sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Misterioso Problema do Sporting e os Indiscutíveis

Como muitos dos textos que escrevo, este é uma resposta imediata a uma determinada opinião generalizada entre quem fala de futebol. Muito se escreveu, ao longo da época passada, sobretudo quando o Sporting começava a ficar afastado do título, sobre o que ia mal para os lados de Alvalade. A teoria que então surgiu, e sobre a qual não me pronunciei até hoje, é de que o compromisso que o Sporting tem para com a banca, que o impossibilita de gastar tanto como os rivais, está directamente relacionado com o mau desempenho desportivo recente e é mesmo a principal causa do mesmo. Não concordo nem nunca concordei com isto.

Segundo esta teoria, que entretanto parece ter caído novamente em desuso (provavelmente porque depois o Sporting ainda conseguiu ficar em segundo lugar e arrecadar novamente a Taça de Portugal), o Sporting caminha para um processo de "belenensização", segundo palavras de um certo sábio. Ou seja, com o compromisso para com a banca, o Sporting não pode investir na melhoria do plantel; não o fazendo, perde gradualmente valor, o que faz com que conquiste cada vez menos coisas; conquistando menos coisas, os jovens jogadores formados na Academia valorizam-se cada vez menos; sendo a venda de activos do clube a maior fonte de receitas do mesmo, essa valorização cada vez menor implica receitas cada vez menores e, por conseguinte, cada vez menos capacidade para investir. Segundo esta teoria, o Sporting do ano passado, arredado da luta pelo título logo muito cedo, manifestou já um decréscimo de qualidade evidente e foi o prenúncio dessa gradual perda de capacidade de investir. Ou seja, para certos iluminados, os resultados menos positivos de uma época foram suficientes para provar uma teoria que só poderia ficar provada ao fim de muitas épocas. Se esta teoria estivesse correcta, como explicar a boa campanha da equipa de Paulo Bento no ano imediatamente anterior? Há dois anos, o Sporting fora uma equipa forte, ficando em segundo e lutando pelo título até ao fim, além de ter ganho a Taça de Portugal. De repente, já era uma equipa fraca? Não faz sentido.

O insucesso da época anterior, sobretudo na prova de resistência (uma vez que venceu a Taça, foi eliminado da Taça UEFA pelo finalista vencido e chegou à final da Taça da Liga), tem outras explicações. Antes de me deter nelas, gostaria de dizer que a teoria anterior não tem pés nem cabeça. A estratégia desportiva do Sporting é diferente da dos seus rivais e passa por uma contenção financeira muito maior. Em contrapartida, a aposta na prata da casa acaba por, de certo modo, compensar o menor investimento e tem sido, ao longo dos últimos anos, suficiente para manter o Sporting a um nível idêntico ao do Benfica e ao do Porto. Ao contrário dos rivais, que investem muito e esperam obter retorno desse investimento com a valorização desportiva dos jogadores em que investem, o Sporting investe consideravelmente menos e aposta de forma mais clara na valorização de jovens formados no clube. Em termos financeiros, não se pode dizer que tem sido uma má política, uma vez que, à excepção deste último defeso, o Sporting tem conseguido encaixar sempre algum dinheiro. Mas a teoria não rejeita isto. O que diz é que o problema do Sporting é a nível desportivo. Apostando em jovens que acabam por valorizar, pode ser capaz de vendê-los mais tarde, mas vai subsistindo com uma equipa constantemente formada por jogadores inexperientes, o que em termos desportivos pode ser prejudicial. A minha discordância com esta teoria não tem a ver com isto, embora considere falso o facto de o Sporting ser desportivamente menos competitivo que os rivais por causa desta estratégia. Aquilo de que discordo veementente é da consequência disto. É que, segundo esta teoria, uma equipa formada deste modo não só não é desportivamente competitiva como, por causa de não o ser, também não será, a longo prazo, financeiramente competitiva. Segundo os defensores desta teoria, o Sporting, por causa desta estratégia, ganhará cada vez menos coisas, será cada vez mais fraco a nível desportivo, o que fará com os seus jogadores sejam cada vez menos valiosos, o que, por sua vez, implica menos encaixe financeiro e, gradualmente, menos capacidade para se apetrechar com bons jogadores. Como tem sido visível, a estratégia continua a dar alguns frutos, logo a especulação em torno dela não parece plausível. O Sporting, gastando perto de três vezes menos que os seus rivais (se não for mais), continua a ser uma equipa competitiva; foi a equipa que mais coisas ganhou nos últimos anos e que melhor réplica conseguiu dar ao Porto, que ainda continua a usufruir das conquistas de Mourinho e de toda a valorização que essas conquistas possibilitaram. A estratégia do Sporting não só não tem revelado um decréscimo de qualidade desportiva, como não implica uma capacidade de investimento cada vez mais inferior, como ficou comprovado por este defeso, em que se gastou mais e não se recebeu nada. Os defensores desta teoria continuam a não ter qualquer testemunho substancial que a ateste.

Isto leva-nos para outra questão: se o problema do Sporting não é a capacidade cada vez menor para investir, qual é? Por que razão correu tão mal a época passada? A minha resposta é: por questões meramente desportivas. Não considero, como muita gente, que o Sporting tivesse um plantel mais fraco que o Porto. Considero, isso sim, que as opções iniciais de Paulo Bento eram inferiores às de Jesualdo. Mas nisto há também muita culpa do treinador leonino. Os erros de Paulo Bento não são circunstanciais. Isto é, Paulo Bento não é um treinador que umas vezes acerta, mas outras erra. Não. Paulo Bento tem boas coisas, enquanto treinador, mas tem certos caprichos, certas ideias predeterminadas que têm sido e continuam a ser, ao fim de três anos, a fonte maior dos seus erros. Isto faz com que as coisas corram, certas vezes, bem, outras vezes mal. Daí os problemas acentuarem-se numa prova de regularidade e ficarem disfarçados em provas a eliminar. É, portanto, dos erros de Paulo Bento que irei falar em seguida.

Há essencialmente dois tipos de erros: os erros tácticos, que afectam o colectivo, enquanto colectivo, e erros de apreciação e selecção de elementos do colectivo. Do primeiro tipo, consigo apontar essencialmente dois erros graves a Paulo Bento: a preferência constante (foi assim em todos os três anos) por um pressing menos alto do que seria desejável, tendo em conta as características do nosso campeonato, e a cada vez mais frequente opção pelo jogo directo (o futebol da sua equipa foi sendo cada vez mais objectivo, perdendo com isso lucidez, capacidade de mandar no jogo, de ter a bola, etc.). No que toca, porém, a jogadores e a opções técnicas - e é aqui que considero importante chegar - é que considero que reside o maior problema de Paulo Bento. Desde a opção, quase sempre falhada, de utilizar um avançado como vértice ofensivo do losango (principalmente Djaló), à insistência em certas pedras que, a dada altura, se percebia que eram nocivas ao desempenho da equipa, muitos têm sido os erros de Paulo Bento. É neles que me vou deter em seguida.

Começo por Romagnoli. Depois de uns primeiros bons seis meses, Romagnoli começou a época 2006/2007 em grande, mas quando a equipa começou a produzir pouco, foi imediatamente feito bode expiatório. O que Paulo Bento não percebeu foi que a equipa não produziu pouco porque Romagnoli produziu pouco, mas sim que Romagnoli produziu pouco porque a equipa produziu pouco. A relação causal existiu, mas Paulo Bento percebeu-a ao contrário. Aliás, a pouca produção individual de Romagnoli é quase sempre sinal de que a equipa está mal. Romagnoli precisa, não raro, de que a equipa seja capaz de ter bola, de circulá-la com segurança até que ela chegue a si. Paulo Bento não percebeu isto. Aliás, continua a não perceber: sempre que a equipa está mal, sacrifica o argentino. O que é certo é que Romagnoli esteve então algum tempo afastado da equipa, altura em que o Sporting perdeu o comboio do título. Quando se percebeu que o argentino era fundamental na equipa, já era tarde de mais. A presença de Romagnoli no onze esteve ligada à recuperação da segunda volta e veio provar que o pequeno craque tinha, obrigatoriamente, de jogar.

O segundo nome que pretendo frisar é o do inevitável Liedson. O brasileiro é e continuará a ser nocivo ao colectivo. Não é coincidência que o Sporting tenha começado a jogar menos à bola desde que Liedson voltou aos relvados. A produção ofensiva do Sporting liga-se, em grande medida, ao tipo de avançados que tem na frente. Com Liedson, o Sporting está claramente mais fraco, tem menos bola em zonas ofensivas, tem um avançado a menos a servir de apoio vertical e, como tal, está obrigado a um jogo muito menos pausado, a um jogo mais rápido, mais rectilíneo, com solicitações recorrentemente para as costas da defesa. Com Liedson, o futebol do Sporting é muito mais previsível e, contra equipas que defendem com um bloco muito baixo, menos eficaz. Em Portugal e em qualquer jogo em que o adversário defende muito fechado, os avançados têm de saber tabelar, têm de saber baixar para dar um apoio vertical; não podem ser só baratas tontas que se mexem erraticamente. Liedson faz do Sporting uma equipa pequena. É o típico jogador que, porque é rápido, ágil, e sabe aproveitar os espaços nas costas da defesa e dentro da área, serve os interesses de uma equipa que joga em contra-ataque ou com um futebol simples, de jogo mais directo. Para uma equipa grande, que precisa que um avançado seja alguém capaz de aparecer entre linhas a tabelar uma bola e capaz de intervir em várias das fases de construção de jogo, Liedson não serve. E poderão até alegar que, nos últimos jogos, o Sporting ganhou invariavelmente pela margem mínima e que o golo foi marcado por Liedson. A minha resposta a isso é igualmente factual. Sem Liedson, se exceptuarmos os jogos com Barcelona, Benfica e Porto, que são sempre jogos especiais, o Sporting tinha três vitórias no campeonato em outros tantos jogos e uma vitória na Liga dos Campeões num único jogo. Ou seja, sem Liedson, o Sporting ganhara sempre os jogos que tinha obrigação de ganhar. Em termos de golos, Postiga, Djaló e Derlei tinham, até à altura, dado conta do recado. Com Liedson, o Sporting tem produzido claramente menos e perdido pontos que não deveria perder. Coincidência? Não me parece. O facto de marcar alguns golos não pode fazer presumir que, sem Liedson, esses golos não existiriam, já que, sem Liedson, havia golos. O que se pode presumir, isso sim, é que com Liedson, o Sporting joga menos à bola. A quantidade de ataques que a falta de inteligência dele destrói é enorme. Ora bem, Paulo Bento é apaixonado por Liedson. Esse é outro dos problemas, um dos mais graves, a meu ver. A equipa produz claramente pouco com o Levezinho em campo e, numa prova de regularidade, isso é determinante. Há quem diga que Liedson é o abono de família do Sporting. Eu atrevo-me a dizer que, com Liedson, o Sporting só ganhará um campeonato se Porto e Benfica facilitarem.

Se pensarmos, então, na forma como Liedson entrou na equipa agora, ao voltar de lesão, podemos então perceber muita coisa sobre os erros de Paulo Bento e sobre a má gestão desportiva do treinador do Sporting. Djaló, Postiga e Derlei, sobretudo os dois primeiros, estavam em momentos de forma muito bons e, assim que Liedson pôde jogar, Paulo Bento não hesitou em relegá-los para o banco. Ou seja, dos dois lugares para avançados, um deles está reservado. Ora, que espécie de motivação é que um jogador que sabe que tem que lutar com três companheiros por um lugar no onze pode ter, quando um outro tem o seu cantinho reservado, ainda por cima sem o justificar? Djaló terá mesmo, a dada altura, perdido a paciência e ficou fora de uma convocatória. Há quem considere que Paulo Bento tem razão e que o jogador tem que acatar a decisão do treinador. Mas isso é falso. Djaló não tem que acatar coisíssima nenhuma. E não tem que acatar porque não há razão para tal. Ele merecia jogar e um amor imbecil do treinador por um jogador não é justificação para não jogar. Djaló só teria que aceitar esta situação se por acaso o jogador em causa entrasse e justificasse (não é com um golo por jogo que se justifica nada) essa entrada. Tal não aconteceu. O Sporting era muito mais equipa com Djaló do que com Liedson. E o mesmo se passará com Postiga. Postiga ainda não perdeu as estribeiras, mas tem toda a legitimidade para perdê-las, quando for o caso. E isto por uma razão simples. Porque a indiscutibilidade de um jogador justifica-se em campo e nos treinos. O problema é que, para Paulo Bento, há indiscutíveis por haver, porque lhe apetece que haja.

Está, finalmente, lançado o segundo tema deste texto: os indiscutíveis. Um dos grandes problemas de Paulo Bento é o ter indiscutíveis. E tê-los à priori, isto é, sem basear essa indiscutibilidade na justificação da mesma. Este tema prende-se com a forma de liderar de Paulo Bento e com o porquê de jogadores mais temperamentais acabarem por ser proscritos pelo técnico leonino. Liderar não é só mandar. Aquele que é liderado deve sentir que tem tantos direitos e deveres quanto o colega. Por isso, um bom líder não pode ter indiscutíveis. Mas Paulo Bento tem-nos. Tem Polga, tem Moutinho, tem Liedson e tem Rochemback, agora. Nenhum destes, por pior que esteja, sai da equipa. Isto é um erro. E é um erro porque confere a estes um estatuto de intocável que faz com que os outros saibam que todo o esforço para os substituir é inglório. Se Djaló não aguentou a injustiça de Liedson voltar à equipa sem qualquer espécie de justificação, Miguel Veloso também não aguentou o facto de, de um momento para o outro, Rochemback passar a ter de jogar no seu lugar, relegando-o para a posição de lateral-esquerdo. E, tal como Liedson, Rochemback ainda não justificou a sua utilização. Mas, entretanto, continua a jogar. Paulo Bento cria fetiches com determinados jogadores e imagina que, por pior que eles estejam, devem continuar a jogar. Liedson e Rochemback não só não têm dado nada à equipa como, por terem o estatuto que têm, têm ajudado a dividir um grupo que deveria estar coeso. Ao ter indiscutíveis, Paulo Bento passa uma mensagem negativa ao seu grupo. Daí à desmotivação vai um pequeno passo e os primeiros a quebrar são precisamente os mais temperamentais, aqueles que se apercebem da injustiça e que não são capazes de continuar a ser humilhados, enquanto outros vivem como lordes, gordos e apaparicados. Vukcevic foi só o caso mais grave.

Diz Mourinho, sobre a forma de motivar o jogador latino, o seguinte:

"O jogador latino não é especialmente obediente à hierarquia. É obediente à competência. Não sou obediente porque tu és treinador; sou obediente porque sabes mais disto que eu, porque és bom, porque treinas bem, porque tens razão." (Luís Lourenço e Fernando Ilharco, Liderança: As Lições de Mourinho, pp.186)

Ora, Vukcevic, assim como Veloso e Djaló, em menor escala, perceberam e insurgiram-se contra a incoerência de tratamentos dentro do balneário leonino. Enquanto Moutinho pode dizer o que quiser, que não sai da equipa, para outros uma palavra despropositada é logo motivo de processo disciplinar. Enquanto Rochemback e Liedson, estando aptos a jogar, jogam, para outros todo o esforço do mundo é insuficiente. Assim, não valerá a pena. Vukcevic terá, por certo, consciência de que tem mais valor que Rochemback e Liedson e que pode ajudar a equipa muito mais do que estes dois. Percebendo que, por mais que fizesse, nunca atingiria o estatuto destes dois, perdeu a cabeça, desmotivou-se. Nada mais normal. Como diz Mourinho, precisava de ter visto em Paulo Bento competência, mas viu apenas um superior hierárquico, caprichoso, intolerante, intransigente e incoerente. Percebeu que Paulo Bento tinha indiscutíveis por ter, porque lhe apetecia tê-los; percebeu que Paulo Bento não justificava a existência desses indiscutíveis com competência, mas sim por capricho. Um jogador talentoso, cheio de vontade de mostrar o seu valor, consciente da sua qualidade, jamais poderá acatar uma liderança tão inábil quanto a de Paulo Bento. Para Bento, há intocáveis porque ele decidiu haver; para um treinador competente, esse estatuto ganha-se. Vukcevic tem toda a razão para ter agido como agiu: nunca foi respeitado como outros o são, muitos deles sem o merecerem. Quem faltou primeiro ao respeito nesta história toda foi o treinador, ao não tratar todos da mesma maneira. O resto é conversa...

P.S. Queria pedir desculpa pela extensão exagerada do texto. Juntei dois assuntos que há muito queria abordar e acabou por ficar deste tamanho estúpido. Mas estava mesmo na hora de falar disto tudo...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

"A arte e beleza expulsam todo o mal do mundo"

Não consigo confirmar se esta frase é da escritora Agustina Bessa Luis, mas a verdade é que podíamos aplicar a mesma à peregrinação de Del Piero pelo campeonato Italiano.

A verdade é que, nos tempos que correm, ter o privilégio de ver actuar um jogador como Del Piero é um verdadeiro luxo. Não só pela classe que demonstra em cada lance, mas pela qualidade que coloca em cada decisão e movimento.

A inteligência do "Pinturicchio" não se manifesta só na qualidade das decisões que toma, mas na maneira como com consegue "comprar" espaço e tempo no futebol actual. Valendo-se "apenas" de uma técnica sublime, sem ser poderoso fisicamente ou velocista, o número dez da Juve não só consegue criar espaço para o seu futebol como ainda tem o desplante de cobrir os seus movimentos com a ilusão de que tudo o que faz é de uma naturalidade e com uma serenidade que ofende. Dá a ideia que ele ouve Beethoven enquanto joga - será Für Elise? - enquanto que o resto anda entretido a ouvir The Prodigy.

No entanto, o que mais supreende é a maneira como um jogador, por si só, consegue esconder e defender um sistema táctico tão desequilibrado como o da Juve (se bem que com a nova epidemia deste sistema as coisas fiquem mais fáceis).

Há muito que venho criticando este sistema. Apesar de não ser um assunto isento de polémica, a minha opinião sobre este assunto não se tem alterado, não porque tenha mantido uma atitude autista em relaçao ao mesmo, mas porque quanto mais informação absorvo e cruzo, mais perto fico da conclusão que é uma táctica que coloca grandes dificuldades à proliferção, com sucesso, do modelo de jogo que idealizo. Todavia, Del Piero consegue, através do seu talento, "mascarar" as debilidades da equipa de Turim, de tal forma que muitos apelidam-na de inteligente. Nada mais errado. A equipa apresenta um futebol "primitivo", com os vários momentos do jogo bem separados, com transições simples e um bloco (muito) baixo. A opção por este modelo de jogo poderia comprometer de forma irremediável os objectivos de uma equipa como a Juve. Poderia, não fosse o número 10.

Com os seus golos (e a maneira como os alcança), a forma como compra tempo e espaço para o seu jogo, acrescentando tempo ao onze de Ranieri. Tempo de qualidade, através da magia de Del Piero, que intimida, e inspira. Porque na bola há de tudo: os que jogam; os que jogam e ensinam, etc. Mas Del Piero inspira. Obrigado.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Andar de Carroça

O Tottenham, desde que Juande Ramos foi despedido e Redknapp assumiu as rédeas da equipa, tem ganho quase sempre. Para muitos, está melhor. Para mim, não. A principal diferença é que, antes, a equipa tinha um automóvel topo de gama, mas os jogadores não sabiam conduzi-lo. Agora, tem uma carroça que vai, de socalco em socalco, vencendo os obstáculos que lhe aparecem pela frente. Mas isto apenas até ficar atascada numa poça de lama. Os jogadores, acostumados ao que aprenderam, habituados às leis em que foram formados, só sabem jogar de uma maneira. Estão formatados para jogar à inglesa e, qualquer que seja a alteração, reagem mal. Talvez Juande Ramos não tenha sido suficientemente competente para ensinar os seus pupilos a conduzir um automóvel tão bom, mas a verdade é que, assim que lhes facilitaram as coisas, assim que chegou um treinador inglês, igual a todos os outros treinadores ingleses, começaram a ter resultados. E começaram a tê-los porque voltaram a jogar do mesmo modo que jogaram toda a vida, de um modo fácil que, por estarem habituados, lhes permite pôr o seu valor individual em destaque.

Mas, deste modo, o futebol do Tottenham nunca passará disto, nunca será mais do que essas individualidades. No fundo, a saída de Juande Ramos, embora tenha feito com que os resultados começassem a surgir, representa a estagnação evolutiva da equipa. A partir de agora, o Tottenham será só isto. É verdade que tem valores fantásticos, mas como colectivo jamais chegará onde poderia chegar com o treinador espanhol. Em Inglaterra, prefere-se andar de carroça. Quando se pega num automóvel, não se sabe conduzi-lo. A máquina que Juande Ramos poderia criar era claramente superior à que Redknapp algum dia poderá vir a construir, mas os jogadores, acostumados a conceitos simples e a jogar essencialmente com o coração, não souberam fazer parte dela. Provavelmente, estarão até mais felizes agora, que começaram a ganhar. Infelizmente, estar feliz significa, por norma, não ter consciência do quão pequeno se é. Estes jogadores, ainda que sorridentes pelas vitórias recentes, não têm consciência do que perderam. Com Juande Ramos, o potencial a que cada um deles poderia chegar seria, por certo, muito maior do que alguma vez virá a ser. Lá está, é o hábito de andar de carroça, o hábito de ser pequeno.

domingo, 9 de novembro de 2008

Professor...

No futebol actual, são cada vez menos os jogadores que nos apaixonam. Menos ainda são aqueles que nos "ensinam" futebol.

Aimar é um desses (poucos) exemplos.

O número 10 benfiquista tem-nos presenteado com verdadeiras lições de futebol, tanto a nível interpretativo como no aspecto técnico.

Na memória de todos ainda está aquela pequena maravilhosa "rabona" do argentino. A dificuldade, neste caso, consiste em determinar o maior mérito: se o do gesto técnico, se o da leitura rápida e correcta do lance. Porque estes movimentos, muitas vezes, funcionam apenas como artifícios e, como tal, seriam à partida dispensáveis. Direi mesmo que serão contrários à essência do futebol enquanto jogo. Porque muitas vezes são executados à margem de qualquer estratégia de jogo, em que cada movimento encerra sobre si mesmo a própria finalidade. Aimar, no entanto, utiliza a sua capacidade de execução como desbloqueador de situações complexas. As exibições de Pablito confundem-se entre os truques e a inteligência do seu futebol.
Digo "confunde-se" porque manda a razão que se jogue futebol de forma simples, que se coloque em campo os meios e esforços necessários para o sucesso da nossa forma de jogar (enquanto equipa), e que evitemos as palhaçadas frívolas.

A essência do futebol de Aimar não tem nada a ver com qualquer gesto técnico vistoso. A substância presente em cada movimento de Aimar, do mais complexo ao mais banal, é em função do que o jogo lhe requisita em dado momento para alcançar um objectivo que encerra muito mais do que esse simples momento. Ou seja, os seus movimentos não são desconectados entre si. Daí ele perceber quando deve lançar um jogador para um contra-ataque mortífero, ou por outro lado, quando é que deve entregar a bola a um colega que não se encontra a mais de um/dois metros de distância. A qualidade do futebol revelada em ambos os momentos é a mesma. A sua manifestação, porém, é que é diferente. Mas a presença activa do argentino no jogo e a importância deste jogador para a equipa alcançar os objectivos do jogar a que se propõe não oscila em função da estética dos seus movimentos.

A faculdade de Aimar conseguir concretizar o seu Futebol através de execuções fantásticas não seria suficiente para fazer dele um jogador de eleição... ou um Artista. Não se o Futebol dele, a essência do mesmo, não fosse por si só extraordinária. Aimar, o futebolista, não precisaria de recorrer a gestos técnicos deslumbrantes para ser um fantástico jogador porque o futebol que "nasce" dentro do argentino é soberbo. O facto de o argentino conseguir materializar essa interpretação e entendimento do jogo através de uma (a do próprio) visão estética, coloca-o no mesmo pedestal dos Artistas. Daqueles a sério.

E é aqui que Aimar assume, de forma inconsciente, um papel determinante para as gerações de futebolistas num futuro próximo. Com as suas pequenas lições, vai ensinando, entre meia-dúzia de truques, o que é jogar BOM FUTEBOL.
Porque na incapacidade de se perceber, por si só, algo tão profundo como o jogar bem, de forma racional (grande parte dos jovens jogadores apenas atribui importância a aspectos técnicos, descurando a sua interpretação do jogo), é importante que as gerações mais jovens cresçam a admirar um jogador que trata tão bem o jogo, ainda que o admirem por tratar bem a bola.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Pouca coisa...

1. Aimar não presta. Passes de letra são coisas para gajos que vieram passar férias a Portugal, de certeza.

2. Nuno Assis é outro que não vale nada. O facto de ter sido o jogador vimaranense mais esclarecido em campo foi coincidência.

3. Andrezinho, esse sim, é um jogador e tanto. Aquela assistência para Aimar, que permitiu ao argentino solicitar a corrida de Suazo, é de uma classe extraordinária. Melhor, só o pontapé no queixo do hondurenho ou aquela dança esquisita à frente de Reyes, durante quase um minuto, sem sair do mesmo sítio.

4. No golo do Guimarães, pode falar-se em erros de Maxi Pereira, que deveria estar mais metido para dentro, ou de Luisão, que não deveria ter tentado interceptar a bola, mantendo-se na corrida com Douglas, mas o lance só acontece porque o sistema do Benfica a isso convida. Com apenas dois passes rasteiros, o Guimarães ultrapassou 8 jogadores do Benfica. Roberto veio buscar a bola ao espaço vazio e o passe do médio minhoto para ele ultrapassou toda a linha do meio-campo do Benfica. A partir desse momento, está criado o desequilíbrio. O resto é mais ou menos fácil. A chave do lance é esse passe e não os erros posicionais dos defesas. É por estas e por outras razões que não consigo perceber como é que o 442 clássico continua a ser o modelo táctico mais utilizado. E não me venham falar de dinâmicas. Aquilo acontece com qualquer equipa que jogue com uma linha de 4 homens no meio-campo. Não há dinâmicas que o impeçam.

5. Muitos afirmam que Aimar não foi atropelado por Danilo dentro da área e que, portanto, não haveria lugar à marcação de um penalty que, para mim, foi claríssimo. O argumento é que já ia em queda quando se dá o contacto. Se um camião TIR vier direito a mim, de certeza que também não vou ficar quietinho à espera que ele me acerte. Aimar encolheu-se, prevendo o choque. Mas nada disso importa. Deixando-se ou não cair, a verdade é que há um contacto evidente que derruba o argentino.

6. Liedson continua a facturar, dizem alguns. O que eu gostava mesmo de saber era quanto é que Liedson paga aos defesas adversários para que estes façam disparates e o deixem isolado. Ou então, quando é que Liedson volta a marcar um golo cujo mérito seja mesmo dele. Aposto que vai vir muito palerma dizer que há mérito na forma como ele pressiona. Sinceramente, isso dá-lhe quase tanto mérito como a mim, que, sentado no meu sofá, estava a torcer para que aquele defesa dominasse mal a bola e depois inventasse daquela forma.

7. O Porto perdeu novamente e fala-se em crise. O que é certo é que Jesualdo, em 2 anos, não conseguiu lançar na equipa principal do Porto praticamente nenhum jogador de relevo. Foi vivendo daquilo que já vinha de trás e quase todas as suas contratações foram fracassos: Kazmierczak, Bollatti, Guarín, Farías, Lino, Stepanov, Benitez, etc. Agora que escasseia a qualidade trazida em tempos, a qualidade do plantel portista já não disfarça a pouca qualidade de Jesualdo nesse âmbito. A palavra "qualidade", três vezes referida na frase anterior, parece-me aquela que, pela sua ausência, melhor define o que se está a passar no Dragão.

8. Bruno Alves deu mais um beliscão num adversário, desta vez Davide. Beliscar com o cotovelo não é uma arte para qualquer um, mas Bruno Alves também não é qualquer um. Continuo é sem perceber por que é que os tipos que ele belisca fazem fita para tentar expulsá-lo, quando é evidente que esse tipo de truques mesquinhos não resulta.

9. José Mota lidera. No campeonato e nas loas que os estultos lhe tecem.

10. Lá fora, o Barça continua sem ganhar... por diferenças pequenas.

11. Em Itália, grande campeonato. 3 pontos separam os 5 primeiros; 6 pontos separam os 9 primeiros. Só para comparar, em Inglaterra, os primeiros 5 já estão separados por 6 pontos e os primeiros 9 por 12.

12. Del Piero marcou mais um golo espantoso. Quero distingui-lo com dois prémios. 1) É o melhor marcador de livres de que me recordo, à excepção de David Beckham; 2) É, para mim, provavelmente, o melhor jogador de sempre que nunca ganhou o prémio de melhor do mundo.