sábado, 27 de junho de 2009

Certezas (14)

O futebol português, ao contrário do que se pensa, não é tão infecundo assim em pontas-de-lança de qualidade. Há, isso sim, um critério errado na observação de jogadores, bem como um muito mau aproveitamento daqueles que aparecem com qualidade suficiente. Basta ver como Nuno Gomes não tem o destaque que devia, como Postiga é mal-amado, como Saleiro ou Djaló não têm o reconhecimento que mereciam, como se desaproveitaram Diogo Tavares ou João Paiva, quase sempre dos melhores goleadores das equipas jovens por onde passaram, como se ignora a capacidade de Ricardo Nogueira e se chegou a dar oportunidades a fiascos como Tó Mané, como se preferem avançados estrangeiros desconhecidos a jovens portugueses, como se dá preferência a quem apenas marca golos e não a quem faz mais do que isso, etc. Este jovem jogador, todavia, terá uma palavra a dizer quanto a essa estúpida tendência de desaproveitamento. E as suas características podem até ajudar a isso. Além de bom a jogar de costas para a baliza e de tomar boas decisões com frequência, sabendo servir de apoio e pondo o colectivo à frente do individual, é robusto, forte fisicamente e tem bons pés. Alia a tudo isto uma capacidade de explosão invulgar para o seu tamanho e é, por isso, muitas vezes uma dor de cabeça constante para as defesas contrárias. Além de tudo isto, tem faro de baliza e é extremamente lutador, como muita gente pensa que devem ser todos os pontas-de-lança de eleição. Com tantas características interessantes, só mesmo a incompetência dos seus futuros treinadores justificará uma eventual paragem evolutiva. Tendo ainda mais um ano de júnior pela frente e ainda um campeonato para decidir já este Sábado, não chegará ao plantel sénior do Benfica tão depressa, mas se tudo correr bem é possível que dentro de dois ou três anos o Nélson Oliveira seja uma referência do clube encarnado, bem como uma possibilidade para a selecção nacional...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A fraqueza da Espanha

Um dos argumentos para defender que o Barcelona de Guardiola valia pelas suas individualidades era comparar essa equipa à selecção espanhola, também ela constituída por jogadores baixinhos, inteligentes e tecnicamente dotados. Este argumento é, evidentemente, falacioso. A Espanha não tem nada a ver com o Barcelona.

Primeiro, a Espanha de Aragonés jogava num sistema completamente diferente, sistema esse que tornava o jogar da equipa completamente diferente. O futebol não era de pé para pé como o do Barcelona, não havia a capacidade para trocar a bola como há no Barcelona, não havia a quantidade assustadora de tabelas, as triangulações, etc. Havia, isso sim, jogadores inteligentes que, pelas suas características individuais, emprestavam inteligência à equipa. Mas essa inteligência era sempre uma coisa individual ou, quando muito, entre dois atletas. Não havia a coordenação, o entendimento, a organização, o pensamento igual. Não havia, em suma, uma inteligência colectiva, que é o que define o Barcelona de Guardiola. Isso foi evidente, durante o passado europeu. A Espanha sagrou-se campeã, mas toda e qualquer semelhança com o Barcelona de Guardiola é puro engano.

Já a Espanha de Vicente del Bosque, em termos esquemáticos, aproxima-se mais do Barcelona, o que permite maior número de triangulações, maior qualidade na posse e circulação de bola, por virtude de haver mais apoios próximos do portador da bola. E a sua Espanha consegue explorar melhor as qualidades dos seus jogadores dessa forma, jogando com eles mais próximos. Assim sendo, e ainda que Iniesta não tenha jogado nesta Taça das Confederações, seria de prever que esta Espanha jogasse tanto à bola como o Barcelona, acreditando que a virtude da equipa catalã está nos jogadores que possui e na conjugação destes com o modelo que implementou. Nada mais errado. Tudo o que a Espanha faz é resultado dos jogadores que tem, que são muito bons. Mas isso é pouco. E o que distingue o Barcelona é precisamente o facto de o seu futebol não ter nada a ver com a qualidade dos jogadores. Com estes jogadores e jogando numa táctica que potencia as suas qualidades, um 433 assimétrico, sem ala direito, mas com ala esquerdo, a Espanha de Vicente del Bosque consegue ter alguma qualidade porque tem jogadores que interpretam bem as necessidades da equipa nos diversos momentos. O que não tem é uma equipa que interprete isso bem. E quando assim é, mais fácil se torna não obter resultados.

Falando agora da meia-final da Taça das Confederações, a Espanha dominou o jogo praticamente todo e - pode dizer-se - perdeu por culpa própria, com dois erros individuais graves, frente a um adversário demasiado fraco para que pudesse colocar em causa o favoritismo dos espanhóis. Esse domínio, contudo, foi feito às custas das capacidades individuais dos seus atletas. E isso é pouquíssimo. Contra uma equipa num 442 clássico rígido, com referências homem a homem em muitos momentos, que pressionavam em profundidade e tresloucadamente, era facílimo, com um futebol de posse e circulação, vencer o jogo. No entanto, a equipa espanhola abusou da verticalidade, procurou em demasia os dois avançados no meio. Contra uma equipa que pressiona tão mal, é muito simples jogar. Basta ir progredindo gradualmente. Para o fazer, basta recorrer a um passe vertical seguido de uma lateralização. Mas a Espanha nunca lateralizou o jogo, nunca jogou horizontalmente. Preferiu sempre chegar rapidamente à frente, saltar etapas, utilizar passes longos que, ainda que rasteiros, permitiam aos adversários recuperar posições. O jogo da Espanha, ainda que esclarecido, primou pela objectividade em excesso, pela pouca racionalidade e frieza. E, mesmo com jogadores imaginativos como Fabregas e Xavi, não foi capaz de furar a muralha defensiva dos norte-americanos. A esta equipa faltou, sobretudo, ser menos objectiva, mais calma, menos directa, mais criativa, mais paciente, mais imprevisível. Jogando um futebol tão vertical, facilitou a pressão em profundidade dos americanos, não soube procurar os espaços, caiu no jogo de choque do adversário. E, ao fazê-lo, vitimou o seu favoritismo, deixou tudo mais equilibrado, mais dependente da sorte. E a sorte pendeu para o outro lado. O pouco que ainda conseguiu fazer de verdadeiramente bom, os primeiros vinte minutos da segunda parte, altura em que sufocou o seu adversário, fê-lo por obra da capacidade intelectual de Xavi e Fabregas, que souberam ocupar os espaços certos e servir de apoios aos colegas nos momentos certos, fazendo fluir rapidamente o jogo da sua equipa. Ao se tirar Fabregas para colocar Cazorla, era fácil de adivinhar que esse pouco depressa desapareceria. E a Espanha não fez mais nada com cabecinha desde essa altura.

Esta Taça das Confederações demonstra inequivocamente, além da pouca argúcia táctica e estratégica de Vicente del Bosque, que esta Espanha não tem nada a ver com o Barcelona de Guardiola e que a base do bom futebol praticado por uma equipa não é a mesma base que a da outra. A Espanha vive das individualidades e estas podem ser potenciadas pelo esquema táctico apresentado, mas o modelo de jogo e a capacidade colectiva ficam muito aquém do desejado. É por isso que o Barcelona não ganhou tudo ao acaso. Ganhou tudo porque colectivamente é muito mais forte do que qualquer outra equipa no mundo. E é mais forte porque aquilo que está por trás desse colectivo é diferente de tudo o que é normal encontrar noutra qualquer equipa do mundo. Esta Espanha é forte individualmente e consegue, graças a isso, jogar bem em alguns momentos; melhora ainda se jogar num sistema táctico que ajude a potenciar as características dos seus jogadores, como é o caso do sistema adoptado por Vicente del Bosque; mas colectivamente não é extraordinária, não é diferente das demais. E é precisamente na ausência de capacidade colectiva que reside a sua principal fraqueza.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sporting 2009/2010

Veio o defeso e com isso o habitual corropio de possíveis contratações, dispensas, etc. E eu, como adepto do Sporting, não consigo evitar a tentação de calcular quais as melhores estratégias, de forma a levar o clube do meu coração ao caminho do sucesso. Nos parágrafos seguintes, vou-me debruçar sobre a politica que eu adoptaria, na tentativa de sustentar, da melhor forma, o modelo e estilo de jogo que me oferece mais garantias.

PLANTEL

Um plantel curto, com 24 jogadores, facto que me permitiria ter uma maior margem de manobra "orçamental".

Guarda-Redes - Tiago, Ricardo Baptista, Rui Patrício.

Defesas - Caneira, Abel; Polga, Tonel, Carriço, Pedro Mendes; André Marques, Grimi.

Médios - Adrien, Hugo Leal; Hugo Viana, Moutinho; Pereirinha, Izmailov; Romagnoli, Rosado.

Avançados - Djaló, Vukcevic; Saleiro, Postiga, Ricardo Nogueira.

A estratégia passa por um reajuste do plantel sem que este facto se torne um elemento desequilibrador na saúde financeira do clube de Alvalade. Tanto Hugo Viana como Ricardo Nogueira não implicam custos nas suas aquisições (assim como Hugo Leal não representará, de certo, um grande esforço financeiro). Por outro lado, o facto de não pretender contar com elementos como Liedson, Veloso, Rochemback, e até Pedro Silva, permitiria realizar mais-valias importantes para o tão desejado equilíbrio financeiro do Sporting.

A escolha deste plantel é feita à luz do modelo de jogo que gostaria de ver implementado em Alvalade. Uma equipa equilibrada em todos os momentos do jogo, obcecada com a posse de bola, com os sectores bem juntos, e composta por elementos que são fortes na interpretação do jogo, cujas características seriam potenciadas, ao limite, por uma filosofia que promove e recompensa as decisões colectivas ao invés das individuais, sendo que as segundas devem existir apenas como consequência das primeiras. Mas, acima de tudo, fazer da bola o centro do nosso modelo, seja em que momento do jogo nos encontremos.

O 442 losango apresentar-se-ia compacto, sem dar importância à largura do jogo, mas sim á segurança dos seus processos em todos os momentos do jogo. Uma equipa de toque curto, apoiado, em que todos os jogadores, sem excepção, seriam determinantes para esta característica da equipa.

Em termos individuais, a necessidade de fazer perceber a Polga - até poderia recorrer a dados estatísticos, se necessário fosse, para suportar a minha opção - que é proibido jogar longo quando existem opções que permitem à equipa manter a posse do esférico, jogando de forma apoiada. Torna-se essencial que os defesas percebam que eles são tão importantes como quaisquer outros jogadores (avançados, médios) nos processos ofensivos, com e sem bola. Os avançados seriam, qualquer um deles, encarregues, não de fazer golos, tão pouco de dar profundidade, mas de ajudar a equipa a alcançar os seus objectivos: jogar bem.

Este é um plantel que, certamente, concederia muitas alegrias aos seus adeptos. No entanto, fica aqui o desafio, não só aos sportinguistas, mas aos adeptos dos outros clubes também, que, num exercício verosímil e coerente, alinhem o plantel que gostariam de ver no vosso clube.

P.S.: A opção de resgatar Ricardo Nogueira passa pelo reconhecimento de um jogador que é fortíssimo em todos os aspectos colectivos do jogo, e tal facto só pode passar ao lado de alguém que não consiga avaliar a qualidade de um jogador de forma contextualizada. Gostaria de o ver a trabalhar com um grande treinador, numa verdadeira equipa.

domingo, 21 de junho de 2009

Um questão de qualidade...

Não dá para trocar o Rochemback e o Liedson pelo Josué Pesqueira?

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Barcelona: a invulgaridade de um jogar

Como sempre aqui se disse, o futebol do Barcelona de Guardiola, esta temporada, foi mais do que um futebol bonito, agradável, bem jogado; foi algo profundamente diferente de tudo o que era costume ver-se num campo de futebol. As diferenças desta equipa para o resto das equipas europeias já foram aqui expostas, mas ainda assim queria, através do exemplo de três jogadas diferentes, apontar para três particularidades evidentes desta equipa. As jogadas apresentadas, na minha opinião, são uma ilustração perfeita de algumas das características que estão subjacentes à invulgaridade deste Barcelona. É sobre elas que me irei deter.





1. No primeiro lance, num desafio que o Barcelona até perdeu, frente ao Osasuna de Camacho, queria chamar a atenção para três momentos diferentes da jogada, todos eles relacionados com o momento defensivo. Em primeiro lugar, quando a jogada ainda se desenrola no lado esquerdo do ataque do Osasuna, repare-se no posicionamento de toda a equipa do Barcelona, em processo defensivo, bem metida para dentro, com o lateral esquerdo, Sylvinho, a deixar praticamente metade da largura do campo sem estar preenchida. De seguida, a jogada vem para o lado esquerdo. Uma vez mais, a equipa movimenta-se toda em função da bola, reduzindo espaços perto do local onde esta se encontra e deixando vazios os espaços que estão longe dela. Repare-se que a equipa, em acção defensiva, procura fazer "campo pequeno" de uma forma quase extrema. Poucas equipas no mundo reduzem tanto os espaços e unem tanto os seus jogadores como este Barcelona; poucas equipas, quando a jogada se desenrola de um lado, deixam tanto espaço livre do lado contrário. Se se traçar uma linha vertical em todo o comprimento do campo, dividindo-o em dois, vemos que em processo defensivo, quando a jogada se desenrola de um lado, os 11 jogadores do Barcelona estão praticamente enfiados na metade onde se desenrola a jogada. O exagero desta basculação não é ocasional e poucas equipas há que levem isto tão longe. Finalmente, gostaria de apontar para o movimento pressionante de Gudjohnsen, quando a jogada está no lado direito do ataque do Osasuna. Quando Bojan pressiona o portador da bola, é imediatamente evidente que a bola vai entrar no extremo, à frente, que tem nas costas Sylvinho. Gudjohnsen, tendo nas costas Busquets a fechar o espaço central, avança alguns metros rapidamente, não para ir marcar individualmente o médio do Osasuna que sobrava, mas sim para fechar a única linha de passe que poderia ser usada pelo Osasuna para continuar a progredir, ficando a equipa adversária obrigada a recuar o jogo, como aconteceu. Este movimento de Gudjohnsen não é apenas dele; é um movimento colectivo que representa na perfeição a forma de defender desta equipa, o privilégio dado ao espaço, à bola, às linhas de passe, às coberturas sucessivas, ao pressing zonal, etc.

2. Na segunda jogada, num jogo frente ao Valência, que acabou empatado a 2, o Barcelona adiantou-se no marcador com uma jogada que ilustra todo o processo ofensivo da equipa de Guardiola. Após uma tabela perfeita entre Iniesta e Messi, a deixar Iniesta na cara do guarda-redes, o médio espanhol, em vez de chutar à baliza, pára e senta o guarda-redes, servindo novamente o astro argentino, que chuta sem oposição. O desenlace do lance evidencia a prioridade desta equipa em trocar a bola, mesmo quando em condições privilegiadas para chutar à baliza. Tendo o guarda-redes pela frente, Iniesta surpreende ao não chutar, preferindo esperar pelo tempo correcto para que um colega se posicionasse em melhores condições para fazer golo. Não chutar, naquelas condições, é ilustrativo da diferença óbvia que existe nos processos ofensivos desta equipa. É evidente ainda que os jogadores do Valência ficam a reclamar fora-de-jogo de Iniesta, mas por momentos dá a impressão de que os defesas valencianos parecem queixar-se, isso sim, da sua própria impotência perante tamanha qualidade.

3. Na terceira jogada, recupero um lance da primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões, frente ao Chelsea. É o lance que antecede a única jogada de perigo que o Chelsea criou ao longo dos 90 minutos. Nesse lance, o Barcelona encontra-se encurralado junto à linha, pressionado agressivamente pelo meio-campo do Chelsea, mas consegue sair da situação com uma simplicidade que não está ao alcance de todos. Dani Alves dá em Touré, que está apertado; este joga de primeira em Messi, que tem também um adversário em cima; este devolve a Touré, que se mantém vigiado de muito perto; e finalmente a bola chega a Iniesta, no meio, ficando a situação resolvida. Ao contrário de praticamente todas as outras equipas no mundo, o Barcelona resolveu uma situação aproximando jogadores, de modo a formar muitos apoios próximos. Ao contrário do que dizem os livros, o Barcelona saiu de uma situação de pressing não afastando as suas linhas, mantendo jogadores bem perto uns dos outros de modo a conseguir trocar rapidamente a bola até haver condições ideais para a tirar dali. Ao contrário também do que fazem quase todas as equipas do mundo, o Barcelona utilizou passes curtos e trocas de bola entre jogadores que estavam marcados em cima. O penúltimo passe do lance, o passe recuado de Messi para Touré, então, é digno de referência. Touré estava marcado em cima, estorvado até, mas Messi não hesitou em colocar-lhe a bola. Porquê? Porque existe da parte de cada um dos elementos do colectivo uma confiança no poder de decisão dos colegas que não existe em mais lado nenhum; porque as condições que Touré tinha para soltar depois em Iniesta eram melhores que as condições que Messi tinha para dar de imediato em Iniesta; porque, embora menos objectivo, era mais seguro; porque, de tão arriscado, era mais imprevisível. E o Barcelona é isto: confiança nos colegas, busca das melhores condições de passe, inteligência, fuga ao excesso de objectividade, imprevisibilidade, criatividade.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Dilema das Funções vs Posições

Há uns tempos, talvez há mais de um ano, publiquei um texto em que defendi que o trinco, o pivô, o médio-defensivo,como queiram, devia ser a âncora de uma equipa. Não sendo por este ser de facto mais importante do que qualquer outro jogador, mas porque lhe conferia um relevância muito particular no desenrolar do jogo.

No entanto, depois de ler um texto em que se defendia algo de muito semelhante, dei comigo a sentir que havia algo que, para mim, já não fazia tanto sentido como outrora. É sobre este assunto que eu me vou debruçar nas próximas linhas.

O médio-defensivo, por se posicionar numa zona central da estrutua da equipa, é requisitado com mais frequência, nos vários momentos do jogo. No entanto, não o considero mais importante do que um lateral, por exemplo. Isto no futebol que preconizo.

Não considero que, numa equipa que seja verdadeiramente una, que jogue verdadeiramente como um todo, o jogador que ocupe esta posição tenha de compreender mais variáveis do jogo, ou que seja mais determinante do que qualquer outro elemento. Desta posição diz-se pretender que procure sempre dar os apoios, que mantenha sempre a equipa ligada e equilibrada, que fosse o ponto de orientação da equipa. Não digo o contrário, apenas digo que todas estas "funções" não são exclusivas de uma posição, mas antes do todo.

No referido texto, que me levou a esta reflexão (texto esse que podem encontrar no blogue Falemos de Futebol), fazia-se alusão ao princípio do farol, princípio que acho correcto, mas que não considero exclusivo de uma posição específica. Defendo isto na perspectiva de um conjunto mais forte, ou seja, mais complicado de dividir e enfraquecer, mais complicado de analisar. Mas não só. O nosso jogar sairá sempre reforçado segundo o paradigma que defendo porque a compreensão total e una do jogo, no limite, exigirá isto mesmo. A nossa âncora, ou o nosso farol, como queiram, é a bola. É em função da mesma que nos posicionamos em campo, que adequamos a nossa estratégia, em todos os momentos do jogo. E só assim poderemos ser "activos" no jogo.

Se cada jogador perceber que em cada momento, esteja ou não perto do colega que detém a posse da bola, a sua movimentação é indispensável para o sucesso do modelo de jogo que preconiza, então essa equipa será um todo. O mesmo jogador que num momento foi "obrigado" a criar linhas de passe, ou a criar apoios, noutro momento, desde que a situação em que a sua equipa se encontre o chame a isso, terá de provocar um desequilíbrio, ou assumir uma movimentação de ruptura, nem que para isso apenas se movimente, lateralmente, metro e meio. Daí que pretenda que os meus jogadores não sejam nem avançados, nem defesas, nem médios. Apenas pretendo uma equipa.

E como distribuo essa equipa em campo? Será um processo aleatório a escolha de posições dentro do campo? Não. Os diferentes momentos do jogo contemplam diferentes movimentações/acções, colocando enfâses variados em cada uma dessas situações. O prazer que cada jogador retira dos diferentes momentos, aliado a uma maior ou menor adequação das suas caracteristicas aos mesmos, deverá decidir em que situções cada jogador se sentirá mais confortável. Porque há posições que, em função do nosso jogar, serão mais expostas a certo tipo de situações, há jogadores que apresentarão diferentes niveis de competência nas diferentes posições. Não porque tenham a obrigação de "compreender" diferentes variáveis, mas porque conseguem oferecer melhores, ou piores, soluções em diferentes momentos do jogo. Daí que se procure colocar cada jogador em contacto com as situações que podem tirar o melhor de cada um. Não porque lhe pretendemos atribuir diferentes funções.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Um tal de Zé Castro

A afirmação é, para muitos, controversa e sensacionalista. Digo-o, no entanto, sem qualquer espécie de exagero propositado e sem qualquer intenção de rebaixar outros atletas: para mim, excluindo Ricardo Carvalho, o melhor defesa português da actualidade é Zé Castro. Para quem viu jogos do Deportivo esta época e esteve atento ao desempenho do central português, a recente chamada à selecção só peca por incompreensivelmente tardia. Esquecido em terras galegas, o português foi titular indiscutível (jogou 2536 minutos) de uma equipa que fez um campeonato bastante aceitável, terminando em sétimo lugar. O Deportivo foi mesmo a terceira melhor defesa da prova (o Barcelona sofreu 35 golos e o Sevilla 39), com 47 golos sofridos, menos 5 que, por exemplo, o Real Madrid. Estes dados, por si só, não revelam absolutamente nada, a não ser, provavelmente, para Queiroz, que terá decidido chamá-lo mais pelos resultados desta época do que por qualquer reconhecimento da sua qualidade. Evidentemente, há que juntar a estes dados a comprovação das exibições. E, nesse particular, a juntar à classe e à capacidade técnica que possuiu desde sempre, há agora uma maturidade que não pode deixar ninguém indiferente. Zé Castro é o patrão da defesa do Deportivo, um jogador seguríssimo, muito bom na leitura dos lances e no tempo de desarme, pouco impetuoso, como se aconselha a um jogador na sua posição, e rapidíssimo a reagir a mudanças de direcção ou a dobrar os colegas. Nada disto é novo, mas acontece agora com uma regularidade maior. Melhorou ainda no jogo aéreo, impondo-se mais frequentemente, e manteve a habitual boa relação com a bola. A facilidade que tem em sair a jogar, a importância que dá à manutenção da posse de bola, procurando entregar o melhor possível sempre que a recupera, fazem dele um central diferente da maioria.

Não queria compará-lo a Pepe ou a Bruno Alves, mas a opinião geral em Portugal sobre estes três jogadores, bem como a tendência para se preferirem defesas impetuosos, carniceiros e atleticamente muito dotados, impõe uma análise desse género. É errado pressupor que um defesa central deva ter determinados atributos físicos. Um defesa central deve ser um defesa central, nada mais. A pressuposição tem por base a ideia de que um defesa central é um jogador que encontra muitas situações de choque, que tem de ser capaz no jogo aéreo, uma vez que joga demasiado recuado para se dar ao luxo de não ganhar bolas de cabeça, que tem de ser duro para impor respeito aos atacantes adversários ou que tem de ser agressivo sobre a bola. Nada disto está correcto. Um central competente do ponto de vista intelectual ocupará melhor os espaços e não necessitará de ir tanto ao choque, conseguirá desarmar pela antecipação ou por ler melhor o lance, sem recorrer à agressividade ou à virilidade, será capaz de ganhar lances de cabeça sem ter de o fazer de uma forma impetuosa, etc. Ao contrário de centrais mais vigorosos, um central deste tipo tem várias vantagens: coloca menos risco em cada uma das suas acções, pois elas comportam mais segurança e mais certeza; está mais lúcido, uma vez que não faz tudo em esforço, para reagir a um percalço, como seja um ressalto ou uma combinação ofensiva rápida do ataque adversário; está mais compenetrado no jogo em si e não tanto na acção decisiva de cortar a bola, o que é o mesmo que dizer que está mais interessado na sua acção colectiva do que na sua acção individual. É esta última característica, que considero aqui vantajosa, que me faz dar clara preferência a centrais de um tipo em detrimento de outro. Um central mais vigoroso, mais aguerrido, está notoriamente focado na bola e na sua acção defensiva individual, no corte, no desarme, no acto de defender por si. Ora bem, um central não deveria servir para defender. É aqui que reside o problema. Este tipo de centrais está interessado em defender, porque consideram que o seu papel numa equipa, em situação defensiva, é defender. E é contra isto que reajo. Mesmo em situação defensiva, o central não deve ter um papel, muito menos um papel tão redutor como seja o de defender. Um central, como qualquer outro jogador, em situação defensiva ou não, deve estar preocupado em jogar, no sentido amplo de jogar. Recuperar a bola deve ser uma preocupação colectiva e não de um jogador em particular, esteja ele a jogar mais recuado ou não. Assim, um jogador que joga de forma mais impetuosa é, na grande maioria das vezes, um jogador que negligencia isto. Enquanto concentrado no seu desempenho defensivo, esquece os colegas, a sua relação com o resto da equipa, as necessidades do colectivo e afins. Quando vai a um lance, vai com o intuito de ganhar a bola por si, quando o acto de ganhar a bola não deve estar confinado a um jogador, mas a toda a equipa. Ao fazê-lo, terá talvez a vantagem de retirar tempo de reacção ao portador da bola, coisa que uma abordagem menos impetuosa não faria ou faria em menor escala, mas incorre em problemas que se sobrepõem claramente aos benefícios. Embora uma abordagem mais impetuosa tenha essa vantagem e, contra uma equipa que não tenha uma organização ofensiva relevante e não saiba jogar colectivamente, reduzindo-se a acções individuais, seja tão ou mais competente que outra abordagem, tem desvantagens óbvias, desvantagens essas potenciadas sempre que se defrontam equipas que privilegiem o colectivo. Exemplo disto foi o jogo entre o Real Madrid e o Barcelona, no qual a abordagem defensiva dos jogadores do Real Madrid foi excessivamente impetuosa, o que propiciou uma desorganização evidente que uma equipa como o Barcelona não poderia deixar de aproveitar. Entre outras coisas, um central que opte por abordagens mais impetuosas está menos apto a reagir a uma tabela (veja-se o golo da Albânia, frente a Portugal, fruto da resposta defensiva de Pepe, facilmente batido por uma simples tabela porque se aproximou impetuosamente do adversário que tinha a bola, sendo que este, ao soltá-la e indo buscá-la mais à frente, evitou, sem recorrer a uma grande perícia, o seu opositor); está menos apto a perceber como se altera, de instante para instante, a estrutura defensiva de que faz parte; está menos apto a travar a sua iniciativa caso haja o perigo de cometer uma falta; etc. Um central que opte por este tipo de jogo pode até ser mais forte do ponto de vista individual, pode até, estatisticamente, ser o responsável directo por mais recuperações de bola, pode até ser mais difícil de ultrapassar individualmente, mas é de certeza menos competente do ponto de vista colectivo e fará parte, portanto, de um colectivo defensivamente mais frágil e fracturado.

Esta é, portanto, uma defesa do central Zé Castro, mas, principalmente, uma defesa de um certo tipo de defesas centrais. Não é, portanto, por capricho que ela é feita, mas com base na repetida ideia de um futebol enquanto um todo que este blogue sempre defendeu. O problema não está na impetuosidade em si, mas nas consequências que, por norma, a impetuosidade acarreta, como sejam a falta de lucidez, a irresponsabilidade colectiva ou o risco de cada iniciativa. É por isso que já se denunciou aqui alguma falta de qualidade a Vidic, central que se baseia na impetuosidade; é por isso também que existe tanta diferença, na nossa opinião, entre Daniel Carriço e Miguel Vítor. Admito que, numa equipa que se fundamente em predicados individuais, que dê mais valor aos elementos que compõem o seu todo, como o são mais de 90% das equipas mundiais, do que às relações entre esses elementos, os jogadores com mais competências individuais sejam mais valorizados. Mas isto acontece porque se tem uma ideia demasiado primitiva do jogo. Apesar de toda a modernidade, há pouquíssima gente que compreende o jogo como ele deveria ser compreendido. Neste sentido, é natural que os jogadores que dão mais nas vistas, ou seja, os jogadores com atributos individuais mais relevantes, tenham mais mercado e sejam preferidos em vez de outros. No caso específico dos centrais, é natural que os centrais mais agressivos, mais impetuosos, mais fortes, capazes de recuperar mais bolas individualmente ou de efectuar mais cortes, ou de ganhar mais duelos físicos, sejam preferidos ao invés de centrais que privilegiam o posicionamento, a fineza, a capacidade técnica e a leitura acertada dos lances. O jogo, no entanto, tem evoluído e centrais matacões, como ainda há dez anos os havia, já não têm lugar nas grandes equipas. Nos dias que correm, porque a competitividade já tornou evidente que não bastam argumentos físicos para se ser jogador, os centrais já têm de possuir alguma inteligência. Falta, contudo, ao jogo continuar a evoluir. E a evolução passará inevitavelmente por entender que os factores intelectuais são mais importantes que os restantes. Nessa altura, entender-se-á que, mesmo aqueles jogadores que jogam mais perto da sua própria baliza devem ser jogadores mais inteligentes do que atleticamente dotados e que aqueles que primam por iniciativas do foro atlético disfarçam nessas iniciativas a escassez de argumentos intelectuais que, nessa altura, se considerarão fundamentais. Enquanto, todavia, a evolução do jogo, lenta como toda a evolução, não torna evidente tudo isto, cá estará o Entre Dez para o afirmar.

Da mesma forma que se defendeu que o futebol do Barcelona de Guardiola veio demonstrar que a evolução do jogo exigia coisas diferentes daquelas que se pensava e que esse futebol era, de algum modo, o futebol do futuro (a propósito, Ibrahimovic disse que o futebol do Barcelona era tão diferente que representava o futebol que se iria jogar em 2015), defende-se também que os centrais com capacidades intelectuais relevantes estão mais aptos às necessidades correntes do jogo do que os outros, isto, como é óbvio, se inseridos numa equipa evoluída, revolucionária, verdadeiramente moderna. Como este blogue nunca foi dado a mediocridades, e apesar de reconhecer que jogadores como Bruno Alves ou Pepe podem dar mais, no contexto actual, a uma equipa de futebol, visto que individualmente têm mais trunfos, defende-se que Zé Castro é melhor jogador, pois que ser melhor implica estar mais apto a jogar numa equipa mais exigente. Numa equipa a sério, cujo conceito de colectivo fosse rigorosamente aplicado, não tenho dúvidas que Zé Castro é francamente melhor jogador que qualquer um destes dois, pelo que, em termos absolutos, a minha preferência tem obrigatoriamente de ir para ele.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Os Melhores da Temporada

Fica, como é hábito no fim de cada campeonato, a selecção dos melhores desta temporada, na minha opinião...

Guarda-Redes: Beto
Defesa Direito: Fucile
Defesa Esquerdo: Alonso
Defesas Centrais: Sidnei e Daniel Carriço
Médio-defensivo: Fernando
Médios-ofensivos: Lucho Gonzalez e Izmailov
Extremos: Reyes e Rodriguez
Avançado: Lisandro Lopez

Treinador: Jorge Jesus

Suplentes:

Guarda-Redes: Bracalli
Defesa Direito: Vasco Fernandes
Defesa Esquerdo: Tiago Pinto
Defesas Centrais: Rodriguez e Bruno Alves
Médio-defensivo: Katsouranis
Médio-ofensivos: Hugo Leal e Pablo Aimar
Extremos: Vukcevic e Fábio Coentrão
Avançados: Nené

Treinador: Jesualdo Ferreira