quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Previsões de Ano Novo

Em futebol, fazer previsões sem as justificar é algo que parece muito pouco interessante. Nem foi nunca algo que me cativasse. Fazer previsões é, desse ponto de vista, como dar palpites, como tirar à sorte. Interessa, sobretudo, saber que fundamentos levam alguém a predizer algo. Este espaço foi sempre um espaço de fundamentos, um espaço mais preocupado com os processos que conduzem a uma determinada conclusão do que com a conclusão em si. Ainda assim, porque esta é uma altura em que é costume fazer-se este tipo de coisas, farei as minhas previsões, anunciando de antemão que a elas, embora só por quatro ou cinco linhas justificadas, presidem razões e convicções profundas.

1. Vencedor do Campeonato Português: Benfica. Acredito que este é o ano dos encarnados e acredito nisto mais ou menos desde o início da prova. A boa prestação do Braga até aqui tem ensombrado, de alguma maneira, a boa prova da equipa de Jorge Jesus, com percalços aqui e ali justificados pelo facto de se ignorarem os melhores princípios da equipa, mas a segunda parte do campeonato será o derradeiro teste à turma da Luz. O embate com o Porto, além de mostrar que o Benfica não vinha em decréscimo de produção, terá mostrado finalmente que a equipa de Jorge Jesus é o mais sério candidato ao título.

2. Vencedor do Campeonato Espanhol: Barcelona. Está tudo em aberto e o Real Madrid conseguiu um início de campeonato muito bom. Não foi tão assertivo quanto o Barcelona, ganhando vários jogos com muito sofrimento, mas conseguiu, pelo menos, manter-se colado ao líder. O Barcelona, no entanto, tem sido igual a ele próprio e, com o regresso em pleno de Iniesta espera-se que volte a ser regular como antes. A equipa está a jogar ainda melhor do que o ano passado e se as lesões não perturbarem a segunda metade do campeonato, o principal problema deste Barcelona, o plantel pequeno que possui, não ficará manifesto.

3. Vencedor do Campeonato Italiano: Inter. Em Itália, antevi no início da época que a Juventus era a equipa que melhor poderia fazer frente ao Inter de José Mourinho. Percorrido que está metade do caminho, a Juventus parece estar mais próxima da qualidade do Milan do que da do Inter. Assim sendo, e não me parecendo que venham a ocorrer modificações exibicionais extraordinárias, o Inter continuará a ser o único candidato ao título. Será mais um êxito na carreira de Mourinho, ainda que não coroado do brilho de outrora.

4. Vencedor do Campeonato Inglês: Arsenal. Quando o Arsenal perdeu com o Chelsea, parecia irremediavelmente afastado da luta pelo título. As últimas jornadas, com os sucessivos empates do Chelsea, colocaram porém a equipa de Arséne Wenger novamente na rota do título. Se ganhar o jogo que tem em atraso, o Arsenal fica apenas a 1 ponto do Chelsea, com a equipa comandada por Carlo Ancelotti a ter de jogar em Janeiro sem Drogba e Kalou, e tendo ainda Anelka lesionado. Com esta conjectura e a jogar o que está jogar, o Arsenal tem tudo para se impor. É a equipa que melhor futebol pratica em terras de Sua Majestade. O Manchester também terá uma palavra a dizer, mas parece-me francamente debilitado e dependerá muito dos desempenhos dos outros dois candidatos.

5. Vencedor do Campeonato Francês: Bordéus. Em França, o Bordéus não tem dado propriamente grandes hipóteses. Lyon e Marselha, os mais apresentáveis dos rivais, têm sido bastante irregulares e a equipa comandada por Laurent Blanc já leva uma vantagem considerável. Gourcuff e companhia são, também por isso, a minha aposta.

6. Vencedor do Campeonato Alemão: Bayern. O Bayern de Louis Van Gaal não começou bem, mas a recuperação é visível. Não só conseguiu o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões, como está apenas a dois pontos da liderança do campeonato. A segunda volta deverá consolidar as ideias do controverso treinador holandês e o tempo tenderá a fortalecer esta equipa. Como a concorrência no campeonato alemão não é muito forte, o Bayern, ainda com alguns deslizes, é o grande favorito à vitória final.

7. Vencedor da Liga dos Campeões: Barcelona. A minha aposta é, uma vez mais, o Barcelona de Guardiola. Seria a consumação final daquela que é a melhor equipa de sempre e o lugar no Olimpo que tanto merece. Nunca uma equipa venceu por duas vezes seguidas a Liga dos Campeões, mas nenhuma também apresentou o futebol que esta equipa apresenta. Dependerá, como é óbvio, da fortuna das lesões e da sua capacidade para se superar continuamente. Ainda assim, acredito que é o candidato que reúne melhores condições.

8. Vencedor do Campeonato do Mundo: Espanha. A Espanha é a equipa que melhor colectivo apresenta. Neste tipo de provas, é sabido, isso não chega. Quando toca a eliminar, e ainda por cima a uma só mão, os melhores nem sempre se consagram. Ainda assim, e com as melhorias que a equipa teve em termos de competitividade sob o comando de Del Bosque, é a formação que me parece melhor preparada. Ainda estamos longe da prova e em seis meses muita coisa pode acontecer. Como acontece nestes torneios, dependerá muito da forma em que os jogadores chegarem à África do Sul.

9. Participação de Portugal no Campeonato do Mundo: Oitavos de final. A Espanha deverá passar em primeiro lugar, no seu grupo, e Portugal terá a difícil missão de se apurar à frente do Brasil ou da Costa do Marfim. Nenhum dos adversários será fácil, mas numa competição deste género é difícil fazer previsões acertadas no que diz respeito a um conjunto de três jogos. Ainda assim, os campeonatos recentes mostraram que a capacidade de superação da equipa lusitana neste tipo de competição é notável. É claro que isso era com Scolari e tudo pode ser diferente agora. Tendo em conta a dificuldade do grupo, a qualidade do futebol apresentado durante a fase de apuramento e a equipa técnica comandada por Carlos Queiroz, a eliminação logo na fase de grupos não seria de espantar. Mas admito que Portugal consiga superar essa primeira fase. A partir daí, já acho mais complicado.

10. João Pereira. É um dos nomes sonantes da reabertura do mercado. Ao contrário da maioria, acho que João Pereira está longe de ser um grande lateral direito. É um jogador rápido, muito agressivo, mas tem pouco mais que isso. Chega a um grande depois de ser um dos principais protagonistas, do ponto de vista do comum adepto, do Braga. Há alguns anos, morava em Braga um lateral direito em tudo idêntico ao que é hoje João Pereira: um jogador veloz, que participava muito nas investidas ofensivas da equipa, e que era tido como o melhor lateral direito a jogar num clube que não um grande. Alguém se lembra de quem era? Na altura, ao contrário do comum adepto, achei que a sua vinda para um grande lhe tornaria visíveis as debilidades. Assim foi. Entendo que João Pereira venha a ter um destino parecido. Os seus problemas posicionais, a má leitura dos lances, as más decisões com bola são coisas que no Braga não são tão importantes. No Braga, esse tipo de problemas é algo que mais jogadores possuem. Por isso mesmo, a exigência no Braga é mais baixa. No Sporting, não terá Alans, Vandinhos, Moisés, Evaldos ou Paulos Césares com quem se comparar. Terá jogadores de maior craveira, jogadores mais perfeitos, que cometem menos erros. Os problemas de João Pereira, no Sporting, serão por isso mais evidentes. É óbvio que pode corrigi-los, mas não é algo que consiga fazer de um dia para o outro. Pode até, porque a equipa está a atravessar um mau momento, conseguir destacar-se. Quando as coisas estão mal, normalmente jogadores vistosos como ele, jogadores que fazem das suas características físicas e técnicas as suas mais-valias, são mais apreciados. Mas dificilmente conseguirá construir uma carreira sólida, regular. João Pereira não é muito diferente de Nélson, por exemplo, se bem que não tão bom tecnicamente. É um lateral ofensivo, que pode causar desequilíbrios quando apoia o ataque, mas a qualidade das suas decisões e a sua capacidade defensiva não é brilhante. Nélson durou um ano, num ano em que a equipa do Benfica pouco ou nada jogava. Depois, quando foi preciso evoluir, estagnou, cometeu erros e foi-se embora. João Pereira será assim tão diferente? A minha previsão é que não trará ao Sporting a tão desejada qualidade para a lateral direita.

Antes de acabar o ano, gostaria ainda de fazer referência a um projecto em que eu e o Gonçalo estamos inseridos há aproximadamente três meses. Os mais atentos terão talvez estranhado a ausência, há já algum tempo, de textos sobre uma determinada jornada ou sobre a generalidade da actualidade futebolística. A ausência desses textos explica-se porque todas as semanas escrevemos um texto para o jornal online "Academia de Talentos" com esse tipo de conteúdos. Aqueles que nos quiserem seguir ainda mais podem sempre procurar os nossos textos na Área Técnica do respectivo jornal. A ligação encontra-se entre as várias ligações aqui ao lado. O "Academia de Talentos" é, possivelmente, o local com mais e melhor informação sobre a actividade futebolística a nível dos escalões de formação. Nesse aspecto, a sua relevância está para além de qualquer dúvida e qualquer pessoa que esteja interessada em acompanhar o que se passa na actualidade desportiva nos mais variados escalões de formação terá interesse em consultar com regularidade o jornal. Mais recentemente, o jornal tem procurado evoluir noutros sentidos e expandir os seus horizontes. O espaço designado por "Área Técnica" reúne, por isso, textos de outro carácter e com outros conteúdos. É precisamente nesse projecto que colaboramos e, além de nós, podem ser encontrados textos de outros bloggers que, normalmente, valem a pena ser lidos, como os do Pedro Bouças e do Rodrigo Rodrigues, do blogue "Lateral-Esquerdo" ou os do Paulo Santos, do "Apenas Futebol". Fica o anúncio e o convite, claro...

sábado, 26 de dezembro de 2009

Liedson, Saleiro e Postiga: um Estudo Comparativo

No passado fim-de-semana, o Sporting defrontou a Naval e Carlos Saleiro actuou ao lado de Liedson. Abaixo fica o registo das intervenções de ambos, assim como as de Hélder Postiga, que entrou a render o primeiro aos 75 minutos de jogo.

1 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

2 mins: Boa opção. (Saleiro joga de frente em Miguel Veloso.)

3 mins: Perda de bola. (Liedson recebe, vira-se, tenta fintar e perde a bola.)

3 mins: Boa opção. (Saleiro recebe e dá pelo ar para João Moutinho.)

5 mins: Boa opção. (Liedson dá de primeira em Izmailov.)

7 mins: Mau passe. (Liedson tenta jogar com Saleiro, mas um defesa corta a jogada.)

8 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde de cabeça.)

8 mins: Deixa-se antecipar. (Liedson esconde-se atrás de um defesa, ignorando a linha de passe que deveria dar, e não recebe o passe de Miguel Veloso, que se perde.)

10 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça após passe longo de Tonel.)

10 mins: Remate. (Liedson recebe depois de um ressalto e chuta contra o guarda-redes.)

12 mins: Perda de bola. (Saleiro recebe uma bola à queima-roupa e perde no ressalto.)

13 mins: Boa opção. (Saleiro recebe na esquerda, alonga o passe para Adrien, que ganha canto.)

15 mins: Faz falta. (Saleiro ganha de cabeça, vira-se e faz pé em riste.)

15 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça para Veloso, que chega tarde.)

17 mins: Cabeceamento. (Saleiro salta de cabeça e perde.)

18 mins: Cabeceamento. (Liedson perde de cabeça.)

18 mins: Boa opção. (Liedson recebe na esquerda, roda sobre si mesmo e joga para trás para Moutinho.)

19 mins: Perda de bola. (Liedson, entre dois adversários, tenta fazer cueca e perde a bola.)

20 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

21 mins: Cabeceamento. (Liedson ganha de cabeça.)

21 mins: Cabeeamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

22 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde de cabeça.)

24 mins: Perda de bola. (Liedson tenta fintar, perde a bola e faz falta.)

24 mins: Corte. (Liedson, em esforço, corta para fora.)

25 mins: Má opção. (Liedson, na esquerda, recebe passe longo, mas deixa a bola bater duas vezes e permite o corte do defesa da Naval.)

26 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

28 mins: Boa opção. (Saleiro joga de frente, embora a bola viesse pelo ar e difícil.)

29 mins: Recuperação de bola. (Liedson recua e ganha de cabeça, recuperando a bola para a sua equipa.)

30 mins: Cabeceamento. (Liedson perde de cabeça.)

33 mins: Boa opção. (Saleiro recebe a bola, roda para a direita e dá em Izmailov.)

33 mins: Sofre falta. (Liedson recebe e sofre falta.)

34 mins: Cruzamento. (Saleiro recebe a bola na esquerda e cruza contra um defesa.)

35 mins: Boa opção. (Liedson, após um canto, fica com a bola e joga para trás.)

35 mins: Remate. (Liedson salta dentro da área, tenta rematar de cabeça, a bola bate no defesa que saltara com ele e sobra para Saleiro, que marca golo.)

35 mins: Golo. (Saleiro, ao segundo poste, aproveita um ressalto para introduzir a bola na baliza.)

36 mins: Cruzamento. (Liedson falha a recepção e vai cruzar à linha para as mãos do guarda-redes da Naval.)

37 mins: Recuperação de bola. (Saleiro ganha a bola e com um pontapé lança Liedson, que estava em posição irregular.)

37 mins: Fora-de-jogo. (Liedson é apanhado em fora-de-jogo.)

38 mins: Recuperação de bola. (Saleiro ganha a bola.)

38 mins: Má opção. (Saleiro perde muito tempo a soltá-la e embrulha-se. A bola acaba por sobrar para Veloso.)

40 mins: Boa opção. (Saleiro dá de primeira para Liedson.)

40 mins: Má opção. (Liedson recebe a bola de Saleiro, tenta fintar e perde a bola, que no entanto sobra para Izmailov.)

40 mins: Remate. (Saleiro é lançado por Izmailov, chuta em esforço, no chão, o guarda-redes defende e choca com Saleiro. Ao levantar-se para perseguir a bola, Saleiro é agarrado pelo guarda-redes. Penalty não assinalado.)

42 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde de cabeça.)

42 mins: Má opção. (Liedson faz a bola passar por cima de um adversário e perde a bola.)

42 mins: Perda de bola. (Saleiro é solicitado de frente, joga de primeira, mas Adrien e Veloso não percebem, ficando a bola à mercê de um adversário.)

43 mins: Faz falta. (Liedson chega atrasado ao lance e faz falta.)

44 mins: Sofre falta. (Saleiro sofre falta.)

45 mins: Remate. (Liedson responde a um cruzamento, tocando ao de leve na bola, que chega ao guarda-redes adversário.)

45 mins: Má recepção. (Saleiro recebe um passe longo, mas a recepção não é a melhor e acaba por perder a bola.)

45 mins: Deixa-se antecipar. (Liedson deixa-se antecipar depois de um bom passe vertical.)

46 mins: Mau passe. (Saleiro recebe mas entrega mal.)

46 mins: Deixa-se antecipar. (Liedson deixa-se antecipar.)

46 mins: Cabeceamento. (Liedson perde de cabeça.)

46 mins: Boa opção. (Saleiro entrega de cabeça, de frente.)

48 mins: Boa opção. (Saleiro ganha um lance disputado e joga de frente.)

48 mins: Sofre falta. (Liedson sofre falta.)

49 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha um lance de cabeça na direcção de Liedson, que no entanto fica quieto atrás do defesa.)

49 mins: Deixa-se antecipar. (Liedson fica atrás de um defesa e deixa-se antecipar.)

50 mins: Boa opção. (Saleiro recebe a bola na linha e ganha lançamento.)

52 mins: Sofre falta. (Saleiro sofre falta por trás.)

53 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde de cabeça, mas a bola sobra para Moutinho.)

53 mins: Bom passe, mas má opção. (Liedson recebe de Moutinho na zona central, dá três toques na bola, permitindo a recolocação da defensiva contrária, e acaba por dar atrasado em Moutinho, novamente.)

57 mins: Sofre falta. (Liedson sofre falta.)

57 mins: Boa opção. (Saleiro ganha a bola no meio de vários adversários e joga com Izmailov.)

59 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

60 mins: Boa opção. (Saleiro tabela com Moutinho.)

60 mins: Boa opção. (Saleiro recebe novamente de Moutinho e dá em Adrien.)

60 mins: Cabeceamento. (Liedson perde de cabeça.)

60 mins: Recuperação de bola. (Liedson recupera uma bola.)

63 mins: Boa opção. (Saleiro tabela com Miguel Veloso.)

65 mins: Cabeceamento. (Liedson ganha de cabeça.)

65 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde de cabeça.)

67 mins: Má opção. (Liedson recebe a bola através de um passe longo, tenta inventar, perde, mas a bola sobra para Grimi.)

67 mins: Boa opção. (Saleiro recebe de um lançamento lateral e dá em Veloso.)

69 mins: Cabeceamento. (Saleiro ganha de cabeça.)

69 mins: Corte. (Liedson corta para fora.)

70 mins: Boa opção. (Saleiro assiste Veloso, que remata.)

70 mins: Má opção. (Liedson recebe de Moutinho e tenta lançar Saleiro, quando tinha apoios de frente. A bola bate em Diego Ângelo e fica em poder da Naval.)

70 mins: Boa opção. (Saleiro recebe e joga no meio, em João Moutinho.)

73 mins: Cabeceamento. (Saleiro perde lance de cabeça.)

74 mins: Má recepção. (Liedson recebe e perde a bola depois de má recepção.)

75 mins: Sai Saleiro, entra Postiga.

76 mins: Perda de bola. (Postiga recebe a bola e perde.)

77 mins: Cabeceamento. (Postiga ganha de cabeça para o meio.)

78 mins: Boa opção. (Postiga recebe de Moutinho e tenta lançar Liedson, que no entanto é apanhado em posição irregular.)

78 mins: Fora-de-jogo. (Liedson é apanhado em fora-de-jogo.)

79 mins: Boa opção. (Postiga recebe e dá em Adrien.)

79 mins: Boa opção. (Postiga recebe e dá em Veloso.)

79 mins: Remate. (Postiga recebe novamente de Veloso, finta e remata de pé esquerdo, obrigando o guarda-redes a defesa apertada para canto.)

80 mins: Cabeceamento. (Liedson perde de cabeça.)

80 mins: Boa opção. (Postiga entra na área e, fingindo o remate, assiste Liedson, que no entanto se deixa antecipar.)

80 mins: Deixa-se antecipar. (Liedson não percebe a intenção de Postiga e deixa-se antecipar.)

82 mins: Boa opção. (Liedson dá atrás em Moutinho.)

84 mins: Recuperação de bola. (Postiga pressiona, recupera a bola e dá atrás.)

84 mins: Boa opção. (Postiga recebe novamente e joga de primeira.)

84 mins: Remate. (Liedson recebe no meio e remata ao lado.)

85 mins: Cabeceamento. (Liedson ganha de cabeça.)

86 mins: Boa opção. (Postiga joga com Liedson, que lhe devolve a bola)

86 mins: Boa opção. (Liedson tabela com Postiga.)

86 mins: Deixa-se antecipar. (Postiga vai para rematar, após tabela com Liedson, mas um defesa corta a bola.)

87 mins: Boa opção. (Liedson assiste Adrien, que remata.)

89 mins: Má opção. (Liedson recebe a bola, fá-la passar por cima de um defesa e perde-a.)

89 mins: Boa opção. (Postiga tabela com Veloso.)

89 mins: Boa opção. (Postiga recebe a devolução de Veloso, progride e dá em Liedson.)

89 mins: Má opção. (Liedson recebe de Postiga, vira-se e perde a bola.)

89 mins: Recuperação de bola. (Postiga recupera a bola.)

89 mins: Sofre falta. (Liedson recebe, vira-se e ganha falta.)

90 mins: Liedson sai.

90 mins: Boa opção. (Postiga dá atrás.)

91 mins: Boa opção. (Postiga tabela com Pereirinha, mas a bola perde-se.)

92 mins: Boa recepção. Postiga recebe em esforço com o peito.

Para que seja mais fácil distinguir a acção de cada um, as suas acções estarão denotadas com cores diferentes: vermelho para Saleiro, verde para Liedson e azul para Postiga. As boas acções de cada um ficam em negrito, para melhor apreciação. Vamos às conclusões:

1) Liedson teve 48 acções durante o tempo que esteve em campo; 20 acções positivas; 42% de acções positivas. Saleiro teve 45 acções durante o tempo que esteve em campo; 32 acções positivas; 71 % de acções positivas. Postiga teve 17 acções durante o tempo que esteve em campo; 15 acções positivas; 88% de acções positivas.
2) Considerando agora os lances com a bola nos pés e com condições para fazer algo (exclui-se, portanto, os lances de bola parada ou as disputas de bola, ou disputas de cabeça, ou os lances em que procura recuperar a bola, ou os lances em que não tem a bola totalmente dominada), Liedson teve 8 boas opções contra 10 más opções; 44% de boas opções. Saleiro teve 20 boas opções contra 3 más opções; 87% de boas opções. Postiga teve 11 boas opções contra 1 má opção; 92% de boas opções.
3) Liedson foi responsável por 14 perdas de bola, 1 por má recepção, 2 por maus passes, 5 por se deixar antecipar e 6 por se virar para o adversário ou por tentar fintar (de fora destas contas ficaram ainda dois lances em que tentou inventar, perdeu a bola, mas ela sobrou para um colega de equipa); Saleiro foi responsável por 4 perdas de bola, 2 por má recepção e 2 por maus passes; Postiga foi responsável por 2 perdas de bola, 1 por mau passe e 1 por se deixar antecipar.
4) Liedson recuperou 2 bolas e fez 2 cortes; Saleiro recuperou 2 bolas; Postiga recuperou 2 bolas.
5) Liedson sofreu 4 faltas e cometeu 1; Saleiro sofreu 2 faltas e cometeu 1; Postiga não sofreu nem cometeu faltas.
6) Liedson foi apanhado em fora-de-jogo por 2 ocasiões; Saleiro e Postiga não foram apanhados em fora-de-jogo.
7) Liedson efectuou 4 remates, sendo que apenas 1 deles levou perigo, 1 foi para fora, outro foi para as mãos do guarda-redes e outro acabou por bater no defesa e sobrar para Saleiro, que fez golo; Saleiro efectuou 2 remates, sendo que 1 deles deu golo e outro foi defendido à queima pelo guarda-redes, que de seguida agarrou Saleiro, fazendo penalty; Postiga fez apenas 1 remate, após boa combinação com Miguel Veloso.
8) Liedson disputou 8 bolas de cabeça, tendo ganho 3 e perdido 5; 38% de lances de cabeça ganhos. Saleiro disputou 16 bolas de cabeça, tendo ganho 9 e perdido 7; 56% de lances de cabeça ganhos. Postiga disputou apenas 1 lance de cabeça, ganhando-o.
9) Liedson recebeu 13 bolas de costas para o jogo e jogou de frente apenas 5 vezes; em 62% dos lances, optou por se virar para o jogo, tendo perdido maior parte das bolas nessas situações. Saleiro recebeu 14 bolas de costas para o jogo, tendo jogado de frente 13 dessas vezes; optou por se virar apenas em 7% dos lances. Postiga recebeu 9 bolas de costas para o jogo, tendo jogado de frente em 8 ocasiões; optou por se virar em apenas 11% dos lances.

Comentários:

O Sporting, enquanto equipa grande, dificilmente se pode dar ao luxo de ter um jogador que, no centro do terreno, funcione tão mal como apoio vertical. Está já exausto o nosso desapreço pelo futebol de Liedson, mas este estudo ajuda a comprovar, uma vez mais, o quão nocivo o jogador é a todo o processo ofensivo. Deste ponto de vista, é muito frutuosa, a meu ver, a comparação com o seu colega de ataque, seja ele Saleiro ou Postiga. Estes dois são os avançados que melhor jogam de costas para a baliza, no plantel, e os que maior quantidades de boas decisões são capazes. Em meu entender, um avançado tem de ser muito mais do que os golos que faz e Saleiro e Postiga, ao contrário de Liedson, são-no.

Saleiro e Postiga têm mais ou menos o dobro da percentagem de boas opções que Liedson, o que indicia que, em relação ao Levezinho, conseguem dar continuidade a duas vezes mais jogadas. A quantidade de bolas que os três jogadores perdem é outro indício do quão problemático é o futebol de Liedson e de quão melhor servido estaria se, na frente, o Sporting jogasse com qualquer um dos outros dois. Há quem diga, ainda, que Liedson não vale apenas pelos golos, mas pelo trabalho defensivo, pelo esforço, pela abnegação. Este estudo demonstra que isso é uma mentira em que muitos quiseram acreditar. Liedson é responsável por tantas recuperações de bola quantas os seus companheiros de ataque, sendo que ambos estiveram em campo menos tempo que ele. O facto de correr muito, como sempre disse, de parecer um tontinho atrás dos outros, não significa que seja bom em termos defensivos. Se quisermos falar em esforço e em dedicação, podemos ainda olhar para quem foi a principal referência no futebol aéreo. Saleiro disputou o dobro das bolas de cabeça de Liedson, mostrando-se competente o suficiente no mesmo e mostrando-se com capacidade de choque. Como se vê, na capacidade de luta não há grande diferença.

A principal característica de Liedson - e a única verdadeiramente relevante, diria eu - é a sua capacidade concretizadora. Como é óbvio, o facto de, neste jogo, Carlos Saleiro se ter revelado bastante mais eficaz que Liedson não demonstra nada. Não significa isto que Liedson seja um exímio finalizador. Não é. É um jogador com uma taxa de aproveitamento até relativamente baixa, embora se pense que não. A principal diferença está na quantidade de vezes que aparece em zonas de finalização. Nisso, Liedson revela de facto um instinto felino. Mas é minha convicção que essa faculdade é conseguida a expensas de outras coisas. No meu entender, Liedson consegue aparecer em zonas de finalização mais vezes que os colegas porque é a única coisa com a qual se preocupa. Enquanto Saleiro e Postiga, por exemplo, estão preocupados em procurar os colegas, em entender a movimentação colectiva, em perceber qual a melhor forma de a equipa criar perigo, Liedson está apenas preocupado com a baliza. O exemplo do lance do Hungria-Portugal, que referimos aqui atempadamente, ilustra bem tudo isto. Com bola, Liedson pensa mais em virar-se para a baliza do que em fazê-la girar, recuando se necessário, permanecendo de costas se necessário. Não é estranho, por isso, que 62% dos lances em que recebe a bola de costas sejam resolvidos virando-se para o adversário. Sem bola, Liedson está sempre mais interessado em fugir aos defesas, de modo a aparecer em zonas privilegiadas, do que em aproximar-se do portador da bola para servir como apoio vertical. Não é, por isso, de estranhar, que se tenha deixado antecipar 5 vezes nesta partida, contribuindo para 5 perdas de bola da equipa.

Liedson só é bom em zonas muito próximas da baliza, em zonas em que é mais importante fugir a marcações, demonstrar agilidade e reflexos, aparecer em sítios certos e atacar zonas importantes. Em todo o resto do campo, é miserável. Talvez seja mais expedito que Postiga e Saleiro dentro da área, mas é sem dúvida menos inteligente fora dela, com e sem bola. Saleiro e Postiga compreendem colectivamente o jogo e, com eles em campo, o Sporting jogará sempre melhor. Liedson é um jogador útil num espaço diminuto do campo e perfeitamente inútil na maior parte dele. Nenhuma equipa grande, que queira impor-se como grande, pode ter jogadores que sejam apenas úteis numa zona do terreno. É por isso que Mantorras não joga no Benfica e é por isso que Farías é apenas um plano B no Porto. Liedson é um jogador deste tipo. Poderia ser uma arma para lançar nos minutos finais das partidas, em jogos em que o coração manda mais que a razão, mas jamais um jogador para ser titular indiscutível.

Como já aqui o dissemos várias vezes e não apenas por capricho ou ousadia, o Sporting jamais será campeão enquanto tiver Liedson. A razão pela qual afirmamos repetidamente tal coisa encontra-se relevantemente ilustrada por este estudo. Com Liedson, o Sporting só pode ser uma equipa de coração, uma equipa que tanto ganha um jogo como perde outro, uma equipa incapaz de se impor convenientemente, incapaz de sustentar um futebol de ataque, baseado na posse e circulação de bola, uma equipa, em última análise, pequena, sem ideias, esforçada mas irregular, lutadora mas irracional. Com Saleiro e Postiga, ainda que nenhum destes marcasse talvez tantos golos quantos Liedson, a equipa seria bem mais ofensiva, passaria bastante mais tempo com bola, seria capaz de construir mais jogadas de ataque, seria bem mais racional, bem maior. A resolução dos problemas actuais do Sporting começaria, portanto, aqui, na compreensão de que, com Liedson, jamais se erradicarão tais problemas.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Hexa

O Barcelona entrou hoje para a História do Futebol como a primeira equipa a ganhar as seis competições possíveis numa época: à Taça do Rei, à Liga Espanhola, à Liga dos Campeões, à Supertaça de Espanha e à Supertaça Europeia juntou agora o Mundial de Clubes, troféu que não conquistara ainda na sua História. Esta vitória é a consagração inevitável da melhor equipa de sempre na História do Futebol.

À homenagem gostaria, porém, de acrescentar algumas palavras de desapreço por aquilo que se passou em Abu Dabi. Não foi uma vitória fácil e o Barcelona conseguiu empatar a partida apenas em cima da hora, levando o jogo para prolongamento, durante o qual o viria a resolver. Para quem não assistiu à partida, haverá certamente a suspeita de que a equipa comandada por Guardiola sofreu bastante para conseguir alcançar o triunfo final. Sofrimento houve. Mas não o tipo de sofrimento que imaginam. É que o Barcelona, além de ter de lutar contra um conjunto de argentinos atrevidos, teve ainda de lutar contra uma arbitragem francamente tendenciosa. De outra maneira, só com muita simpatia dos catalães poderia uma equipa tão banal como o Estudiantes arrastar o jogo até prolongamento.

O Barcelona foi prejudicadíssimo pela arbitragem, mas não porque ficou um penalty claríssimo por marcar sobre Xavi, ainda a partida ia em 0-0, ou porque o golo dos argentinos foi obtido em posição irregular. Isso são erros pontuais e que acontecem em todos os campos, por esse mundo fora, e aos melhores árbitros. Nem o Barcelona precisaria da correcção desses lances para vencer a partida, se esta tivesse sido apitada competentemente. O Barcelona foi prejudicado, isso sim, porque do primeiro ao último minuto os argentinos puderam jogar à sul-americana, acertando nas pernas do adversário a cada disputa de bola, fazendo carrinhos assassinos a cada lance. E a quantidade de faltas que ficaram por marcar, com os catalães no chão e os argentinos a seguir a bola, foi uma coisa absurda. Não me lembro de uma arbitragem tão má desde os malogrados anos 90 em Portugal e não me lembro de uma equipa fazer tantos carrinhos num só jogo e sofrer um golo apenas no último minuto.

Para ser sincero, nem sequer acho que houvesse muita maldade da parte dos argentinos, mas aquilo que o árbitro foi concedendo dotou-os de uma arma quase invencível. Apoiando-se numa agressividade bem à margem das leis, conseguiam invariavelmente interromper os lances de ataque do Barcelona sem cair no risco de acumular faltas perto da sua baliza. E os catalães, procurando exercer o seu domínio através do futebol de posse e circulação a que nos habituaram, eram repetidamente travados por atropelos, por rasteiras, por empurrões, sem que isso lhes concedesse a compensação de um livre. Para o final, com o cansaço, as entradas dos argentinos passaram a ser mais ríspidas e ainda foram várias vezes admoestados com o cartão amarelo. Mas uma arbitragem honesta deixá-los-ia, ao fim de meia-hora, com menos dois ou três jogadores em campo e com maior parte dos restantes jogadores amarelados. Foi contra isto que o Barça teve de lutar.

Não creio que a arbitragem tivesse a intenção de prejudicar propriamente a equipa catalã. Acho, isso sim, que o estilo permissivo da arbitragem prejudica qualquer equipa que se destaque pela inteligência e pela técnica, uma vez que favorece o jogo agressivo do adversário. E é isso que tem de ser erradicado do futebol. Na última década, as arbitragens têm melhorado gradualmente a este nível e isto tem permitido ao futebol tornar-se um jogado muito mais elaborado. Esta arbitragem permitiu aos argentinos jogarem como se jogava há 20 anos, ou seja, numa altura em que vencia quem fosse mais agressivo, quem "comesse mais relva". Os argentinos correram tanto, esforçaram-se tanto, deram tanta porrada que por volta dos 70 minutos já não se mexiam. Acabaram por perder também pela estratégia que empreenderam, mas por pouco essa estratégia não lhes trazia proveitosos frutos.

Não acho, como disse, que o árbitro tenha agido de má fé, mas sim por manifesta incompetência. E essa incompetência foi de tal forma gritante que, para além de permitir o jogo duro e ilegal dos argentinos, ainda cometeu erros de apreciação que só podem comprovar essa mesma incompetência. Destaco dois lances patéticos que tornam evidente que esta arbitragem prejudicou o futebol técnico e de categoria do Barcelona e beneficiou a combatividade e a agressividade dos argentinos. No primeiro lance, ainda na primeira parte, já depois de suportar duas cargas à margem das leis, Ibrahimovic finca o pé no chão e protege a bola de um adversário que vem atrás dele. O adversário despenha-se com toda a força contra o sueco, com o intuito claro de prejudicar a sua acção de uma forma ilegal e, obviamente, não estando tão equilibrado e não tendo a força de Ibrahimovic, cai por terra, permanecendo o avançado do Barça com a bola. Por ordem do fiscal de linha, o árbitro assinala falta contra o Barcelona. O ridículo da situação não está só no facto de aquele que tem a posse de bola ter sido acusado de fazer falta a quem lhe tentou tirar a bola; está ainda mais no facto de, mesmo tendo a bola e levando porrada, mesmo tendo evitado a agressividade, ter sido penalizado por ter conseguido permanecer na posse de bola contra alguém que não teve outra intenção senão acertar nele. O segundo lance é já na segunda parte e é protagonizado por Henry. O francês consegue driblar o central do Estudiantes, na entrada da área, e é rasteirado. Antes de cair, consegue tocar a bola para Ibrahimovic, que se encontrava dentro da área e poderia ter dado seguimento à jogada. O árbitro não só não deu a lei da vantagem, o que possivelmente beneficiaria o Barcelona, como assinalou falta a favor dos argentinos e amarelou Henry. Confesso que, a não ser que agora ser rasteirado seja motivo para amarelo, não percebi a decisão. Se o árbitro tiver interpretado que Henry o tentou enganar, simulando uma falta à entrada da área, fica por explicar então por que razão ainda se teria esforçado para endereçar a bola para Ibrahimovic.

Após este segundo lance, viu-se Xavi com as mãos na cabeça, não acreditando no que estava a acontecer. A incompetência da arbitragem acabara de exceder todos os limites e o Barcelona parecia condenado. Felizmente para o futebol, já em cima do minuto 90, Pedro conseguiu igualar a partida e levá-la para prolongamento. Já com os argentinos a pagar a factura de um jogo jogado à máxima intensidade, o Barcelona dominou por completo e Messi, com o peito, selaria a vitória. A tendência da arbitragem acabou por não ser suficiente para uma equipa ridícula vencer este Barcelona. O Estudiantes, enquanto colectivo, foi francamente mau, aguentando o desafio até tão tarde apenas graças à permissividade do árbitro. Com marcações homem a homem demasiado cerradas e em quase todo o campo, uma equipa só se poderá aguentar contra este Barcelona se puder jogar repetidamente à margem das leis. Foi o que aconteceu. Os argentinos, pela deficiência posicional, chegavam sempre tarde aos lances, mas, como podia atropelar os adversários, essa deficiência não era preocupante. Assim, com os argentinos entregues a marcações ao homem em todo o campo e pressionando alto, o Barcelona não conseguiu jogar como habitualmente porque a sua capacidade para sair de zonas de pressão ficava invariavelmente posta em causa por aquilo que o árbitro permitia aos adversários e foi tendo problemas em conseguir circular a bola como tão bem faz. O triunfo acabou por lhes sorrir também porque os argentinos não conseguiram continuar a ser agressivos como no início e o árbitro não poderia ajudar de outra forma. Para bem do futebol, o Barcelona venceu. Mas arbitragens como esta deveriam ser seriamente punidas pelos dirigentes da FIFA. O futebol agradecia. E evitar-se-ia a possibilidade de um conjunto de cães com cio ganhar uma final à melhor equipa do mundo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Certezas (16)

No Arsenal estão alguns grandes jovens jogadores que importa referenciar no futuro. Para já, é relevante falar deste extraordinário avançado, até porque já apareceu há algumas épocas e o devido destaque ainda não lhe tinha sido feito neste espaço. É um jogador muito móvel, como é hábito nos avançados de Arsène Wenger, com uma capacidade técnica invulgar, rápido e, sobretudo, muito inteligente. Conheci-o durante o mundial de sub-20 de 2007, quando a sua selecção enfrentou a congénere portuguesa. Jogava na frente de ataque juntamente com aquele que era, no momento, a grande figura da sua selecção na altura: Giovani dos Santos. Desde logo, achei-o superior ao então jovem promissor do Barcelona. Essa superioridade não residia nos atributos técnicos, igualmente presente no craque do Barça, mas sim na maturidade, na inteligência, na forma adulta como compreendia o jogo e o levava para dimensões colectivas raramente presentes em escalões jovens. Fiquei impressionado, na altura, para além dos seus 18 anos, pela capacidade que tinha para jogar de costas para a baliza e em espaços curtos, encontrado boas soluções com relativa facilidade. Esta capacidade, e não os dribles estonteantes ou a força bruta, é a principal prova daquilo que um jovem jogador conseguirá fazer no futuro. Ao contrário de Giovani dos Santos, que impressionava os mais facilmente impressionáveis porque ia muitas vezes no drible e era muito explosivo, este jogador era mais fino, mais elegante com a bola, menos interessado em ultrapassar vários adversários e mais objectivo. Dois anos e qualquer coisa volvidos, parece quase inquestionável que o potencial de Giovani dos Santos está no seu limite e que os mais facilmente impressionáveis estavam enganados. Ao contrário do compatriota e ao contrário de grande parte dos jovens jogadores que são considerados promissores pelos atributos físicos e técnicos que demonstram precocemente, Carlos Vela tem um potencial infinitamente superior porque é inteligentíssimo e isso é tudo o que é necessário para expandir as suas capacidades ao longo da sua carreira.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Os erros de Sagna

No derby londrino do passado fim-de-semana, o Arsenal ambicionava aproximar-se do rival Chelsea. Para isso, precisava de vencer o desafio. Quem não viu o encontro, certamente pensará que o resultado final de 3-0 a favor dos "blues" expressa a supremacia do conjunto orientado por Carlo Ancelotti. Tal não foi o caso. O Arsenal, esta época, está a jogar muitíssimo bem e os deslizes que teve, até agora, podem ser explicados pelo azar, no caso do desafio contra o Manchester United, e pelos erros individuais de Clichy, frente ao Manchester City. Desta vez, o jogador a comprometer foi o lateral direito, Bacary Sagna, um jogador muito apreciado pelas suas capacidades ofensivas, mas que continua a denotar problemas defensivos gravíssimos. Em suma, o Arsenal dominava claramente a partida com o Chelsea, dispondo de várias oportunidades para marcar e sendo capaz de constantemente entrar nas linhas defensivas adversárias. O Chelsea raramente teve bola e as suas iniciativas ofensivas, até ao primeiro lance em destaque, eram pouco mais que nulas. No entanto, e apesar do domínio claro do Arsenal, o Chelsea viria a adiantar-se no marcador, graças a um erro individual, e adiantar-se-ia mais ainda logo depois, num auto-golo do infeliz Vermaelen. A história do jogo não é a de uma equipa superior a outra e que venceu expressivamente, mas a de uma equipa bastante superior, que atacou muito e bem, e a de outra que, nas primeiras duas vezes que consegue chegar à frente, faz dois golos. Os pragmáticos dirão que o Chelsea se mostrou mais determinado e que foi letal. Os sensatos dirão que tiveram sorte, sobretudo graças ao contributo de Sagna. Vamos aos dois lances que importa observar.



No primeiro lance, Sagna (que aparece ao fundo da imagem) está demasiado aberto em relação aos restantes colegas do sector defensivo. Assim, um passe que até era direccionado para Drogba, acaba por passar por entre Sagna e o central, caindo em Anelka, que passara nas costas do lateral francês sem que este conseguisse reagir condignamente. Bastava, para anular toda esta jogada, que Sagna tivesse defendido por dentro, ocupando um espaço mais central e deixando a linha para o compatriota Anelka. Sagna, talvez demasiado preocupado com a marcação ao homem, talvez desconcentrado, estava por isso mal posicionado e quando reagiu já era tarde. A jogada termina com o falhanço de Anelka, mas Sagna, como se não bastasse o erro inicial, ainda cometeu penalty, puxando o avançado do Chelsea e impedindo-o de concretizar nas melhores condições. Esta falta, para felicidade do Arsenal, passou em claro. Foi o primeiro lance de perigo do Chelsea na partida e estava dado o mote para o que se seguiria.

O segundo lance é o do primeiro golo do Chelsea, lance que determinou toda a partida. Com o Chelsea manietado atrás, raramente capaz de actuar em organização ofensiva e a sofrer para manter o nulo frente a um Arsenal muito competente na dinâmica ofensiva, só um lance pontual como uma bola parada ou um erro grosseiro poderia suscitar um golo para a equipa de Ancelotti. Foi precisamente o que aconteceu, uma vez mais com o contributo de Bacary Sagna. A linha defensiva do Arsenal está uns bons cinco metros atrás, mas ainda assim Sagna avança para ocupar um espaço onde a acção era perfeitamente inútil. Em vez de se manter na linha dos colegas, recuado e inviabilizando um passe entre si e Arshavin, que recuara para ajudar a defender, Sagna dá dois passos à frente, permitindo que a bola entre precisamente nessa zona. O passe provém de John Terry e, até por aí, se pode perceber que não foi extraordinariamente bem executado. Aquilo que permitiu, contudo, que se tornasse num passe providencial para o desfecho da jogada foi o mau movimento do lateral francês. Ao colocar-se onde se colocou, permitiu que Ashley Cole recebesse a bola numa zona privilegiada. Depois, o lateral inglês trabalhou bem e cruzou para Drogba, que apareceu muito bem na zona de finalização. Mas o mais difícil estava feito logo desde início. Sem grande elaboração, o Chelsea conseguiu introduzir a bola em zona de cruzamento e com a defensiva dos da casa a recuar, ou seja, com as condições ideais para uma boa finalização. Sagna, ao colocar-se horrivelmente, contribuiu de forma decisiva para aniquilar a boa pressão que o resto da equipa estava a fazer, constrangendo o Chelsea a procurar as linhas, onde supostamente seria menos perigoso.

Vistos os lances, gostaria de concluir reforçando uma ideia que costumo defender. Raramente aponto erros de carácter técnico a jogadores e não chamaria a atenção para estes lances se tal fosse o caso. Mas erros de concentração ou erros intelectuais são coisa para me irritar. O futebol espectacular do Arsenal, esta época, tem sido esmagador e só erros deste tipo têm contribuído para os poucos maus resultados da equipa. A jogar como estava a jogar, vergando o líder do campeonato, perder por causa de burrices destas devia ser coisa para deixar os nervos em franja a Wenger. O problema aqui é que me parece que o treinador francês, embora muito competente em vários aspectos do jogo e na capacidade de análise de atletas, tem um defeito crónico do qual continua sem se conseguir livrar e que tem a ver directamente com a fase defensiva da sua equipa. Embora este ano tenha abdicado do seu 442 clássico, fonte de problemas defensivos que impediam o Arsenal de ser uma equipa tão competitiva quanto o seu desempenho ofensivo merecia, Wenger continua a parecer-me um treinador pouco competente na fase defensiva do jogo. E aqui entra tanto a avaliação das características dos jogadores, preferencialmente jogadores rápidos e tecnicamente evoluídos, mas muitas vezes sem cérebro para conseguirem ler adequadamente os lances, como é o caso de Sagna, como a própria postura defensiva da equipa, muitas vezes negligente em termos tácticos. O Arsenal de Wenger, defensivamente, é uma equipa que não ocupa bem os espaços, que raramente mantém a linha de quatro defesas bem formada e com os jogadores bem próximos entre si. Não havendo uma preocupação vincada em relação a isso, é natural que depois os jogadores se sintam tentados a atacar zonas que não devem e a ocupar espaços consoante os adversários e a posição da bola. Sagna deixa muito a desejar na leitura dos lances e no posicionamento defensivo, mas Wenger, apesar de todas as competências que lhe reconhecemos, não pode ficar ilibado de responsabilidades quando os comportamentos defensivos dos seus jogadores se manifestam tão anárquicos.

sábado, 21 de novembro de 2009

Milevsky

É certo que o devido destaque ao extraordinário avançado do Dinamo de Kiev teima em em ser adiado e o jogador permanece longe dos principais palcos do futebol mundial. Aliás, com a exclusão da Ucrânia do próximo mundial, será, a par de Ibrahimovic, Berbatov, Modric, Rosicky e Arshavin, uma das principais ausências do certame a realizar na África do Sul. Artem Milevsky não é um avançado típico de área, com inclinação apenas para a finalização. Daí o destaque feito neste espaço. Há muito que lhe sigo as pisadas e que me regozijo com o seu futebol. Chegou a ser falado para o Sporting, mas o avultado preço do seu passe inviabilizou a contratação. Na altura, pareceu-me que seria um investimento grande, mas pouco arriscado, dado o potencial que já lhe reconhecia. Nos últimos dois anos, confirmou tudo o que esperava dele. A classe e a inteligência são as suas principais características. A jogar de costas para a baliza, é dos melhores do mundo e faz lembrar, em larga medida, Dimitar Berbatov. A capacidade de perceber o jogo e de se relacionar com os colegas é altamente invulgar. A calma e a competência técnica fazem o resto. É daqueles jogadores em quem os médios sabem que podem confiar, colocando-lhe a bola nos pés; daqueles de quem se espera, mesmo que rodeado de adversários, que resolva sempre bem, encontrando a melhor solução para dar continuidade a uma jogada de ataque. Milevsky é o típico avançado que o Entredez aprecia, um avançado que se faz valer pela forma como contribui para todo o processo ofensivo e não apenas para a finalização do mesmo, um avançado que permite à equipa uma maior variedade de soluções e uma capacidade natural para progredir através de passes verticais rasteiros, funcionando como âncora ofensiva. A forma como serve de referência, parecendo procurar sempre linhas de passe e sabendo sempre encontrar a melhor solução depois de receber a bola, fazem dele um ponto de apoio óbvio para a equipa onde jogue e uma solução regular, quer em transição, quer em ataque organizado. Com estas características, há poucos avançados da sua qualidade. É por isso que me faz alguma confusão que ainda não tenha despertado a cobiça de emblemas mais conceituados. Numa altura em que o Arsenal parece carenciado de avançados de um certo tipo, nomeadamente avançados mais estáticos e capazes de segurar a bola de costas para a baliza, como tão bem o fazia Adebayor, estando essencialmente servido por avançados mais velozes e móveis como Eduardo da Silva, Carlos Vela, Arshavin, Walcott e Van Persie, e numa altura em que o holandês, a principal referência do ataque neste início de temporada, está lesionado, acredito que Milevsky assentaria perfeitamente no modelo dos londrinos e traria à equipa comandada por Arséne Wenger um acréscimo de qualidade assaz relevante. A mim, para quem o futuro de Milevsky sempre pareceu risonho, uma transferência desse tipo traria enorme satisfação: seria a oportunidade de ver com mais regularidade um avançado de grande qualidade e seria o reforço ideal para uma equipa à qual me parece que só falta mesmo um jogador destas características para poder surpreender tudo e todos esta temporada.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Evolução a frio...

Na anterior ronda da Champions, vimos o conjunto de Guardiola realizar uma exibição que apelou a um grande esforço dos catalães. E este esforço tem uma relação exígua com factores externos à equipa do Barcelona.

Perante um adversário que procurou acima de tudo tapar os caminhos da sua baliza, os campeões europeus fizeram uma primeira parte de uma qualidade e concentração irrepreensíveis. O jogo posicional da equipa espanhola, com os sectores sempre juntos, e um notável critério no passe permitiu-lhes jogar os primeiros 45 minutos em cima do adversário sem, no entanto, se exporem a qualquer situação de perigo por parte da equipa russa. E foi neste último aspecto que encontrei motivos para dissertar sobre o dito encontro.

Se, por um lado, o jogo posicional e a excelente qualidade da posse e circulação de bola já não espanta ninguém, a maneira como o conjunto catalão conseguiu impor o seu estilo a um conjunto que "defende" uma cultura tão antagónica à sua foi um sinal inequívoco de uma equipa sem limites no que toca à evolução do seu modelo de jogo. É verdade que os altos níveis de concentração apenas duraram 45 minutos, mas, deste jogo, o Barcelona, mais do que perder dois pontos, evoluiu. Evoluiu com a experiência que lhe foi proporcionada durante a partida. Por mais que se treine, por mais que se incuta nos jogadores as dinâmicas que são pretendidas, só mesmo perante grandes adversidades eles podem evoluir e melhorar os seus conceitos de jogo.

A maneira como o Barcelona desmontava o "ferrolho" adversário (que começava com os seus dois avançados na linha de meio-campo, oscilando em função da bola, tentado cortar as linhas de passe para os médios no corredor central, ou criando superioridade nas linhas, para, desta forma, impedir a progressão compacta que caracteriza os catalães) foi perfeita. Sem precipitações, ou ansiedade, rodavam o esférico até conseguirem a linha de passe mais "sólida", não caindo na tentação de procurar em demasia, através do jogo directo, Ibrahimovic.

Seriam certamente poucas as equipas a conseguir, durante todo o jogo, o mesmo número de ocasiões que o Barcelona, perante um conjunto que simplesmente se dedicou a um único momento de jogo, alcançou. E isto sem se desequilibrar (a única vez que o conjunto russo logrou visar a baliza catalã com algum perigo foi no seguimento de um pontapé de canto... do Barcelona). Mais do que uma equipa de futebol ofensivo, o Barcelona é, cada vez mais, uma equipa "brutal" em todos os seus momentos.

Se há algo de importante a retirar deste jogo, não é o resultado, mas sim a capacidade do Barcelona em evoluir a cada adversidade com que se depara. E isto só é possivel porque a equipa respeita a sua identidade, o seu modelo. É desta "massa" que se fazem grandes equipas, grandeza essa que encontra fundamento na capacidade que têm para evoluir a cada jogo.

Ponto de viragem?

O Sporting vive, neste momento, uma fase extremamente importante. Mais do que tentar salvar a época, é imperativo que a equipa leonina encontre um treinador que a possa colocar no rumo certo. Não será fácil, mas acredito que existem soluções que podem catapultar o clube de Alvalade para um patamar superior.

Não acredito que os treinadores devam procurar o melhor modelo para os seus jogadores; antes devem procurar o modelo que serve melhor a concepção que detêm sobre o jogo. Posto isto, o que os dirigentes leoninos devem ter em consideração é a filosofia do treinador que vão escolher. Devem procurar alguém com um modelo que permita ao clube leonino voltar ao trilho do sucesso, cujo estilo, por defeito, valorize os activos do Sporting. E isto não pode ser feito senão através de um estilo que valorize a inteligência dos seus jogadores.

Vendo as soluções ventiladas para suceder a Bento, a melhor solução, no meu entender, surge através de Villas Boas. Só porque o seu nome está associado a tudo o que representa Mourinho? Não. Porque Vítor Pontes também tem uma forte ligação com o "Special One" e dificilmente o veria como uma solução que pudesse servir da melhor forma o clube leonino.

Baseio-me nos jogos que tive a oportunidade de ver da Briosa. É cedo? É. No entanto, os princípios que têm servido de base às exibições da Académica são os melhores. A Académica é uma equipa que revela organização em todos os momentos do jogo, privilegiando a posse do esférico, procurando sair sempre de forma apoiada, obrigando os extremos a jogar mais por dentro. Enfim, procura-se que todas as acções sejam verdadeiramente colectivas. Este factor retira alguma "objectividade" à equipa, impedindo que seja mais rápida nas situações de contra-ataque. No entanto, torna a equipa mais forte no momento ofensivo, assim como retira vulnerabilidade às transições ataque-defesa da sua equipa. Outra coisa que me impressiona é a constante criação de apoios efectuada por toda a equipa. Não é responsabilidade de um ou dois jogadores, mas sim de toda a equipa. Resumindo, é um modelo que não relega para segundo plano a capacidade dos seus elementos em relacionar-se entre si, sempre em função das linhas gerais que guiam a consciência colectiva da equipa. E que melhor modelo, que não este, para fazer crescer jogadores como Pereirinha, Adrien, Carriço, Rosado, André Martins, Rui Fonte, Diogo Amado, Pedro Mendes, ou até, porque não, João Moutinho, Veloso, etc.?

sábado, 7 de novembro de 2009

Napoleão joga em Alvalade?

Há fármacos - disseram-me há tempos - que atenuam certas doenças mentais. Dedicar-se, por isso, à droga, era capaz de ser uma boa ideia para muito bom jornalista. É o caso de Nuno Madureira, autor deste brilhante artigo de opinião, no MaisFutebol. O jornal já nos habituou à demência dos seus opinadores, mas nunca é demais referir certos casos. Este vale francamente a pena, até porque assenta numa opinião amplamente difundida por mais de metade dos malucos que têm opiniões sobre futebol.

O que Nuno Madureira tenta fazer é explicar de forma simples o problema que se abateu sobre o Sporting. Acontece que só procura explicar coisas complexas de forma simples quem não tem muito juízo. Assim, a manifestação das perturbações mentais de Nuno Madureira começa logo com a sua primeira frase:

"Há muitas maneiras de enumerar os problemas do Sporting. Uma das mais básicas e directas resume-se a uma frase: afinal, Liedson é humano."

A falta de siso começa logo com um problema no discurso. Nuno Madureira diz que há várias formas de enumerar problemas e propõe-se a enumerá-los numa frase, mas depois não enumera nada e resume uma enumeração de várias coisas a apenas uma coisa. O resto deve ter-se, certamente, perdido pelo caminho. Mas antes de ler o resto do artigo, adivinhamos logo que o problema mental do senhor tem por origem uma desilusão relacionada com a natureza de Liedson. Ao que parece, a precipitação do estado de demência ter-se-á ficado a dever à descoberta de que o enormíssimo jogador brasileiro era, afinal, apenas um humano. Convém dizer que nem toda a gente está mentalmente preparada para descobertas deste tipo. Mas eis que prossegue a demonstração de loucura:

"Quantas vezes, nas últimas épocas, a uma exibição mediana - ou medíocre, ou mesmo má - do Sporting, se seguiu a entrada em cena do 31, aparecendo do nada, para resolver o jogo e atenuar as diferenças para a concorrência?"

Posso estar enganado, mas não me lembro de uma única ocasião em que Liedson tenha aparecido "do nada", a fintar os onze adversários e a fazer golos. Mas como não tinha por hábito assistir aos treinos dos leões, posso estar a fazer juízos precipitados. Continuemos:

"De tanto habituar os seus adeptos - e os dos adversários - a um rendimento superlativo, semana após semana, o «levezinho» construiu nos últimos anos, por mérito próprio, uma imagem de super-herói."

Superlativa é a pancada deste senhor; super-heróis foram os pais dele, que tiveram que lhe aturar a estupidez. Adiante:

"Agora, que a sua inacreditável regularidade conhece uma quebra consistente e prolongada - dois golos em nove jornadas, o último há mais de mês e meio - tudo o que andava disfarçado, ou atenuado, parece mais evidente."

Agora?? Mas é a primeira vez que o rapaz fica muito tempo sem marcar?? E quantos jogos resolveu o Sporting nesse mês e meio, sem Liedson? Comecemos pelo fim: foi Saleiro quem marcou frente ao Venstpils, dando o empate; foi Matías Fernandez quem marcou frente ao Guimarães e frente ao Marítimo, o que valeu, das duas vezes, um empate; foram João Moutinho e Miguel Veloso quem marcaram na vitória ante o Ventspils; foram João Moutinho, Daniel Carriço e Vukcevic quem marcaram na vitória frente ao Olhanense; foi Adrien Silva quem marcou na vitória ante o Hertha de Berlim. O problema é mental, mas também é de memória. E de matemática, já agora. O que "andava disfarçado, ou atenuado" e que agora é evidente é que doentes mentais não têm competência para serem jornalistas. Continua Nuno Madureira, dizendo:

"A equipa tem poucas soluções tácticas alternativas? Sim, como sempre teve."

O senhor Nuno Madureira tem poucas ideias que não sejam idiotas? Sim, como sempre teve.

"Falta qualidade individual em quase todos os sectores? Sim, de há muito tempo para cá."

Falta qualidade individual a cada uma das sinapses deste senhor? Sim, é provável que falte.

"Paulo Bento repete receitas e discursos, sem um rasgo de novidade? Sim, como o fez também nos anos em que, sucessivamente, superou as expectativas."

Nuno Madureira repete sentenças populares e discursos de massas idiotas, sem um rasgo de novidade? Sim, como o fez nos anos em que, sucessivamente, superou as expectativas e conseguiu completar um curso superior. Mas eis o que diz no último parágrafo:

"A maior diferença - não a única, claro - é que noutras épocas o Sporting tinha um fenómeno a ponta-de-lança."

Um fenómeno? Mas um fenómeno natural? Era o El Niño? Ia jurar que esse jogava no Liverpool. E será permitido por lei fazer alinhar, no onze inicial, furacões, anti-ciclones, tsunamis e fenómenos dessa natureza?

"Nesta altura, tem apenas um excelente avançado, a lutar para recuperar os superpoderes."

Agora sim, percebo o que o senhor quer dizer. Na cabeça de Nuno Madureira, Liedson é o Super-Homem e o problema do Sporting é que ninguém consegue descobrir onde é que o Lex Luthor pôs a Kriptonyte. Será isso? E Nuno Madureira conclui a sua análise ao problema do Sporting do seguinte modo:

"Afinal, Liedson é humano. E o Sporting não estava preparado para lidar com isso."

Como se depreende, para Nuno Madureira, a humanidade de Liedson estragou os planos ao Sporting. A equipa estava preparada para jogar com dez seres humanos e uma entidade divina, mas a partir de agora vai ter de passar a jogar só com onze seres humanos. E isso, de facto, é um problema, visto que mais nenhuma equipa no campeonato português joga só com onze seres humanos. Aliás, vai ser muito difícil ao Sporting continuar a ser competitivo num desporto como o futebol, em que poucas são as equipas que não têm três ou quatro alienígenas, dois ou três veículos de guerra e um alguidar.

Resumindo, todo o maluco que se preze pensa que é Napoleão. Nuno Madureira é um maluco mais sofisticado. Está convencido de que Liedson é Napoleão. Isto se não estiver convencido de que é Napoleão quem é Liedson. Repito as primeiras palavras do texto: "há fármacos que atenuam certas doenças mentais." É capaz de ser altura, até porque vem aí o Natal, de oferecer ao senhor Nuno Madureira um colete de forças e umas férias pagas no Miguel Bombarda. Ou isso ou autógrafo de Deus... perdão, de Liedson.

P.S. Um bom fármaco contra este tipo de maluquice em particular e que ajuda a compreender os verdadeiros problemas do Sporting é o texto que escrevi a 31 de Julho de 2009 e que pode ser encontrado aqui. Aconselha-se a sua ingestão, duas vezes ao dia, durante três meses e vinte e sete dias...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Os Pequenotes

Num desporto em que cada vez mais as pessoas se apaixonam pelos Raúis Meireles do momento, eis que surgem dois pequenotes, desprovidos de velocidade ou força especialmente distinta, mas extraordinários do ponto de vista técnico e, sobretudo, do ponto de vista intelectual, a fazerem as delícias dos verdadeiros amantes da modalidade.

De um deles, disse há pouco mais de um ano que era o meu maior ídolo na actualidade e que seria um prazer poder vê-lo em Portugal, mas que temia que o seu futebol não fosse apreciado e valorizado no contexto nacional e no contexto particular da equipa para onde vinha. A época transacta deu razão às minhas reservas, mas, felizmente, tudo mudou desde Agosto. Do outro, sempre fui fã incondicional e não tinha dúvidas do seu valor. Como em relação ao primeiro, cheguei a temer que a mentalidade retrógrada do país não soubesse retribuir-lhe a qualidade. Felizmente, uma vez mais, encontrou o espaço ideal e a mentalidade ideal na equipa para a qual veio habitar.

Por esta altura, qualquer pessoa sensata saberá já que estas palavras de apreço não poderiam ser dirigidas senão a Pablo Aimar e a Javier Saviola. Os dois argentinos são, a uma distância que não consigo sequer qualificar, de tão vasta, os melhores jogadores deste campeonato. Com eles, o Benfica não é só um candidato ao título normal; é uma equipa mentalmente saudável, imaginativa como muito poucas no mundo. O futebol encarnado tem, colectivamente, uma qualidade considerável e Jesus está, por isso, de parabéns. Mas a principal virtude deste conjunto são estes dois pequenotes. E não estes dois, cada um por si; estes dois, sim, mas quando relacionados um com o outro. O Benfica torna-se especialmente poderoso quando estes dois conseguem combinar entre si, quando se conseguem entender. A relação entre eles é que é formidável. As suas qualidades mais interessantes, por isso, são aquelas que lhes permitem perceber-se um ao outro e não aquelas através das quais conseguem, ocasionalmente, resolver situações individuais.

O principal mérito de Jorge Jesus, de entre os muitos que tem, é ter confiado incondicionalmente o seu Benfica à arte destes dois enormes jogadores. Ao contrário de Paulo Bento, que parece desenhar a sua equipa sempre em função de Liedson, o mérito de Jesus consistiu em perceber em função de quem é que vale a pena desenhar equipas. Se uma equipa de futebol deve ser pensada em função de alguma coisa, deve sê-lo em função do talento. E é de talento que tem de se falar quando se fala nos nomes de Aimar e de Saviola. Estes dois artistas não têm muitos dos atributos que, hoje em dia, muita gente considera essenciais a um jogador de topo. Não são extraordinariamente velozes, não são agressivos, não são capazes de jogar intensamente durante 90 minutos, não são fortes fisicamente, não são altos. No fundo, são dois pequenotes. Acontece que, ao contrário do que muita gente pensa, o futebol é essencialmente para os pequenotes. E Aimar e Saviola encontraram na Luz quem percebesse isso.

O sintoma que mais fielmente denota a saúde desta equipa não é a capacidade de pressionar alto durante 90 minutos, não é a resistência física dos seus jogadores, não é a organização táctica da equipa, não é a quantidade absurda de golos marcados, não é a capacidade de criar jogadas de perigo a toda a hora. Tudo isto são, de facto, indícios positivos. Mas aquilo que melhor espelha o potencial desta equipa não é nenhuma destas coisas. Aquilo que faz pensar que, de facto, o Benfica poderá fazer uma época extraordinária e medir forças com quase todas as equipas do mundo é um pormenor que tem passado despercebido a quase toda a gente. Falo de Aimar e de Saviola, claro. Mas falo deles não por tudo o que é normal dizer deles, mas por outra coisa. Vejam como trocam a bola entre eles descomplexadamente, como jogam para trás quando podiam progredir, como parecem divertir-se ao mesmo tempo que decorre a competição, como se procuram um ao outro em campo, como tabelam com uma destreza inigualável, como confiam um no outro e endossam a bola ao outro mesmo quando este se encontra rodeado de adversários, como jogam à rabia entre adversários, como iludem tudo e todos negligenciando a ideia de progressão e preferindo repetir o passe para trás. Parecem almas gémeas. Entendem-se na perfeição e podem dar-se ao luxo de levar esse entendimento para patamares de complexidade incompreensíveis para a maior parte dos adversários. Ao fazê-lo, tornam-se muito difíceis de parar. Quando se pensa que Aimar vai definir a jogada, com um passe para as costas da defesa, eis que procura Saviola; quando se pensa que este se vai virar para o adversário e forçar a verticalidade, eis que devolve em Aimar; quando se pensa que, agora sim, Aimar vai dar profundidade, eis um passe para o lado para o amigo Javier; quando se pensa que Saviola, após tanta cerimónia, vai finalmente procurar ser objectivo, eis mais um toque curto para o amigo Pablito. E estão nisto o tempo que for preciso. E os adversários à roda, à procura da bola, com a língua de fora e já sem discernimento para perceber que, com tudo isto, se desorganizaram por completo. A consequência deste tipo de futebol é precisamente esta: desorganizar, pela imprevisibilidade, pela estranheza da coisa, toda uma defesa. O futebol curto de Aimar e Saviola, as tabelas e as contra-tabelas, o exagero de passes e devoluções entre eles, tudo isto corresponde ao maior trunfo deste Benfica. Ser capaz de fazer isto é ser capaz de fazer o que há de mais difícil e eficaz em futebol. Há pouquíssimas duplas que o conseguem. Neste momento, só me ocorrem os nomes de Xavi e Iniesta.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Campeonato do Mundo dos Comentários Hilariantes (Grupo B)

Já foi há mais de um ano que o campeonato do mundo dos comentários hilariantes começou. O Grupo A, então em disputa, gerou controvérsia. Agora, entra em acção o Grupo B. São mais 25 comentários fascinantes sobre o mundo da bola, recolhidos do baú de comentários do Entre Dez e expostos agora para apreciação dos nossos caríssimos leitores. Alguns deles reavivam lembranças saudosas e ilustres comentadores que, entretanto, deixaram de dar o seu riquíssimo contributo às nossas caixas de comentários, facto que lamentamos profundamente. A ideia, para quem não se lembra, é votar nos que considerar mais espectaculares. A prova continuará, com mais grupos a disputarem o acesso à grande finalíssima, e os melhores de todos terão depois o devido destaque. Aqui estão, sem mais demoras, os segundos 25 comentários hilariantes a concurso. Toca a votar...

1) Anónimo (29 de Novembro de 2007) (post Sub-Aproveitamento):

"tu percebes de futebol é? quem to disse? tens curriculo para apresentar? é que se n tens es igual aos restantes, podes mandar umas "papaias" para o ar mas é igual aqueles que rejeitas... cumprimentos"

(Nota: Anónimo, anónimo, tu percebes de disparates? Tens currículo para apresentar? É que se não tens és igual aos restantes a dizer disparates, podes mandar umas "papaias", mas dizes disparates tão disparatados como os daqueles que rejeitas...)

2) Bruno Pinto (4 de Dezembro de 2007) (post Falsas aparências... Parte dois):

"Se um gajo não sabe cruzar, não pode ser lateral, se não sabe atirar a bola lá para dentro, não pode ser avançado, se não sabe marcar em cima, não pode ser central. Etc, etc, etc."

3) Pedro (10 de Dezembro de 2007) (post As asneiras de Luís Freitas Lobo):

"Sim caro Nuno o talento nasce com as pessoas....por muito q tu aprendas a cantar se não tiveres voz não chegarás ao nível máximo. Pq o talento é o q define aquilo q separa uns de outros, talento é aquele factor x que não se explica, tem-se ou não se tem. Simplesmente isso. Chama-lhe instinto, inspiração, whatever, talento nasce connosco..."

e (a 11 de Dezembro de 2007)

"Não se trata da inteligência ser inata ou não. Trata-se sim de tu estudares uma vida inteira e não conseguires resolver os mais dificeis problemas matemáticos e outros aos 15 anos resolverem-nos desde os 7."

(Nota: Achou o comentário confuso?? Faça uma pausa às 15 horas desde as 7.)

4) Anónimo (10 de Dezembro de 2007) (post As asneiras de Luís Freitas Lobo):

"a homossexualidade é, obviamente, genética. Ninguém é gay/lésbico por opção (ao contrário do que alguns tontos homossexuais parecem acreditar, provavelmente por receio que lhes chamem doentes hereditários...)."

5) Bruno Pinto (10 de Dezembro de 2007) (post As asneiras de Luís Freitas Lobo):

"O Maradona foi o que foi porquê? Primeiro, porque Deus deu-lhe um talento absolutamente incrível para jogar futebol. Segundo, porque treinou e aprendeu a usar esse talento no futebol de alta competição."

(Nota: O Deus é um maluco, a distribuir presentes assim pela malta.)

6) pedro silva (11 de Janeiro de 2008) (post O Boavista de Pacheco):

[falando de Mateus, Fary e Zé Kalanga]
"os 3 abundam em talento...mas é preciso um treinador!"

e

"O diakite é um jogador fundamental no boavista. ele não está lá pra jogar à bola... está lá pra não deixar jogar e aí está o teu erro de interpretação."

e

"O futebol defensivo é o mais ganhador de sempre na história do futebol. "

e (a 12 de Janeiro de 2008)

"Mourinho é claramente um defensor do estilo de jogo defensivo. Qualquer um sabe disso."

(Nota: Diz Mourinho, sobre a sua filosofia de jogo, em contraste com a de Bobby Robson, no livro de Luís Lourenço, Liderança: as lições de Mourinho, o seguinte: "(...) mantendo a primazia por um futebol de ataque, procurei no fundo, organizá-lo melhor e essa organização parte, muito justamente, da defesa." Afinal parece que não é assim tão defensivo.)

7) pedro silva (11 de Janeiro de 2008) (post Tragédia Grega... e não só):

[sobre Katsouranis]
"Sei que muita gente gosta dele mas eu, reconhecendo-lhe as qualidades que tem, acho que tem defeitos a mais para jogar no benfica."

8) Bruno Pinto (13 de Janeiro de 2008) (post Tragédia Grega... e não só):

"Bem, eu começo a pensar que o Nuno e o Gonçalo são o mesmo cromo, de tão parecidas que são as estupideses que dizem e a forma como não percebem o que se diz. Vontade de rir... Ainda não percederam (percebeu?) patavina do que eu disse do Veloso e do Moutinho. Não percebem... O Veloso e o Moutinho são os dois inteligentes. E não percebem porque eu prefiro um ao outro. É que não percebem. E depois ainda acham que percebem de futebol... Epá..."

(Nota: Não percebi como é que se não se percebe que um gajo não perceba que usou quase uma centena de vezes o verbo "perceber" numa frase, sem perceber que a estava usar de forma a tentar perceber algo que não tem capacidade para perceber.)

e

"Eu não acho que chamar burro é insultar (...) Um burro é um gajo sem inteligência. Não é insulto."

(Nota: Eu não acho que chamar prostituta à mãe deste artista seja insultar. Prostituta é uma gaja que usa o corpo para trabalhar. Não é insulto.)

9) Bruno Pinto (16 de Janeiro de 2008) (post 22 curtinhas):

"Nuno, escreve-se 'covarde'. Muda lá isso que não estou habituado a erros ortográficos neste blog."

(Nota: O ensino do português, a norte do Tejo, parece-me pouco competente. Assim como o ensino da bazófia.)

10) Pedro (18 de Fevereiro de 2008) (post Curtas mesmo mesmo curtas):

"Sinto da tua parte uma embirração com o Binya...e algo me diz q em breve vais ter q te retractar..."

e (a 19 de Fevereiro de 2008)

"Por acaso acho um pouco estranho q tu, logo tu, tenhas uma opnião assim tão fechada de Binya mas não vou aprofundar muito a questão. Acho q se nota q há ali muito potencial mas adiante...agora não reconhecer q com ele em campo o Benfica ganha agilidade e dinâmica na pressão defensiva é puxado."

11) Anónimo (6 de Abril de 2008) (post Breves da Semana):

"E se alguem desencantar um extremo que marque golos de cabeça com a facilidade do Ronaldo, digam, está bem?
Ao artolas que comentou anteriormente - já não tens paciência para o CR7? Olha, ainda vais ter que o aturar por muito tempo... e no Europeu, quando precisares dele para ganhar jogos, como é?"

(Nota: O que vale é que tínhamos o Ronaldo no Europeu, se não teríamos ficado aí pelos quartos-de-final.)

12) Messi (23 de Abril de 2008) (post O que é um passe?):

[sobre Pelé]
"Ainda bem que há gente como vocês para ensinar um jogador que joga no campeão Italiano o que é um passe.

Serviço público no seu melhor."

(Nota: Um jogador que "jogava" no campeonato italiano. Assim é que está certo. Um jogador que passou a primeira metade da época passada a brilhar na Liga Intercalar e que depois foi brilhar para um colosso inglês. E que agora brilha em Espanha. Fica a correcção. E o serviço público.)

13) Trigo (30 de Abril de 2008) (post Compreender Futebol, em vez de o jogar...):

"Só se diz merda neste blog? Execução vs interpretação... Conversa estúpida!! Só cromos nesta rua."

14) Julio Cruz (11 de Maio de 2008) (post Clássicos: Taça dos Campeões Europeus 86/87 - FC Porto vs Bayern de Munique):

"Não concordo, aquela equipa do Artur Jorge era brilhante tacticamente, não me venham dizer o contrário."

15) ChuckE (12 de Maio de 2008) (post Clássicos: Taça dos Campeões Europeus 86/87 - FC Porto vs Bayern de Munique):

"Que biltre horrivel que és... podes admitir que não gostavas do estilo do porto daquela altura, e naquela final em especial, de "combate". Mas daí a chamar-lhe mau jogo..."

e

"Eu já vi a repetição do jogo na rtp memória, também. Apreciei bastante o jogo do Porto, num estilo de jogo semelhante ao praticado pelo Porto do Carlos Alberto, muito combativo, sólido a defender, sempre na recuperação de bolas, futebol apoiado, meio campo de pitbulls baixotes, como foi o estilo do Porto durante anos. "

(Nota: O raciocínio que importa reter é: todo aquele que não gosta de "pitbulls baixotes" é um "biltre horrível".)

16) Pedrovsky (25 de Maio de 2008) (post Os melhores):

"OFF-TOPIC: viste o (outro) grande golo do Pelé na final da taça de Itália? Leste o que é que os jornais italianos, gazzeta e corriere dello sport disseram dele? Qual é mesmo o teu problema com ele? Palpita-me que este será um sapo grande que vais ter de engolir mais cedo ou mais tarde, ai vais vais..."

(Nota: A mim palpita-me é que não fui eu quem engoliu sapos...)

e (a 26 de Maio de 2008):

"Nuno, eu sempre achei o Pelé um possível grande jogador de FUTURO. O grande golo que ele marcou (mais um)é mais uma prova e não apenas um motivo para dizer que ele é bom.
Qto às possibilidades com Mourinho, lembro-te apenas que o Bosingwa com Mourinho quase nunca jogou e hoje é o lateral mais caro do mundo, enquanto o dani alves não sai do sevilha. Por isso, o tempo está a favor do Pelé, mesmo que ele fique mais tempo no banco."

(Nota: Exacto, o tempo continua a favor do Pelé.)

17) slb4ever (26 de Maio de 2008) (post Os melhores):

[sobre Pelé]
"se com Mourinho não explodir, o problema é do Zé..."

(Nota: Se com Mourinho não explodir, o problema é do Zé; se com o Jesualdo não explodir, o problema é do Jesualdo; se com o Tony Adams não explodir, o problema é do Tony; basicamente, o problema é de todos menos dele...)

18) Anónimo (28 de Maio de 2008) (post Os melhores):

"És o maior tono do caralho!!"

(Nota: O que é um "tono"?)

19) Pedrovsky (29 de Maio de 2008) (post Pelé: um estudo):

"tens problemas com o M. da Costa? Já alguma vez viste um central com a habilidade dele na frente?"

20) Pedro Silva (29 de Maio de 2008) (post Pelé: um estudo):

"Nuno, exageras e ainda vais passar mal com o pelé."

21) Anónimo (5 de Junho de 2008) (post Sondagem (6)):

[sobre uma votação para eleger a equipa com melhores condições para vencer o Euro 2008]
"Votos na Espanha: nuno, gonçalo, o cão do nuno e o gato do gonçalo."

(Nota: os patetas do costume, uma vez mais com opções de voto que não lembram nem ao Diabo.)

22) Anónimo (14 de Junho de 2008) (post Incidências da Primeira Ronda do Euro 2008):

"Este blog é de escachar o coco a rir."

(Nota: Nunca percebi por que é que partir um côco é motivo de riso. Já "escachá-lo" é-o, seguramente.)

23) José Henriques (18 de Junho de 2008) (post Segunda Ronda):

"Mister fred (k de mister nao deve ter nada), já devo ver fut há mt mais tmp k tu!! por isso não me substimes...e n des exemplos parvos...o diakité e o binya são 2 pretos xulos.o petit é 1 gajo ja com visao d jogo e um remate mt forte..e a grécia eu nao digo k seja espectacular! mas k é boa tacticamente é! e vai xamar nabo à tua avó torta, k eu ja vejo futebol a 20 anos! este blog é so energumenos e gente sem humildade. isto é uma vergonha. a juntar a censura. parece q k voltamos ao estado novo."

(Nota: O nível dos insultos é brilhante, o português usado melhor ainda. Melhor, só mesmo a justificação para a falta de qualidade de Diakité e Bynia seguida da indignição por um comportamento, supostamente, em conformidade com a censura do Estado Novo. O que vale é que há coerência!)

24) Zé das Hóstias (20 de Junho de 2008) (post Ronda Final):

[sobre a França no Euro 2008]
"ESTE GAJO NAO SABE O Q DIZ!!!! A FRANÇA JOGOU MT BEM SÓ TEVE AZAR!!!"

25) Costa (decora o nome, cromo) (30 de Junho de 2008) (post Final e mais coisinhas):

"Ó palhaço, quem disse que o Pelé é dispensável? Se o fosse, o Quaresma há muito que já tinha ido para o Inter, não achas? Além disso, o que se fala é de um empréstimo, não de uma cedência definitiva."

(Nota: Professor Karamba e as suas adivinhações prodigiosas.)

E é isto: humor de qualidade, poderes de adivinhação prodigiosos e análise futebolística extremamente requintada. Falar de futebol a rir - eis o lema deste espaço e de todos os seus intervenientes.

domingo, 18 de outubro de 2009

Simplesmente... Viana.

Um dos melhores jogadores portugueses da sua geração (e só não o considero o jogador mais importante do campeonato porque na Luz moram dois argentinos que são para lá de extraordinários). Ignorado pelo clube que o lançou para a alta roda do futebol, Hugo Viana foi parar a Braga. Na altura, as alarvidades que se disseram sobre o assunto multiplicaram-se: fosse porque era lento, ao contrário do velocíssimo Zizou, ou porque não se encaixava bem no modelo do Sporting, nem em qualquer um dos grandes, etc., a estupidez dos argumentos só encontrava par no talento que Viana teimava em espalhar pelos relvados, semana após semana.

Realmente, tenho de concordar que um jogador como Hugo Viana não faz o menor sentido num modelo como o Sporting: uma equipa que despreza a bola, que apela única e exclusivamente ao espírito de sacrifício dos seus jogadores, enfim, um modelo que ao invés de elevar os seus jogadores apenas os rebaixa não é, com toda certeza, o mais indicado para um jogador com o potencial de Hugo Viana, pois quanto maior é o potencial de um jogador sob o jugo daquela igreja maior é a atrocidade cometida contra o futebol. Se não, vejamos os casos de Pereirinha, Romagnoli, Farnerud, etc. Portanto, não será de todo disparatado dizer que a miopia que o "empurrou" para Braga foi a grande responsável pelo excelente campeonato que o Braga está a realizar. É verdade que a equipa minhota "parece" trabalhar sob a luz certa: tem um treinador que apela, de forma positiva, ao orgulho dos seus jogadores, dá importância à posse de bola, para além de conceder a liberdade necessária aos seus jogadores. No entanto, não é uma equipa muito organizada, e nem sempre se consegue apresentar com os sectores unidos, quer a atacar, quer a defender. Domingos parece um treinador com grande potencial, (tal como parecia Bento, há três anos) mas ainda é cedo para perceber se os motivos para jogar como pretende são os mais correctos. Falta perceber se os erros que comete não passam disso mesmo, ou se são sinais inequívocos de uma fraqueza que o tempo não tardará a pôr a descoberto, essa vertigem pela fé no resultado, sem se interessar, ou perceber, como o alcança. Por agora, com a liberdade concedida a Hugo Viana, Domingos não tem de se preocupar ora com a qualidade de jogo da equipa, ora com a menor valia (individual) dos argumentos da equipa arsenalista.

Hugo Viana é um caso raro de evolução. Poderia ser a esta altura mais bem-sucedido, isto se não se tivesse transformado naquilo que é hoje: um jogador muito inteligente que conhece todos os "cantos" do jogo, que percebe as necessidades da equipa, que mede cada acção que toma com uma gravidade que não se esgota na execução do passe ou do drible. E como seria fácil, para um jogador como Hugo Viana, focar-se apenas e só nas suas qualidades individuais. Bastava "apregoar" a toda a hora a facilidade com que a qualidade do seu passe longo se manifesta, forçando com isso um maior número de passes de risco e conseguindo um maior número de assistências, ainda que isso, muito provavelmente, se viesse a revelar contraproducente para a equipa. Poderia também, como muitos dos ídolos (com pés de barro) cá do burgo, procurar incessantemente, e a qualquer custo, obter o golo através de acções individuais. Decerto que a esta hora a sua conta pessoal seria bem mais atractiva; talvez até pudesse ser titular na selecção de todos vós. Mas de certeza que o Braga não seguiria invicto, com um registo impressionante, como líder do campeonato. Por isto tudo, não me parece exagerado dizer que, a par de Aimar e Saviola, Hugo Viana é, sem qualquer ponta de dúvida, a figura maior deste campeonato.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Os energúmenos

Há pouca coisa em mim - confesso - que me cause mais repulsa que a estupidez do ser humano. Tolero, com facilidade, coisas que maior parte das outras pessoas não tolera, mas sou incapaz de conviver ou de aceitar sequer gente estúpida. Quando essa estupidez, então, me afecta directamente, quer pondo em causa aquilo que sei, quer arrogando-se de franca sabedoria, germinam em mim incontroláveis vontades de desdenhar. O escrúpulo é a ferramenta que usamos para aceitar a opinião alheia, mesmo quando ela não nos satisfaz. Contra estúpidos, porém, é frequente que perca a capacidade de manter os escrúpulos. É a esses doutores que este texto se dirige, na forma de uma lista de propriedades das suas doutas competências intelectuais. São, por isso, verdadeiros energúmenos:

1. Os que acham que a agressividade é uma coisa meramente mental e que para se tornar agressivo basta haver força de vontade.

2. Os que acham que o espírito de sacrifício é a maior virtude de um jogador.

3. Os que acham que o respeito se ganha exigindo-o arbitrariamente e não por demonstração de competência.

4. Os que querem bolas na linha só porque ouviram dizer que se deve jogar pelos flancos.

5. Os que protegem a humildade em vez do talento e os que dispensam os mais talentosos jogadores apenas porque não souberam lidar com o seu feitio.

6. Os que acham que podem justificar as suas ideias dizendo que aquilo que defendem está escrito em "livros" e que, como tal, não pode ser questionado, quando facilmente são desarmados se pensarmos que o livro mais influente na cultura ocidental se baseia na existência de uma entidade que, obviamente, não existe.

7. Os que não percebem que os jogadores mais competentes e através dos quais melhores resultados se podem extrair não são aqueles que dão tudo de si em termos físicos, mas sim aqueles que dão tudo de si em termos intelectuais, procurando perceber e melhorar as suas competências, não se limitando apenas a esticar ao máximo as suas competências actuais.

8. Aqueles que criticam um jogador por inventar e que aplaudem outro quando este faz algo simples, mas previsível.

9. Os que, com uma equipa cujas maiores virtudes são as competências técnicas e intelectuais, acham que os ingredientes necessários para vencer um adversário cujas principais características são a agressividade e a força são precisamente a agressividade e a força.

10. Os que não percebem que a impetuosidade não se contraria com impetuosidade, mas com inteligência, calma e qualidade de passe.

11. Os que não percebem que os melhores jogadores são os que tentam fazer as coisas mais difíceis e que, no meio de cinco adversários, dominar no peito, proteger a bola, metê-la no chão e dar num companheiro de modo a que a equipa possa começar a construir é muito mais difícil do que ir às alturas ganhar uma bola de cabeça cujo destino passa a ser absolutamente imprevisível.

12. Os que preferem jogadores que não compliquem àqueles que, sabendo das dificuldades, procuram ainda assim fazer coisas difíceis por perceberem que o êxito nas mesmas implica ganhos relevantes para a equipa.

13. Os que preferem jogadores velozes mas ineptos a jogadores lentos mas talentosos.

14. Os que têm Diogo Rosado e Fábio Paim no plantel e não os aproveitam, deixando-os no banco e utilizando outros como Wilson Eduardo.

15. Os que pensam que a qualidade de um avançado se determina pela quantidade de golos que marca e depois não têm capacidade para explicar por que é que o melhor avançado da Liga tem um quarto dos golos do melhor marcador da Liga.

16. Os que acham que o momento de atirar à baliza é mais importante que qualquer outro momento de jogo, usando o extraordinário argumento de que, no futebol, a conclusão é mais importante que a introdução e que o desenvolvimento apenas porque sim.

17. Aqueles que pensam que é possível criar jogadas de finalização de forma constante utilizando, em todo o processo ofensivo, apenas três ou quatro toques.

18. Os que ainda não perceberam por que razão é que o Braga, não sendo uma equipa especialmente bem organizada, nem especialmente agressiva, nem especialmente bem preparada fisicamente, está em primeiro no campeonato.

19. Os que acham que pedir atitude aos jogadores é uma fórmula mágica para os motivar e ignoram que a motivação só pode ser fruto do reconhecimento de competência.

20. Todos aqueles que, enfim, não privilegiam as características certas, aqueles que não percebem que tipo de carácter os seus jogadores devem possuir, aqueles que valorizam excessivamente as trivialidades, aqueles que acham que uma equipa deve ser composta por onze monges franciscanos, aqueles que acham que a simplicidade per si é louvável e que o futebol é um jogo simples, aqueles que não conhecem o episódio bíblico de David e Golias e acham que, para se vencerem Golias, se deve ser parecido com Golias, aqueles que não percebem que o próprio conceito de jogo implica que haja formas mais eficazes do que outras de se vencer e que, de maneira nenhuma, todas as estratégias são aceitáveis, etc...