsia de chegar à baliza adversária retira-lhe discernimento, contrariando assim a finalidade de uma boa circulação de bola, ou seja, fazê-la circular até encontrar um desequilíbrio no adversário que lhe permita abordar a conclusão do seu processo ofensivo com uma maior probabilidade de sucesso. Neste momento, o Sporting opta sempre por forçar, e com isso a qualidade do seu futebol diminui, comprometendo quer o seu processo ofensivo, quer o defensivo, com inúmeras perdas de bolas, desequilibrando desta forma a sua organização defensiva.

Realçar o comentador da Sport TV. Não falo, obviamente, de Simões, mas da caricatura que o acompanhou. Os seus comentários, de tão ridículos, tornaram o visionamento do jogo uma verdadeira comédia.

Até ao golo, o jogo não se modificou muito, mas a partir do minuto 55 a história do mesmo alterou-se drasticamente, favorecendo o Sporting.

A partir daí, o clube de Alvalade cresceu e justificou a vitória, mas não pelos números que a obteve. Destacar a exibição de Moutinho, assim como o regresso de Djálo aos golos, assim como Liedson, que obteve dois golos fáceis, depois de assistências de Pereirinha (de calcanhar), e Moutinho (de carrinho), respectivamente.

Duas notas:
1 - Tendo Saleiro e Ricardo Nogueira nos seus quadros, a aquisição de Tiuí serviu para quê?
2 – Quem é capaz de me explicar porque é que se continua a embirrar com o Pontus? Falta de intensidade? Passes curtos e só para o lado? A sério?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Derby de que futuro...?

No dia oito deste mês, Sporting e Benfica defrontaram-se no escalão de júniores. Um encontro pobre, sem grandes pólos de interesse. Uma primeira parte cinzenta, sendo que os únicos jogadores que foram capazes de emprestar algum colorido à partida foram os números dez das respectivas equipas. Rosa e Rosado destoaram dos restantes pela elegância e inteligência de movimentos. No meio das “desculpas” benfiquistas para tão pesado resultado encontramos o facto de a formação encarnada se apresentar desfalcada. Vi o jogo da primeira volta e nenhum dos jogadores que jogaram para Miguel Rosa começar no banco tem metade da qualidade deste, por isso não aceito as desculpas apresentadas pela generalidade dos adeptos, de que o Benfica rubricou exibição tão fraca devido à ausência de alguns jogadores.

Os comandados de José Lima, com transições simples, procuravam os corredores laterais, descurando as penetrações interiores. Este facto, aliado à incapacidade dos extremos sportinguistas em vencer os duelos individuais, tornou o jogo da equipa verde e branca “amorfo” e previsível. Para piorar a situação, tanto Welinton Matos, como Vinicius Golas, (apesar de o primeiro se ter destacado, pela negativa, em relação ao seu colega) saíram poucas vezes a jogar, optando quase sempre, e de forma errada, pelos lançamentos longos. Neste sector, nota positiva para actuação de Mihai Radut, se bem que não apresente a qualidade de André Nogueira, por exemplo: é correcto a defender e demonstrou critério nas manobras ofensivas.

João Alves apresentou uma equipa em 442 clássico, com a única particularidade a estar relacionada com a maior liberdade de movimentos concedida ao numero onze, Daud Machude. Com um sector defensivo descoordenado, valeu aos laterais a parca inspiração dos seus adversários directos, assim como a Wagner Silva, principalmente este, deu jeito a pouca qualidade das transições ofensivas, pois sempre que foi posto à prova revelou grandes dificuldades na resolução dos (poucos) problemas que surgiram nas imediações da sua área.
Com um futebol mais directo, o Benfica apostou tudo nas movimentações dos dois avançados, sendo que Boti Demel foi o que se destacou mais neste aspecto, enquanto Miguel Rosa, que ia espalhando classe no relvado principal da academia, fazia os possíveis por dar algum sentido àquele futebol desconectado.

O intervalo veio e, com ele, os golos. À passagem do minuto vinte da segunda parte, e já depois do melhor jogador leonino, Diogo Rosado, ter saído, Diogo Amado, num lance feliz, converteu em golo um livre em que pretendia servir um companheiro. Foi a altura de o público rejubilar com “uma fartura de nada” com que o pequeno Rabiu brindou a plateia. Não que esteja a colocar a qualidade do nigeriano em causa, longe disso, até porque a qualidade técnica e o raciocínio rápido estão lá, mas a necessidade de aplaudir a mais nova coqueluche do universo leonino chegou a ser ridícula. No lado benfiquista, Leandro Pimenta destoava pela vocação que demonstrava para o circo: se ele se preocupasse mais em decidir o que é melhor para o colectivo, em vez de executar movimentos “esquisitos” com a bola, assim que encontrava a oposição de um adversário, talvez, talvez ele pudesse dar alguma coisa. Já perto do fim, Bruno Matias, depois de uma jogada de Marco Matias, na qual sofreu um penalty, converteu a grande penalidade, - e que teve como consequência disciplinar a expulsão de dois elementos Benfiquistas - aumentado assim para 2-0 o resultado do jogo. William Owuso, nos descontos, fechou a contagem, fixando em 3-0 o resultado final.

Poderei estar a ser injusto nesta análise ao jogo e respectivas equipas, mas depois de conhecer a equipa de 2005/2006, na qual pontificavam nomes como Diogo Tavares, Pereirinha, Carriço, Celestino, André Nogueira, Patrício, Caiado, etc., a diferença de qualidade existente entre essa equipa e as que pisaram o relvado principal da Academia Sporting/Puma, no sábado passado, condiciona, e de que maneira, a minha perspectiva sobre o futuro de grande parte dos jogadores que neste momento compõe o plantel da equipa de júniores de ambos os clubes da capital.

quarta-feira, 12 de março de 2008

As lágrimas de Messi

Pelo terceiro ano consecutivo, o astro argentino do Barcelona, Lionel Messi, ficará (tudo indica) impossibilitado de participar na caminhada da sua equipa pela Liga dos Campeões. Depois de o ano passado a equipa ter sido eliminada cedo e de, há duas épocas, se ter lesionado precisamente nos oitavos-de-final e de não mais, até à final, ter conseguido recuperar, voltou este ano a contrair uma lesão nos oitavos-de-final, numa eliminatória que o Barcelona, uma vez mais, superou. Não sei se a lesão deste ano implicará um tempo de paragem igual à de há dois anos, mas quase toda a caminhada do Barcelona estará, certamente, perdida. O argentino, um dos melhores do mundo e, sem dúvida, um dos jogadores que mais entusiasma, hoje em dia, o verdadeiro adepto de futebol, saiu do terreno lavado em lágrimas. A cena foi mesmo comovente: aquele miúdo, que o mundo do futebol já aprendeu a respeitar, rendeu-se à pequenez humana, a uma pequena, mas decisiva lesão, a um claro sinal de como o corpo humano é frágil e pode, a qualquer momento, trair-nos, e chorou compulsivamente. Com as mãos tapando o rosto, pranteando como uma criança perdida da mãe, foi confortado pelos colegas. Acredito que não sentiu nenhum gesto de apoio, nenhum aplauso, nenhuma palmadinha nas costas. Na sua cabeça, estaria apenas a dor de não poder continuar em campo, muito maior que a dor física, e a raiva, a impotência perante tamanho azar. Até nisso o futebol nos mostra o quão injusto pode ser: há jogadores que fazem falta, que não mereciam lesionar-se nunca. Mas assim foi. Como Aquiles, fatalmente atingido no único ponto do corpo que o poderia matar, Messi não pôde continuar a jogar. Saiu a chorar, como se não lhe restasse mais do que deixar escapar a frustração. As lágrimas foram do argentino, é certo. Digo eu, porém, que aquelas lágrimas são de todos aqueles que sentiram, ao mesmo tempo que o pequeno génio chorava, que se passara algo de profundamente errado nos desígnios divinos.

sábado, 8 de março de 2008

Por essa Europa fora

Uma jornada europeia, no mínimo, bastante interessante. Por um lado, o desalento, quer pela lesão de Messi, quer pela impossibilidade de jogadores como Lucho, Quaresma, e Lisandro, continuarem na Champions. Não falo das derrotas do Real Madrid ou do Milan, porque nesses jogos era inevitável que um excelente naipe de jogadores ficasse pelo caminho. O Porto, com uma exibição bem conseguida, mas também muito consentida pelo adversário, não foi capaz de ultrapassar um Schalke demasiado receoso. De nada valeu o excelente trabalho de Lisandro naquele extraordinário golo. O Fenerbahçe, apesar do guarda-redes, fraquinho, e do avançado sem talento para fazer dupla com Liedson – Deivid -, deixou pelo caminho o Sevilha, que parece outra sem Juande Ramos. O Milan não resistiu ao talento de Cesc Fabregas e companhia, assim como o Lyon foi demasiado curto para o Manchester, com mais um golo de Ronaldo. De resto, Barcelona e Chelsea, com naturalidade, limitaram-se a confirmar a sua superioridade, enquanto o Roma, repetindo o resultado da primeira mão, deixou o Real pelo caminho.


Na Uefa, o Bayern continua imparável: 5-0, e um livre soberbo de Ribery. Do lado dos portugueses, Sporting e Benfica dão uma péssima imagem do nosso futebol. O onze de Alvalade é uma caricatura da equipa do ano passado. Jogam mal, de forma desorganizada, e sem identidade. Aquilo que no ano anterior faziam com tanta qualidade, a circulação de bola, a inteligência necessária para perceber que, caso de não se conseguir entrar por um lado, deve-se circular a bola até se encontrar uma situação privilegiada para se concluir o lance. Depois, a opção pelo jogo directo (com Abel em destaque) com uma equipa inglesa é, no mínimo, brilhante. Começando nas palavras do técnico leonino, que optou por pedir que os seus jogadores jogassem com as armas do adversário, em vez das suas – falo das suas palavras aos jornalistas: “ Vamos ter de saltar, correr, lutar...”. Um apelo feito ao único aspecto em que os ingleses poderiam superá-los: A vontade e entrega. No entanto o resultado não foi tão mau como a exibição, e o empate a uma bola, abre boas perspectivas para o jogo em Alvalade, desde que haja Vukcevic.


por Gonçalo

quarta-feira, 5 de março de 2008

Lógica da Batata

Se o campeão Espanhol e actual líder isolado da liga espanhola, com 5 pontos de avanço, caiu nos oitavos-de-final da Champions,

Se o campeão Italiano e actual líder isolado da liga italiana, com 6 pontos de avanço, só muito dificilmente permanecerá em prova, devendo cair, portanto, nos oitavos-de-final da Champions,

Se o hexa-campeão Francês e actual líder isolado da liga francesa, com 3 pontos de avanço, caiu nos oitavos-de-final da Champions,

Logo, era natural que o bi-campeão português e actual líder isolado da liga portuguesa, com 12 pontos de avanço, caísse nos oitavos-de-final da Champions.

É impressão minha ou, esta temporada, as equipas que estiveram envolvidas num campeonato pouco competitivo, resolvido ou controlado há muito, acabaram por não se safar na Champions? Além do campeão italiano, que provavelmente cairá, do campeão espanhol, do campeão francês e do campeão português, também caíram o campeão escocês, o campeão grego, o detentor da Champions e o detentor da Uefa. Só há um campeão nacional em prova, caso o Inter seja mesmo eliminado: o Manchester United.

P.S. Eu sei que esta lógica é estúpida, logo justificar a eliminação do Porto desta forma não é senão uma piada. Apesar disso, aposto que vão aparecer aí mentecaptos a justificar a eliminação do Porto pela exibição de sonho do guarda-redes do Shalke e pela má arbitragem. E esses, ao contrário de mim, vão estar a falar a sério...