sábado, 28 de fevereiro de 2009

Futebol fora de época...

É um exercicio engraçado imaginarmos certos jogadores a "florescer" num ambiente que não aquele em que os descobrimos. Embora a evolução dos mesmos enquanto jogadores não fosse possível, se estes se encontrassem num ambiente totalmente diferente. Mas será que, mesmo por um mero acaso, isto fosse possível, isto é, se estes conseguissem atingir o nível que apresentam nos seus clubes, será que receberiam o mesmo reconhecimento noutros clubes, ainda que a maior parte dos outros clubes fosse de um nível, incomparavelmente inferior? Provavelmente não.

Se nos debruçarmos sobre o caso do jogador Sergio Busquets, facilmente percebemos que o facto de ele se "emancipar" só é possível por se encontrar numa equipa num "estádio" de desenvolvimento superior às demais. Dificilmente este jogador poderia "crescer" numa equipa como o Sporting, pelo menos neste momento, ou até em qualquer equipa do meio da (nossa) tabela. Da mesma forma, mais facilmente vemos um jogador como Liedson alcançar sucesso na Liga Inglesa, por exemplo, do que um jogador como Postiga. Postiga, em várias coisas me lembra Barbosa, Pedro Brabosa. Não só pela excelência do seu futebol, mas muito pelo seu "deslocamento" perante grande parte dos que o rodeiam. Porque corre quando deve, toca quando deve, dribla quando pode, não chama para si as atenções dos exageros que não comete. Em contrapartida, este jogador teria, sem ponta de dúvida, mais condições para ter sucesso numa equipa mais evoluída, como o Barcelona, do que o Levezinho.

A explicação está no desenvolvimento do conceito de futebol que habita nestes dois jogadores: um joga para o povo, da forma mais primitiva que existe (mas é também a única que a grande maioria dos adeptos sabe apreciar); o outro joga para si e para aquilo que entende ser o melhor para a equipa. O problema é que a percepção de jogo que possui é demasiado "erudita" para o futebol que o acolhe.

Adam Smith defendeu o seguinte: "só as qualidades de espírito são capazes de conferir uma autoridade entre iguais (...) São, porém, qualidades invisíveis, sempre sujeitas a contestação, e efectivamente contestadas em geral (...)"

Esta afirmação, ainda que derive de alguém que não tenha qualquer tipo de relacionamento com o desporto-rei, aplica-se de forma bastante pertinente às idiossincrasias do mesmo.

Um solução inteligente muitas vezes não requer exuberância físico/técnica, o que impede o devido reconhecimento da execelência da resolução em causa. Soluções que não sejam sustentadas por uma interpretação, ou decisão, tão correcta, mas que ponham em foco qualidades fisico/técnicas estão ao alcance de todos. Já um jogador que possua um entendimento superior do jogo só tem hipotese de ser reconhecido se os agentes futebolísticos que o rodeiam (treinadores, jogadores, adeptos, etc.) tenham eles próprios uma concepção evoluída do jogo.

Não é exclusivo do futebol a existência de pessoas com uma visão de tal forma evoluída, na área em que estão inseridos, que dificilmente são "agraciados" com o reconhecimento contemporâneo.
O problema é que, ao invés de outros exemlos, não é possivel ao jogador deixar obra se não estiver inserido no "ambiente correcto", para se poder prestar o devido reconhecimento numa época posterior, uma época que se mostre "capaz" de tal feito.

Um jogador, enquanto parte de um todo, está sempre condicionado pelo mesmo e, se o todo é demasiado primitivo para poder absorver as qualidades do mesmo, dificilmente as qualidades desse jogador serão aproveitadas e reconhecidas. Dai que se preste vassalagem a jogadores como Pelé, e outros, em detrimento de jogadores como Custódio, Farnerud, etc.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Retrospectiva do Atlético de Madrid - F.C.Porto e Antevisão do Sporting - Bayern de Munique

O Entredez fez hoje dois anos e, para o comemorar, um pequeno texto sobre as equipas portuguesas envolvidas nos oitavos de final da Liga dos Campeões.

Retrospectiva do Atlético de Madrid - F.C. Porto:


O Porto empatou em Madrid, mas melhor que o resultado foi a confirmação de que é mais equipa que o Atlético. Embora o modelo de Jesualdo só se sinta confortável em transição e o Porto precise de espaço para pôr em prática o seu futebol, é claramente mais organizado e objectivo que o conjunto espanhol. Com Aguero ainda aquém das suas capacidades, o Atlético foi sempre previsível, marcando em duas falhas claras do Porto, primeiro num lance em que Bruno Alves está demasiado recuado, colocando em jogo os avançados do Atlético, e em que Cissokho está demasiado alto, permitindo que a bola entre em Maxi Rodriguez, que lhe passou nas costas, e depois num lance muito infeliz de Helton. Já o Porto conseguiu sempre manter em sentido a defesa espanhola, sobretudo graças à velocidade e ao repentismo do seu trio da frente. Lisandro esteve especialmente empenhado e foi o autor dos dois tentos da equipa. Rodriguez foi, quanto a mim, o melhor em campo, seguido de Lucho. Já Hulk passou claramente ao lado do jogo. À excepção de uma ou outra arrancada, sempre quando descaía para uma das faixas, esteve apagado. Ainda assim, não esteve tão mal como é hábito, do ponto de vista da decisão, sobretudo na primeira parte, conseguindo entregar várias bolas de frente e de primeira. O que me parece, porém, difícil de aceitar é a opção de Jesualdo em utilizar Hulk no centro do terreno. É verdade que a equipa ganha a capacidade de explorar as costas do adversário, mas isso não chega. Creio também que a opção tem mais a ver com a disponibilidade defensiva de Lisandro. É que o Porto opta por fechar o corredor central, convidando o adversário a sair pelas linhas, e os primeiros elementos a efectivarem a pressão são normalmente os alas. Jesualdo quererá, certamente, que Hulk não se desgaste neste trabalho, ao mesmo tempo que não confiará tanto na sua capacidade táctica quanto na de Lisandro. Mas isso traz problemas. O Porto perde capacidade de circular a bola pelo meio, perde uma referência no ataque para jogar como apoio ofensivo e fica obrigado a jogar de forma mais directa e mais rápida. Não foi o caso com o Atlético, pois a equipa espanhola, pelo modelo que usa, concede bastantes espaços, mas a verdade é que esta equipa do Porto não é forte a jogar contra equipas fechadas e não me parece que a tendência, nesse sentido, seja melhorar. Ainda assim, estão reunidas boas condições para que a equipa portuguesa siga em frente.

Antevisão do Sporting C.P. - Bayern de Munique:

O Sporting joga amanhã em casa contra o Bayern de Munique. O momento dos alemães não é o melhor e a equipa portuguesa pode e deve aproveitar-se disso. O mais importante, numa primeira eliminatória em casa, é não sofrer golos. Tendo em conta isso e conhecendo a equipa bávara, acho que o Sporting deve optar por uma de duas estratégias: ou mandar no jogo, impondo o ritmo do mesmo, fazendo uso de uma posse de bola com pouco risco de modo a controlar a velocidade da partida, ou recuar o bloco e defender baixo, concedendo a iniciativa ao adversário e tentando aproveitar as transições, momento em que o Bayern deixa muito a desejar. Este Bayern joga num 442 clássico perfeitamente definido, com Ribery e Schweinsteiger, os dois alas, a procurarem muito os espaços centrais, o que permite aos defesas laterais subirem bastante. É uma equipa muito dotada, do ponto de vista individual, mas que só sabe jogar a uma velocidade. Ainda assim, se tiver espaço para fazer uso da intensidade que põe em campo, o Bayern pode ser letal. Contra equipas bem organizadas e fechadas atrás, o Bayern não é muito forte e costuma descompensar a retaguarda sempre que sobe. Se a estratégia do Sporting for conceder a iniciativa ao adversário, os melhores elementos para jogar no ataque serão Djaló e Vukcevic, enquanto que o meio-campo seria constituído por Rochemback, Izmailov, Pereirinha e Moutinho. Se a estratégia, pelo contrário passar por ter bola, é impreterível incluir Romagnoli no onze e utilizar passes verticais a explorar o espaço entre a defesa e a dupla Van Bommel/Zé Roberto, espaço esse que o Bayern concede invariavelmente. Neste contexto, jogaria com Moutinho a médio-defensivo, Izmailov e Pereinha como interiores e Derlei (já que Postiga não está operacional) e Vukcevic na frente. Não creio que Paulo Bento vá fazer nada disto, até porque Liedson é intocável, e penso que as possibilidades que o Sporting tem de seguir em frente são directamente proporcionais ao desacerto germânico. Se a equipa alemã, porém, não cometer erros, dificilmente o Sporting, de acordo com aquele que será, muito por certo, o pensamento de Paulo Bento, poderá passar à fase seguinte.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Várias Concepções de Defesa à Zona

"Confrontado com a eventualidade do F.C. Porto de Mourinho «defender à zona», J. é peremptório: "Não. Eu não concordo com isso. Eu acho que vocês estão completamente enganados. Sabe porque é que eu digo que estão completamente enganados? Porque o Porto é uma equipa que faz um pressing alto (...)" e "(...) jogar à zona é jogar numa zona expectante, dando a iniciativa ao adversário e jogando na sua zona defensiva"." Para A., "jogar à zona é estarem todos atrás da linha da bola. Agora, jogar à zona não é termos todos os jogadores a jogar dentro da nossa área, mas sim o adversário estar a trocar a bola entre a defesa e a nossa equipa estar toda atrás da linha da bola"."

in AMIEIRO, Nuno, Defesa à Zona no Futebol, pp.96

J. e A. são designações para dois treinadores de futebol. Tanto um como outro têm um conceito de defesa à zona profundamente errado. Para muita gente, como para estes senhores, jogar à zona é colocar os jogadores todos atrás da bola, aglomerá-los numa posição estática, expectante. Nesse sentido, uma equipa que defendesse à zona, seria sempre uma equipa que concederia a iniciativa de jogo ao adversário e que tentaria aproveitar os erros do mesmo para, depois, jogar no espaço criado pela subida das suas linhas. Ora bem, defender à zona não é nada disso. É possível, por exemplo, defender à zona executando um pressing alto.

Antes de começar, propriamente, gostaria de deixar claro que o livro de Nuno Amieiro que citei é um estudo eloquente e muito bem exposto do conceito de defesa à zona. Nele, Amieiro fala dos vários conceitos de zona e expõe as razões para se privilegiar um em detrimento dos outros. Para quem quiser, de facto, aprender algo sobre a zona, recomendo a leitura integral do livro, uma das poucas coisas sobre futebol que vale, de facto, a pena ler. Ora bem, antes de me deter nas várias concepções de zona, gostaria então de dar uma ideia geral do que é defender à zona. Ao contrário do que J. e A. parecem presumir, defender à zona não tem a ver com uma mentalidade mais ou menos defensiva. É possível defender à zona pressionando alto, como é possível defender à zona com um bloco baixo. Aquilo que define a zona não é a mentalidade, mas as referências de marcação. Ao contrário das marcações tradicionais ao homem, marcar à zona tem por referência não o adversário directo, mas a bola e a posição da nossa equipa; o que interessa são os espaços e não os adversários. Como tal, é predicado da zona encurtar os espaços, reduzir ao máximo a possibilidade de a bola passar entre os nossos jogadores. Defender à zona implica, portanto, várias coisas: esquecer o adversário, fazer campo pequeno, ou seja, jogar o mais perto dos companheiros que for possível, ocupar o lado forte (lado onde está a bola) e desocupar, porque desnecessário, o lado fraco (lado onde a bola não está). Para dar um exemplo, numa jogada em que o adversário conduz a bola pela esquerda, a equipa que defende à zona deve encontrar-se montada derivando para a direita (do ponto de vista de quem defende), com os jogadores de tal forma perto uns dos outros que o portador da bola só tenha linhas de passe para trás ou virando, por alto, o flanco. O que interessa na defesa à zona é ocupar espaços e manter essa ocupação independentemente da movimentação do adversário. Se os espaços estiverem, a todo o momento, preenchidos, o adversário, porque precisa de espaço para jogar, deixará de ser uma preocupação. A preocupação inicial da defesa à zona é impedir que seja o adversário, pela sua movimentação, a conduzir a marcação para onde lhe aprouver, criando espaços. Ignorando o posicionamento e a movimentação de cada um dos adversários, a equipa manter-se-á sólida, organizada, compacta. E será muito mais difícil ao adversário conseguir desequilíbrios. Ao contrário do que acontece numa defesa ao homem, um adversário, ao passar por um defesa numa equipa que jogue à zona, terá outro adversário imediatamente perto dele, porque a estrutura defensiva assenta em coberturas sucessivas. Numa defesa à zona, porque a referência não são os adversários mas os colegas, atrás de um jogador estará sempre outro, ao lado desse, outro, de acordo com a própria estrutura posicional pretendida. Dito isto, abrem-se várias possibilidades de interpretação, o que no fundo faz com que haja várias concepções de zona diferentes.

1) Em primeiro lugar, a chamada "zona mista". O pressuposto inicial é o mesmo que o da defesa à zona, isto é, o que interessa é a bola e os colegas, pelo que cada jogador deve estar posicionado em função da posição da bola no terreno e em função do posicionamento dos colegas. No entanto, esta variante da defesa à zona pressupõe que, entrando um adversário na zona de competência de um dos defensores, esse defensor deve encarregar-se de marcá-lo, largando-o se ele sair da sua zona. Isto implica definir a zona de competência, o que não é propriamente fácil e entra em contradição com um dos pressupostos base da zona, ou seja, a sua maleabilidade. Defender à zona não tem nada de estático. Não há zonas de competência no campo, porque a zona de competência é diferente a cada instante. Uma vez que a defesa à zona tem por referências a posição da bola e dos colegas, ela varia consoante a posição da bola e dos colegas. Logo, definir zonas de competência parece-me francamente difícil. Ainda assim, poder-se-ia definir essas zonas de competência a cada instante, ficando o defensor, a cada instante, com a competência de uma zona, digamos, equivalente a alguns metros à sua volta. O que me parece, contudo, contraproducente, neste tipo de variante da defesa à zona é o facto de, ainda que apenas quando um adversário directo entra na zona de jurisdição de um defensor, haver momentos em que a preocupação dos defensores deixe de ser a bola e os colegas e passe a ser o adversário. No fundo, a troca de referências, ainda que instantânea, poderá acarretar, ainda que por instantes, a perda de noção dos espaços. Defender segundo este conceito, ainda que não conceda espaços tão amplos como quem defende estritamente ao homem, acaba sempre por ser um modo de defender pouco eficaz. É inevitável, porque é natural e constante que os adversários entrem nas zonas de competência dos defensores, que se abram espaços. Esta concepção de zona é a mais utilizada hoje em dia. E é-o porque é o modo mais fácil de interpretá-la. No entanto, acarreta quase tantas consequências como uma defesa ao homem.

2) Um segundo tipo de defesa à zona, que é por exemplo a concepção de Jesualdo Ferreira, implica algo ligeiramente diferente. Pode dizer-se, grosso modo, que há dois momentos distintos no acto de defender, um passivo e um activo. O termo "zona pressionante", criado por Arrigo Sacchi, abrange o momento activo da zona. Defender à zona implica sempre a definição de uma zona pressionante, que mais não é que a zona onde se pretende recuperar a bola. Nessa zona do terreno, que pode ser mais alta ou mais baixa, mais larga ou mais estreita, mais junto à linha ou mais central, o acto de defender torna-se uma coisa activa, que pressupõe a recuperação da bola e não apenas uma organização territorial. Mesmo quando a zona pressionante não é definida, a equipa tem momentos em que defende mais activamente, nem que seja junto à área, pelas razões óbvias. Ora, a passagem de um momento passivo para um momento activo, de um momento em que a preocupação é estar organizado para um momento em que a preocupação passa a ser preencher agressivamente os espaços de modo a constranger o portador da bola, é um momento crucial. A interpretação de como este momento deve ocorrer leva a divergências de opinião e a ligeiras diferenças na forma de defender. É neste momento que a zona de Jesualdo difere, por exemplo, da de Mourinho. Ora, no momento de pressionar o adversário que conduz a bola, no momento em que é efectivada a zona pressionante, nesta concepção, a preocupação deixa de ser a bola e os colegas, passando a ser a bola e os adversários. Nesta concepção, que é a de quase toda a gente que defende à zona, pressionar activamente é sempre pressionar homens. Quando o defensor que está perto do portador da bola ataca a bola, os colegas devem reagir procurando acercar-se dos adversários que tiverem por perto de modo a inviabilizarem uma opção de passe. Isto pode parecer uma boa solução, mas creio que acarreta problemas. Com este comportamento, ao esquecerem deliberadamente a ocupação dos espaços, fixando-se num adversário em concreto, perde-se, ainda que momentaneamente, a estrutura de coberturas que estava montada. Imagine-se agora que o portador da bola que era pressionado, em vez de passar a bola, driblava e livrava-se do defensor que o tinha pressionado. As consequências eram óbvias. Após ultrapassado esse obstáculo, uma vez que a estrutura defensiva tinha sido temporariamente desfeita, teria algum tempo e espaço de manobra para progredir. O comportamento defensivo implícito nesta concepção, ainda que não totalmente inadequado, acarreta, portanto, momentos de desorganização que podem ser fatais.

3) Isto leva-nos para uma terceira concepção da zona, que mais não é do que uma consequência, nas zonas do terreno a isso mais propícias, da segunda concepção. Nas imediações da área e dentro dela, o momento defensivo é sempre activo. Porque a baliza é uma referência defensiva óbvia, defender perto dela é sempre defender de uma forma pressionante, atacando o portador da bola. Ora, há quem defenda que, dentro da área e junto a ela as referências não podem ser zonais, mas sim os adversários. O argumento é o seguinte: como, nessa zona do terreno, todos os espaços são importantes, é muito difícil ocupá-los a todos, mais vale seguir cada um dos adversários, ignorando os espaços. Esta atitude mais não é do que uma consequência, como disse, da segunda, que define, no momento pressionante do acto defensivo, que as referências são os homens e não os espaços. Mas, tal como na segunda concepção, isto acarreta consequências. A troca de referências espaciais pelas referências dos adversários e vice-versa não é instantânea; a passagem de uma a outra é sempre um momento de desorganização. Se é verdade que um defensor pode, para si, ser rápido a reagir e a escolher um adversário para marcar, não nos podemos esquecer que a movimentação que resulta dessa decisão vai implicar novas decisões em cada um dos seus colegas que se tinham colocado no terreno em função dele. Transformar um acto defensivo que tem por referências os colegas e a bola num acto defensivo que passa a ter por referências o adversário não é um processo de fácil execução porque, uma vez mais, o comportamento de um jogador vai condicionar o comportamento de cada um dos seus colegas. E essa transformação, por não ser simples, leva tempo. Ou seja, esta teoria, ao tentar resolver aquilo que considera ser um problema irresolúvel, a impossiblidade de ocupar com exactidão os espaços dentro da área, acaba por descuidar um problema provavelmente maior: ao se preocupar excessivamente com os espaços, esquece o tempo, que, provavelmente, até é mais decisivo. Enquanto a equipa se reorganiza, trocando referências, o adversário tem tempo para agir, tempo esse que pode ser crucial. Além de isto ser um problema evidente, mantém-se o mesmo problema de sempre no que diz respeito às marcações individuais: ficando os jogadores entregues a pares de marcações, qualquer desembaraço individual é um desequilíbrio decisivo.

4) Resta uma última concepção de defesa à zona, que é precisamente a concepção defendida por Nuno Amieiro no livro em questão, assim como por José Mourinho ou Carlos Carvalhal, para dar dois exemplos. É, digamos, a mais pura das concepções, aquela que não se desvirtua, em momento algum do jogo, dos seus pressupostos iniciais. Para muitos, será demasiado lírica; para outros, a mais coerente. Devo dizer que é a concepção que mais me satisfaz, simplesmente porque é nela que sinto residirem menos problemas de coerência. Distingue-se das anteriores, como disse, por em nenhum momento se afastar das referências primordiais estabelecidas inicialmente: a bola, os colegas e a baliza. Ao contrário da segunda concepção, a zona pressionante é mesmo uma zona pressionante, ou seja, é efectivada mediante referências zonais. O jogador que está mais perto do portador da bola ataca a bola e os colegas reagem atacando os espaços de acordo, unicamente, com a movimentação do seu colega e com a movimentação de cada um dos seus colegas. Isto pode permitir, eventualmente, que haja um adversário solto para receber um primeiro passe desse portador da bola. Mas o novo portador da bola, o que a recebe do primeiro portador, tem agora muito menos espaço para jogar, muito menos linhas de passe e, sobretudo, uma estrutura defensiva adversária que se manteve organizada e inalterada. Ao contrário, também, da terceira concepção, segundo esta concepção é indiferente a zona do terreno onde se defende. Porque a baliza é uma das referências, quanto mais perto dela, mais aglomerados devem estar os defensores e, por conseguinte, menores serão os espaços. A única objecção possível a esta teoria seria em caso de contra-ataque ou ataque rápido, no qual, apesar de a equipa que ataca atacar com poucos jogadores, a equipa que defende também ter poucos defensores. Nesse caso - pode dizer-se - não é possível ocupar todos os espaços. Mas a defesa à zona implica ainda uma última coisa: o assinalar do adversário. Apesar de o adversário não ser uma referência como o são a bola, os colegas e a baliza, é necessário haver a noção de onde ele está a cada momento. Isto não serve para que seja possível marcá-lo quando isso se tornar necessário, mas sim para cortar o melhor possível as linhas de passe para o mesmo ou para perceber quais os espaços mais importantes a preencher. Ao contrário, portanto, da terceira concepção, numa jogada de ataque rápido, nas imediações da área, os defensores devem manter as mesmas referências de antes e não se preocuparem com o adversário. Devem, contudo, ter a capacidade de assinalá-lo, de perceber onde ele está, de modo a colocarem-se o melhor possível. Com efeito, se tudo isto for executado a preceito, os espaços de manobra manter-se-ão escassos e a equipa manter-se-á organizada, mesmo em lances de pouca presença na área. Esta concepção - julgo - é a única verdadeiramente colectiva. Defender à zona não é só um capricho ou só uma forma mais eficaz de defender; é também o único modo de uma equipa defender verdadeiramente em equipa, de forma solidária. Não abdicar, em momento algum, das referências dos colegas e da bola é a única forma de, em todos os momentos, a equipa ser equipa; é a única forma de, em todos os momentos, não depender de cada um dos seus elementos, mas sim de algo que se cria com a solidariedade desses elementos. Jogando assim, os jogadores não têm, no momento defensivo, funções individuais, mas uma função colectiva que é igual para todos e que só varia segundo a posição do terreno em que se encontram. Partilhar as mesmas funções que todos os colegas é o único modo de jogar colectivamente.

Para acabar, gostaria ainda de falar dos defeitos normalmente apontados a todas as defesas à zona. Porque se preocupa unicamente com o lado forte da bola, há sempre espaço para jogar no lado fraco e uma variação de flanco rápida pode criar desequilíbrios. Isto é verdade, mas uma equipa que joga assim sabe-o. Sabê-lo implica poder atenuá-lo, treinando-o. Carlos Carvalhal uma vez disse que essa era uma realidade com que as suas equipas tinham de saber lidar e que muito da preparação delas passava por reagir ao momento da variação de flanco o mais rapidamente e adequadamente possível. A grande vantagem desta forma de defender é conhecer, em rigor, as suas próprias limitações, o que, em abono da verdade, é o primeiro passo para as corrigir. A capacidade de bascular rapidamente e em sintonia é pois uma das mais importantes tarefas a treinar. Isto leva-me para outra questão. Com um conceito tão rigoroso, que implica a perfeita harmonia entre vários elementos, um treino superficial e teórico sobre a zona não pode ser eficaz. Defender à zona, porque implica uma perfeita relação entre todos os jogadores, porque implica um saber responder a cada um dos comportamentos de cada um dos elementos do todo, não pode ser treinada levianamente. Todo o treino tem de ser preparado em função desta ideia, de modo a criar hábitos, rotinas, modos de pensar e executar. Daí considerar que, para jogar numa defesa à zona pura, tem de se treinar sob o método proposto pela Periodização Táctica. Com outra metodologia, francamente, acho difícil um conceito como este, que necessita de tanta sistematização e que pressupõe um comportamento absolutamente mecanizado, funcionar bem.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Curtas da Jornada 18

1. Paulo Bento apresentou um 442 clássico. Resultado até mudar de ideias: 1-0 para o Belenenses e um deserto de ideias.

2. A melhor oportunidade do Sporting na primeira parte foi cortada para fora por uma cabeçada sem nexo de São Liedson. Carriço tinha tudo para fazer o golo, mas Liedson, desamparado, sem qualquer hipótese de fazer golo, vendo o colega em melhor posição, decidiu lançar-se à bola para lhe tocar de qualquer forma. Boa decisão, sem dúvida.

3. O Belenenses é patético. Defende homem a homem em todo o terreno. Ainda assim, o Sporting fez um jogo miserável e, apesar de conseguir um domínio territorial evidente, não criou oportunidades de golo à excepção de dois ou três remates de longe. Romagnoli, o melhor jogador leonino em espaços curtos, continua inexplicavelmente proscrito.

4. Polga está irreconhecível. A facilidade com que é, constantemente, ultrapassado no um para um é constrangedora. Tonel e Carriço teriam de ser os titulares, neste momento.

5. Miguel Veloso, a lateral, está a ser queimado. Não sei se as suas dificuldades defensivas na posição serão mesmo dificuldades. Lembro-me de vê-lo jogar a lateral esquerdo na selecção de sub-21 e não lhe reconhecia estes defeitos. Creio estar certo quando afirmo que as dificuldades são mais falta de vontade do que outra coisa.

6. Rochemback não tem lugar neste Sporting. E os seus defeitos não terminam com a má forma física. Compreende mal o jogo e as necessidades da equipa a cada momento, é francamente displicente em termos posicionais e não oferece rigorosamente nada ao conjunto. Talvez seja por perceber isto que Veloso anda chateado e por Paulo Bento não perceber isto que o Sporting não joga nada à bola.

7. Postiga tem obrigatoriamente de jogar nesta equipa. Não é pelo golo nem pela assistência; é pela classe, pela tranquilidade, pela imaginação, pela capacidade de decisão e pelo sentido de colectivo que empresta em todos os momentos do jogo. É, com Romagnoli, o melhor leão a funcionar como apoio vertical, coisa de que a equipa necessita como um indigente necessita de pão.

8. Vukcevic é extraordinário. Ao contrário do que muita gente diz, as qualidades do montenegrino não terminam na explosão e na capacidade de resolver individualmente. Para os argumentos técnicos e físicos que possui, é um jogador que decide muitas vezes bem, ao contrário de outros parecidos com ele, como Hulk ou Di Maria.

9. O Porto venceu, mas a coisa esteve tremida. Valeu um argentino pequenino que, para muitos, não vale nada. Farias não é um jogador extraordinário, mas é um ponta-de-lança eficaz, esperto, concentrado, com um instinto de baliza formidável. Dentro da área, é um jogador temível: sabe esperar o momento certo para atacar a bola e perceber o espaço onde ela vai cair como poucos. Fora da área, é banal, mas ainda assim não inventa muito, pelo que não prejudica em demasia a sua equipa. Os pontos de contacto com São Liedson são evidentes, mas enquanto um é Deus, o outro é só um peão descartável.

10. Luis Freitas Lobo, no Domingo Desportivo, disse que Hulk é bom é no meio. Mas também disse que David Luiz é lateral-direito, por isso se calhar é melhor não ligar. Hulk no meio é fraco. Até pode não sê-lo contra equipas que defendem mal, como o Rio Ave, mas contra equipas que defendam mais ou menos, é previsível, fácil de anular, e muito, muito contraproducente. A insistência nos lances individuais é angustiante. Ontem, teve uma jogada que toda a gente gabou. Passou pelo meio de dois, tirou Gaspar do caminho e chutou do meio da rua, atingindo o poste da baliza de Paiva. O que muita gente não percebe é que esta jogada mostra o que de bom Hulk pode dar a uma equipa e, ao mesmo tempo, o que de mau pode oferecer. O bom é, naturalmente, capacidade de arranque, drible e remate forte, ou seja, argumentos individuais. O mau é a tomada de decisão. O primeiro drible, a passar pelo meio de dois adversários, ainda que arriscado, é consequência de não ter apoios, mas a seguir há vantagem numérica. Se o drible sobre Gaspar é uma coisa de recurso, pois o defesa saiu-lhe às pernas, já o remate é um disparate. Após a finta, o defesa-direito do Rio Ave aproxima-se de Hulk para evitar a progressão do brasileiro. Nessa altura, Hulk deveria ter soltado em Mariano, que ficaria isolado, ainda que ligeiramente descaído para a esquerda. Optou pelo remate. Poderia ter dado um grande golo, é verdade. Mas a opção não foi a melhor. E o resultado foi o mais provável. Ou seja, Hulk, apesar de ter a capacidade de provocar desequilíbrios, raramente os aproveita da melhor maneira. Assim, o seu desempenho continua muito aquém do que as suas capacidades individuais possibilitam.

11. Na hora de trocar Fucile, lesionado, Jesualdo introduziu Tomás Costa. Até aqui, nada de estranho. O esquisito foi ter puxado Fernando para a direita e colocado o argentino no meio. Fernando é o principal responsável pelo equilíbrio exibicional que a equipa nortenha atingiu esta época. A sua inclusão na equipa constituiu o maior reforço desta temporada. Abdicar dele ali foi um erro que Jesualdo só não pagou caro porque não calhou.

12. Fábio Coentrão voltou a marcar um golo fantástico ao Porto. Merece, sem dúvidas algumas, uma oportunidade para lutar por um lugar no Benfica na próxima época. É, de longe, o melhor extremo português da sua idade. O que é parvo é, na selecção de sub-21, não ter a notoriedade que têm Bruno Gama, Ukra e Candeias, uma vez que é claramente superior a qualquer um deles.

13. Na Luz, o Benfica mostrou que o bom jogo contra o Porto foi uma excepção. Este Benfica tem a capacidade de ser forte contra grandes, mas é absolutamente banal quando tem de tomar a iniciativa de jogo. Contra uma equipa francamente má e que veio discutir o jogo com uma estratégia muito primitiva, viu-se facilmente manietado. Não teve capacidade para criar superioridade numérica em posse, nem inteligência para evitar a armadilha do fora-de-jogo. Valeu um erro do guarda-redes adversário, para abrir o marcador, e dois momentos de inspiração de Ruben Amorim e Di Maria.

14. Aimar continua a mostrar por que é que os caluniadores são gente sem massa encefálica. É aquele jogador sem o qual o modelo táctico de Quique atingiria o cúmulo da previsibilidade.

15. Carlos Martins arrisca-se a passar ao lado de uma época. Tudo porque as suas qualidades não são minimamente potenciadas por um modelo estupidamente inadequado.

16. Onde jogou Miguel Vítor, essa grande "referência" do Benfica dos dias de hoje?

17. O Braga escorregou. Nada de muito impressionante. A equipa de Jorge Jesus não é o monstro papão que têm feito dela.

18. Manuel Machado, apesar das referências individuais na marcação defensiva, continua a fazer um bom campeonato. Continua a valer Nené, uma das maiores revelações da temporada.

19. Em Itália, amainou a tempestade para o Inter de Mourinho. O campeonato está praticamente no papo, o que pode bem dar a dose de confiança necessária para enfrentar as restantes provas com maior tranquilidade.

20. O Barcelona voltou a empatar, mas é de salientar a forma saudável como conseguiu reagir à desvantagem. As grandes equipas também se vêem nestes momentos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Descubram as diferenças...

Entre o Sporting que defrontou (e humilhou!) o Porto e aquele que foi copiosamente derrotado pelo Braga (que não foi tão bom como a opinião generalizada tem defendido - note-se que com isto eu não coloco a justiça do resultado em causa, apenas defendo que não foi tanto o mérito do Braga, mas sim o demérito do Sporting), existe um mar de diferenças.

No confronto com o campeão nacional vimos o melhor (de longe!) Sporting da época, até agora.
Com Adrien a exibir-se num plano exepcional como pivot defensivo, rodando o jogo a preceito e emprestando também verticalidade ao jogo do Sporting, ao mesmo tempo que encurtava os espaços entre sectores (retirando com isto espaço e tempo ao adversário, nas suas transições ofensivas), fruto de um posicionamento e leitura irrepreensíveis, o futebol leonino ganhou esclarecimento (algo impossível com Rochemback).

No vértice mais avançado do losango, foi Romagnoli a rubricar uma excelente exibição, tornando o futebol do Sporting fluído, mercê da sua capacidade parar jogar apoiado, de toque simples, mas que muitas vezes passa ao lado do comum adepto. O facto de se preocupar em fornecer os apoios verticais, não se coibindo de jogar entre linhas, não só liberta os médios-interiores como condiciona a maneira como o adversário defende.

Na frente de ataque, coabitou, porventura, a melhor dupla de avançados do plantel leonino. A capacidade de manter a posse de bola, assim como de jogar de costas para a baliza adversária, permitiu à equipa dominar por completo o jogo, fruto da facilidade com que conseguiam jogar durante largos minutos no meio-campo defensivo adversário. Num dos poucos comentários dignos de registo, um dos comentadores comparou a exibição do conjunto leonino a uma equipa de andebol, isto devido à capacidade de girar a bola até conseguir descobrir um espaço para poder provocar um desequilíbrio no adversário.

Com isto, o clube leonino não só conseguiu atacar de forma segura, como conseguiu impedir o campeão nacional de executar as transições ofensivas com eficácia. Resumindo, foi um Sporting organizado, confiante, sem demasiada pressa em chegar à área adversária, circulando a bola entre sectores, estando os mesmos bem próximos, interpretando os vários momentos do jogo de forma colectiva e não dependendo (demasiado) das individualidades para conseguir perturbar o adversário. O individual ao serviço do colectivo, e não o contrário.

Contra o Braga, a derrota começou na inclusão de Rochemback, passou pela opção de prescindir de Romagnoli (Moutinho como 10 baixa em demasia, o que muitas vezes resume o losango do Sporting a um 442 clássico, com todas as dificuldades que isto acarreta para equipa: falta de apoios verticais, dificuldades em atacar de forma apoiada e organizada, etc.). O Sporting abusou do passe longo, foi lento a girar a bola, optou por forçar os ataques, numa primeira fase, pelos corredores mais congestionados em vez de rodar o jogo (o que, se acontecesse, isto é, girar a bola, os ataques seriam mais lentos, numa primeira fase, mas a equipa beneficiaria de uma maior consistência ofensiva, fruto de um melhor posionamento em campo), de maneira a retirar a bola de zonas em que o adversário tem mais facilidade em pressionar, e isto tudo proporcionou um ambiente (muito) favorável à primeira vitória do conjunto bracarense frente a um dos grandes. Mais do que uma grande vitória de Jesus, assistimos, isso sim, a uma grande derrota de Bento.

P.S. César Peixoto à selecção, não? Talvez esteja demasiado velho...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Curtas para fazer pensar

1. Mantorras entrou outra vez e marcou outra vez. Há quem diga que o angolano é o amuleto da sorte da Luz e quem explique a sua produção recorrendo a misticismos, a superstições e bruxedos. Por cá, acreditamos que Mantorras, ainda que não seja um jogador minimamente completo, possui um atributo em que é bastante forte: o instinto de baliza. A capacidade de perceber onde a bola vai cair, a apetência pelo golo e a forma como se aproxima de zonas de concretização sempre que é preciso fazem de Mantorras um jogador talhado para o último toque na bola. Nisto, não é inferior a Liedson. Ou talvez o seja apenas em lances aéreos. Aliás, a sua média de golos nos últimos anos é algo de espantoso: 0,95 golos por jogo. Mas o que importa perguntar é: por que razão é que um é um Deus e o outro é só um coxo por quem grande parte do público nutre afeição e se compadece?

2. O Porto venceu facilmente o Belenenses. Hulk é fortíssimo a jogar contra equipas desorganizadas defensivamente e que defendem ao homem. Contra essas equipas e sobretudo quando descai para uma das linhas, o seu poder de explosão é demolidor. Não são raras as vezes que ganha a linha e cruza atrasado. Dessa forma, pode ser um jogador importante para o Porto. O problema é quando joga contra equipas mais fechadas ou quando anda no meio do ataque. Aí é francamente mau.

3. Há quem ache que uma equipa, quando não consegue resolver as coisas colectivamente, depende das suas unidades capazes de desequilibrar individualmente. Recorrendo a essa teoria, consideram que o Sporting tem menos apetência para solucionar jogos pois tem menos unidades destas do que os rivais. Devo confessar que isto me causa alguma confusão. O problema está em pensar que o colectivo serve o individual. Eu sei que maior parte dos treinadores pensa assim e que constroem o seu modelo para tirar o melhor proveito dos seus atletas. Só que isso é sempre uma estratégia pensada em função das individualidades. Uma equipa a sério deve tentar resolver todos os seus problemas colectivamente. A capacidade para desequilibrar a nível individual deve ser sempre um bónus e nunca a principal fonte de eficácia. É também por isto que o Sporting está a jogar pior desde que Liedson recuperou da sua lesão e passou a integrar regularmente os titulares de Paulo Bento. Não sei quanto tempo esta lesão durará, mas se for caso disso, não demorará para que a equipa, sem Liedson, comece a jogar, em termos colectivos, bem melhor.

4. Nuno Assis fez três golos. Tendo em conta as circunstâncias em que os fez, não é um feito extraordinário. O que é extraordinário é que haja pessoas que precisem que ele faça três golos para lhe darem o devido valor. Às vezes, penso que estas pessoas vão ao estádio e ficam o tempo todo a jogar às cartas.

5. Entretanto, o Porto é o único grande a movimentar-se no mercado de Inverno. Adquiriu, para já, Cissokho, Miguel Lopes e Andrés Madrid. O argentino pode ser útil, embora Fernando esteja de pedra e cal no lugar de médio-defensivo. Quanto aos outros, a única coisa boa que se pode dizer deles é que não serão tiros no pé tão grandes quanto a contratação - a confirmar-se - de Silvestre Varela. Confesso que, ao ler a notícia, fui ao calendário para me assegurar que não era dia 1 de Abril. A única coisa que ainda não percebi é se o Porto contrata por caridade ou se é mesmo para ver se consegue lixar todos os eventuais negócios aos restantes rivais.

6. Lá fora, Raúl igualou o record de golos de Di Stefano. Feito assinalável para um dos melhores jogadores dos últimos anos e que só não foi campeão europeu este Verão porque não o deixaram.

7. O Barcelona soma e segue. Messi é de outra galáxia e está a milhas de toda a concorrência. Não há igual desde Zizou. Ronaldo, na Playstation, quando joga contra o Barcelona, deve aproveitar todos os lances em que Messi conduz a bola para entrar de carrinho sobre ele.

8. Em Itália, o Inter de Mourinho continua a marcar passo. Apesar dos seis pontos de avanço, o "scudetto" parece menos assegurado do que aquilo que se previa há umas semanas. A eliminatória da Liga dos Campeões com o Manchester United será, provavelmente, o jogo decisivo da temporada. Se o Inter conseguir passar pelos actuais detentores do ceptro, a confiança da equipa atingirá os níveis suficientes para enfrentar com tranquilidade uma recta final de temporada que, em caso contrário, não será fácil.

9. Ao mesmo tempo, Quaresma foi emprestado ao Chelsea. É verdade que a relação com os adeptos não era fácil, mas Mourinho poderia ter feito mais. Parece agora que desistiu daquele que denominou um dos maiores desafios da sua carreira, cedendo o jogador. Não sei o que isto significará na carreira do internacional português, mas não ter vingado em Itália, numa equipa treinada por aquele que poderia ter extraído o melhor dele, é sempre um grande revés.

10. Em Inglaterra, Scolari continua sem ganhar jogos grandes e o Manchester agradece. O Liverpool é - parece-me - a única equipa com uma palavra a dizer, no que diz respeito ao campeonato.