terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Certezas (21)

Quando apareceu, compararam-no imediatamente a Theo Walcott, mas depressa me pareceu que a comparação requeria ajuste considerável. Como apareceu a jogar numa posição semelhante, mais avançado e junto à linha, e como fazia uso da velocidade como Walcott, não tiveram dúvidas em relação ao rótulo. Antes mesmo de o ver jogar, torci o nariz, precisamente por causa da comparação. Mas, ao vê-lo, percebi que não era apenas o que Walcott é, um jogador veloz e mortífero quando se apanha com espaço, mas sim alguém de toque mais curto, mais refinado tecnicamente, e sobretudo mais imaginativo. A evolução que a sua curta carreira foi tendo comprovou as minhas suspeitas: tratava-se de um atleta fadado para outras coisas e para outra posição no terreno. A sua colocação na zona central foi para mim óbvia, essencialmente porque a sua capacidade para inventar requeria a problematização que o centro do terreno oferece. Faltava perceber, apenas, se conseguia juntar à criatividade e à capacidade de improvisação a frieza e a natureza cerebral de um médio centro clássico. Este ano, apareceu precisamente a jogar no meio-campo, não como médio-ofensivo que é, mas como médio recuado, numa posição em que se lhe exige que seja mais cerebral e menos mágico. Confesso que não é aí que me parece que possa ser extraordinário, não necessariamente por ser fisicamente débil e pouco fiável no choque, mas porque nessa posição a sua criatividade não é verdadeiramente posta à prova. Desembaraça-se com facilidade e empresta ao jogo da sua equipa uma fluidez notável, fruto da sua qualidade com bola e da sua inteligência, mas acaba por não estar tantas vezes em zonas densamente povoadas e acaba por não estar sujeito tantas vezes a problemas que exijam soluções de dificuldade acrescida. O seu crescimento, porque a sua capacidade actual assim o exige, deveria passar por uma posição central, sim, mas mais avançada no terreno, mais junto dos avançados e mais metido dentro do bloco adversário, obrigado a jogar mais vezes entre linhas e menos de trás para a frente. É vítima, por isso, do problema do duplo-pivot do qual Wenger tarda em libertar-se. O seu pé esquerdo e a sua imaginação são, porém, demasiado grandes para que possa vir a cair no esquecimento e, dentro de um ou dois anos, Jack Wilshere será certamente um dos nomes maiores do futebol inglês.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Só para alguns

Por que é que o Barcelona de Guardiola é a melhor equipa da História do Futebol? Porque consegue, pode e dá-se ao luxo de fazer coisas como esta. Quem for capaz de perceber a relação causal entre este lance e o que é este Barcelona está no bom caminho para perceber o que de tão distinto representa esta equipa. Não é o caso de quem comentava o jogo na televisão, que achou que o pontapé para o ar de Abidal foi a coisa mais sensata de toda aquela aventura suicida.